São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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BIA ABRAMO

MTV faz versão pop de "reality show"

Com problemas juvenis modestos, "Quebra-Galho" tem tom mais leve e divertido

É CURIOSO que, no mundo do hiperconsumo, as pessoas se sintam tão desamparadas para decidir o que e como consumir. Curioso, mas num certo sentido, compreensível: uma vez que o consumo joga um papel decisivo na definição das identidades (diga-me o que compras e te direi quem és), errar nesse terreno é muito arriscado.
É nessa espécie de imaturidade -no sentido de que a constituição de uma identidade pessoal e autônoma é, ou era, uma das tarefas do crescimento psíquico- que se baseiam os "realitys" do tipo "resolvemos sua vida". São um sucesso: a televisão, como uma mãe generosa, solícita e de bolsa aberta, está aí para ajudar, qualquer que seja o tamanho de seu problema.
A MTV acaba de estrear uma versão pop desse tipo de "reality show". Chama-se "Quebra-Galho" e ajuda seus participantes a realizarem pequenos desejos - "quero acampar", "quero fazer um book", "quero ir a uma balada com o Nxzero" e por aí vai. A MTV designa um "especialista -os há para qualquer galho, acreditem se quiser- e uma verba de R$ 50 para gastar.
A modéstia dos problemas e exigüidade de dinheiro, além da extrema juventude de seus participantes, dão um tom mais leve e divertido ao "reality show" da MTV. Mas também é tudo de uma bobagem que resvala o non - sense: por que será que essa meninada não consegue fazer o que quer? Por que será que o mundo é tão complicado? De onde vem tanta insegurança e dependência?
A juventude, tal como a conhecíamos no passado, era o momento de correr riscos existenciais de várias espécies como uma forma de celebrar a independência e autonomia. Pelo jeito não é mais.
Esses meninos e meninas que aparecem na MTV querem risco zero.

 

Boninho, o diretor do "BBB" entrevistado por Laura Mattos domingo passado, acha que a crítica "insiste em desacreditar" o programa. Não é o que esta coluna observa: desde que o programa estreou, em 2002, não há edição que não receba pelo menos um comentário das colunas de TV, esta inclusive.
O problema é que a Globo, criada com a expectativa de monopólio eterno e na fantasia delirante da audiência de 100%, não entende que considerar o fenômeno relevante e, portanto, digno de atenção e reflexão, não é mesma coisa que "falar bem" ou "achar bom".
É típico: diante de qualquer observação crítica, as emissoras brandem números de audiência e o assunto está encerrado.


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