São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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Crítica

Precisão dramática é o trunfo de Bellocchio

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

É toda a questão da esquerda que se encontra em "Bom Dia, Noite" (TC Cult, 20h05): até que ponto pode alguém falar (e agir) pelos interesses de terceiros, de uma classe social?
Foi assim com as Brigadas Vermelhas, na Itália, por volta dos anos 70, quando seqüestraram e terminaram por matar Aldo Moro, personagem central da Democracia Cristã e mesmo da Itália do pós-guerra.
Não se pode dizer que as Brigadas se afundaram ali. Já estavam afundadas. O fato é que se passou, nesse momento, da política ao gangsterismo. E se o filme de Marco Bellocchio tivesse apenas um mérito, seria o de demonstrar com precisão dramática como essa passagem pode ocorrer sem que os implicados se dêem conta.
Bellocchio ambienta sua ação entre quatro paredes, na casa em que Moro está seqüestrado. Com isso, ele expõe o isolamento do grupo de militantes. Tudo o que têm é a força, um discurso "em nome de" (do proletariado) e uma TV.
Antes disso, às 17h, a HBO exibe "Encontros e Desencontros", o segundo filme de Sofia Coppola e, dos feitos por ela, o que me parece menos interessante. Mas, ainda assim, muito interessante: aqui temos a mulher deslocada no espaço, numa outra cultura, cujos hábitos e sons não consegue decifrar em nenhum nível. Não é tão diferente da Maria Antonieta de seu filme mais recente. Sofia é uma mulher com idéias. Mais: é uma autora, coisa cada vez mais rara.


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