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Crítica
Precisão dramática é o trunfo de Bellocchio
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
É toda a questão da esquerda
que se encontra em "Bom Dia, Noite" (TC Cult, 20h05): até
que ponto pode alguém falar (e
agir) pelos interesses de terceiros, de uma classe social?
Foi assim com as Brigadas
Vermelhas, na Itália, por volta
dos anos 70, quando seqüestraram e terminaram por matar
Aldo Moro, personagem central da Democracia Cristã e
mesmo da Itália do pós-guerra.
Não se pode dizer que as Brigadas se afundaram ali. Já estavam afundadas. O fato é que se
passou, nesse momento, da política ao gangsterismo. E se o
filme de Marco Bellocchio tivesse apenas um mérito, seria o
de demonstrar com precisão
dramática como essa passagem
pode ocorrer sem que os implicados se dêem conta.
Bellocchio ambienta sua
ação entre quatro paredes, na
casa em que Moro está seqüestrado. Com isso, ele expõe o
isolamento do grupo de militantes. Tudo o que têm é a força, um discurso "em nome de"
(do proletariado) e uma TV.
Antes disso, às 17h, a HBO
exibe "Encontros e Desencontros", o segundo filme de
Sofia Coppola e, dos feitos por
ela, o que me parece menos interessante. Mas, ainda assim,
muito interessante: aqui temos
a mulher deslocada no espaço,
numa outra cultura, cujos hábitos e sons não consegue decifrar em nenhum nível. Não é
tão diferente da Maria Antonieta de seu filme mais recente.
Sofia é uma mulher com idéias.
Mais: é uma autora, coisa cada
vez mais rara.
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