Gustavo Dudamel e Orquestra Jovem Simón Bolívar gravam Tchaikovski para prestigiado selo Deutsche Grammophon

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O mais festejado fenômeno da música erudita na atualidade vem da América do Sul. A Orquestra Sinfônica Jovem Simón Bolívar, da Venezuela, e seu jovem e carismático regente, Gustavo Dudamel, recebem aplausos e louvores por onde passam.
Em meio à já prolongada crise do mercado fonográfico, com um cenário em que os grandes selos cortam investimentos e reduzem lançamentos, orquestra e maestro têm o raro privilégio de gravar peças consagradas (e já vastamente registradas) do repertório para a mais badalada etiqueta clássica do planeta: a Deutsche Grammophon.
Eles estrearam na DG com as sinfonias nº 5 e nº 7 de Beethoven; visitaram a sinfonia nº 5 de Mahler; e, agora, chegam a outra importante quinta sinfonia: a do russo Piotr Ilitch Tchaikovski (1840-1893), em álbum gravado ao vivo, e complementado por "Francesca da Rimini", do mesmo compositor. Virou sucesso no YouTube o magnético concerto que a Simón Bolívar e Dudamel deram no megafestival BBC Proms, em Londres, em 2007, com os imberbes instrumentistas seguindo com a máxima atenção a batuta de regente, em um fazer musical eletrizante.
No CD dedicado a Tchaikovski, essa interação, se não pode ser visualizada, faz-se sentir a cada instante. A gigantesca sinfônica (96 cordas, 17 trompetes, e por aí vai) atinge uma assombrosa coesão estilística e timbrística, e parece responder ao comando de seu diretor musical com uma prontidão das mais espantosas. Isso sem falar na carga emocional, que transborda com a exacerbação retórica característica da estética do compositor russo.
Gravado ao vivo em Caracas, o impressionante álbum é dedicado a José Antonio Abreu, 69, professor de regência de Dudamel, que, em 1975, fundou El Sistema, a rede de educação musical do qual emergiu o badalado maestro.

Inclusão social
Chamado de Fundação do Estado para o Sistema Nacional de Orquestras Infantis e Juvenis da Venezuela, El Sistema é um mecanismo de inclusão social, que compreende um conjunto de mais de cem orquestras, atendendo a cerca de 250 mil jovens -em sua maioria, de baixa renda- em todo o país.
Prodigioso caso de continuidade em um continente caracterizado pela instabilidade política, econômica e social, El Sistema chamou de verdade a atenção do resto do planeta quando suas fileiras começaram a revelar músicos de primeira linha para o mundo todo. Caso, por exemplo, de Edicson Ruiz, 23, um empacotador de supermercado abandonado pelo pai que, depois de passar pelo programa, tornou-se o mais jovem contrabaixista da Filarmônica de Berlim, aos 17 anos. E de Gustavo Dudamel, que, aos 28, teve uma ascensão que não seria exagero chamar de meteórica.
Diretor musical da Filarmônica de Los Angeles, Dudamel já atuou como convidado à frente das filarmônicas de Berlim, Viena, Nova York e Israel, além de reger ópera no Scala de Milão. Um currículo desses já faz dele um dos maiores astros da regência na atualidade, e, se você ainda não conhece seu trabalho, esse disco de Tchaikovski representa oportunidade a não ser perdida.