São Paulo, quarta-feira, 08 de abril de 2009

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MÚSICA

Samba domina segundo disco de Mariana Aydar

Em "Peixes Pássaros Pessoas", paulistana tenta fugir do estilo, mas não consegue

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

A ótima recepção a seu primeiro CD, "Kavita 1", custou a Mariana Aydar o que ela chama de "dois tipos de preconceito".
O primeiro foram comentários de que seu sucesso estava impulsionado por uma estratégia de marketing montada pela publicitária Bia Aydar. "Imagina se, com tanta coisa para fazer, minha mãe ainda teria tempo de gerenciar a minha carreira!", incomoda-se.
O segundo veio de moderninhos de São Paulo que reclamavam de ela cantar samba. "Eles acham que gravar samba é careta. Você pode ser influenciada por Bob Dylan, mas não por Elis Regina e Clara Nunes", diz Mariana, 28.
"Peixes Pássaros Pessoas", seu novo disco, quase foi feito sob o signo da irritação com os moderninhos. Por não gostar de rótulos, pensou em não gravar nenhum samba. Mas as músicas que foram chegando eram, em boa parte, sambas. "Foi inevitável. Não seria verdadeiro [evitar o gênero], pois me emociona muito", diz.
Já no final da montagem do repertório, Duani, coprodutor do CD (com Kassin) e seu companheiro na vida, apareceu com "O Samba me Persegue", que resume essa paixão, com canja de Zeca Pagodinho.
Aconteceu, enfim, o que Caetano Veloso escreve no release: "O samba domina o álbum -sem fazer deste um disco de sambas". E também é Caetano, no texto, quem traduz o pensamento de Mariana, paulista que diz se irritar com certos costumes culturais locais: "O Brasil nunca se curará do seu antigo ensimesmamento forçando um olhar só para fora de si".
"E ele já mostrou isso na tropicália. E já houve a Semana de 22. É estranho, porque São Paulo é tão cosmopolita... Mas, quando o samba começa de novo a conquistar alguma popularidade, você já ouve que ele é careta. É uma besteira, porque somos contemporâneos, é um outro tempo. Está na hora de isso mudar", desabafa ela.
Também tem xotes o disco de Mariana, que começou como cantora de forró. E todas as músicas são de autores sem grande fama -das também intérpretes Luisa Maita e Roberta Sá ao núcleo de Romulo Fróes, Clima e Nuno Ramos, passando pela própria Mariana, que assina Kavita, seu apelido. Foi uma opção premeditada: em vez do apanhado de influências do primeiro CD, um caminho "mais radical", de só gravar contemporâneos.
"Existe uma nova geração de ótimos cantores, compositores, técnicos, roadies, cada um tem a sua mensagem e, em comum, o amor pela música brasileira."
Com exceção de "Teu Amor É Falso", Mariana evitou canções de amor, preferindo temas mais gerais, como criação ("Palavras Não Falam"), amizade ("Aqui em Casa") e o "enjaulamento" do homem hoje ("Peixes"). "Já há muitas canções falando de amor, mas é dessa ilusão de que o amor vai mudar toda sua vida, e aí você valoriza o outro e esquece de você."


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