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MÚSICA
Samba domina segundo disco de Mariana Aydar
Em "Peixes Pássaros Pessoas", paulistana tenta fugir do estilo, mas não consegue
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
A ótima recepção a seu primeiro CD, "Kavita 1", custou a
Mariana Aydar o que ela chama
de "dois tipos de preconceito".
O primeiro foram comentários de que seu sucesso estava
impulsionado por uma estratégia de marketing montada pela
publicitária Bia Aydar. "Imagina se, com tanta coisa para fazer, minha mãe ainda teria
tempo de gerenciar a minha
carreira!", incomoda-se.
O segundo veio de moderninhos de São Paulo que reclamavam de ela cantar samba. "Eles
acham que gravar samba é careta. Você pode ser influenciada por Bob Dylan, mas não por
Elis Regina e Clara Nunes", diz
Mariana, 28.
"Peixes Pássaros Pessoas",
seu novo disco, quase foi feito
sob o signo da irritação com os
moderninhos. Por não gostar
de rótulos, pensou em não gravar nenhum samba. Mas as músicas que foram chegando
eram, em boa parte, sambas.
"Foi inevitável. Não seria verdadeiro [evitar o gênero], pois
me emociona muito", diz.
Já no final da montagem do
repertório, Duani, coprodutor
do CD (com Kassin) e seu companheiro na vida, apareceu
com "O Samba me Persegue",
que resume essa paixão, com
canja de Zeca Pagodinho.
Aconteceu, enfim, o que Caetano Veloso escreve no release:
"O samba domina o álbum
-sem fazer deste um disco de
sambas". E também é Caetano,
no texto, quem traduz o pensamento de Mariana, paulista que
diz se irritar com certos costumes culturais locais: "O Brasil
nunca se curará do seu antigo
ensimesmamento forçando um
olhar só para fora de si".
"E ele já mostrou isso na tropicália. E já houve a Semana de
22. É estranho, porque São
Paulo é tão cosmopolita... Mas,
quando o samba começa de novo a conquistar alguma popularidade, você já ouve que ele é
careta. É uma besteira, porque
somos contemporâneos, é um
outro tempo. Está na hora de
isso mudar", desabafa ela.
Também tem xotes o disco
de Mariana, que começou como cantora de forró. E todas as músicas são de autores sem grande fama -das também intérpretes Luisa Maita e Roberta Sá ao núcleo de Romulo Fróes, Clima e Nuno Ramos, passando pela própria Mariana, que assina Kavita, seu apelido. Foi uma opção premeditada: em vez do apanhado de influências do primeiro CD, um caminho "mais radical", de só
gravar contemporâneos.
"Existe uma nova geração de
ótimos cantores, compositores,
técnicos, roadies, cada um tem
a sua mensagem e, em comum,
o amor pela música brasileira."
Com exceção de "Teu Amor
É Falso", Mariana evitou canções de amor, preferindo temas
mais gerais, como criação ("Palavras Não Falam"), amizade
("Aqui em Casa") e o "enjaulamento" do homem hoje ("Peixes"). "Já há muitas canções falando de amor, mas é dessa ilusão de que o amor vai mudar toda sua vida, e aí você valoriza o
outro e esquece de você."
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