São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2010

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Exposição revela um novo olhar sobre as favelas

Mostra na Casa Brasileira reúne estudiosos em torno do tema; reurbanização substituiu erradicação desses espaços

Mudança na forma de encarar as favelas começou no Rio, na década de 60; exposição terá ainda uma visita guiada a Paraisópolis

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há mais arquitetos de renome fazendo obras em favelas de São Paulo do que em qualquer outra área da cidade. De Ruy Ohtake a Marcelo Ferraz, do escritório Piratininga ao Elemental, do Chile, todos têm projetos em áreas que não têm esgoto nem rua.
O fenômeno pode ser visto como um comentário sobre o conservadorismo do mercado imobiliário. Mas a principal novidade parece estar na outra ponta: as favelas paulistanas estão mudando.
Uma exposição que abre hoje no Museu da Casa Brasileira, "Cidades Informais do Século 21", traz algumas pistas dessas mudanças. Ela mescla o que a Prefeitura de São Paulo mostrou na Bienal de Roterdã, na Holanda, com debates. O italiano Bernardo Secchi, um dos mais influentes estudiosos do urbanismo, e o americano Alfredo Brillembourg, que tornou-se conhecido por implantar teleférico num morro de Caracas, debaterão com brasileiros como Sérgio Magalhães, que atuou no mais bem-sucedido programa brasileiro nessa área, o Favela-Bairro, no Rio (veja a programação completa em www.mcb.org.br). Erradicação de favela, ação que PT, PSDB e Paulo Maluf apoiavam, virou palavrão. A nova ordem é reurbanizar. "O olhar do arquiteto sobre a favela mudou. A ideia da exposição é convidar o público a mudar esse olhar também", diz Marisa Barda, curadora da mostra.
Para ajudar a quebrar o preconceito, uma van sairá, às quartas-feiras, do museu para uma visita guiada à favela de Paraisópolis, no Morumbi. Paraisópolis é a favela paulistana que recebeu a segunda maior dotação de recursos da prefeitura, de R$ 400 milhões, logo atrás de Heliópolis (R$ 430 milhões).

Crise do modernismo
Magalhães tem dados históricos que apontam que essa mudança na forma de encarar as favelas começou no Rio de Janeiro. Em 1968, a prefeitura do Rio urbanizou três favelas, segundo ele, a partir de ideias do economista e arquiteto Carlos Nelson Ferreira dos Santos (1943-1989): Brás de Pina, Mata Machado e Morro União.
O projeto de Carlos Nelson gerou em 1994 o Favela-Bairro.
Como ocorre hoje em São Paulo, a remoção só é feita quando a casa está em área de risco ou no caminho de uma nova rua.
O programa pioneiro de 1968 e o Favela-Bairro marcam o fim da influência do modernismo na urbanização, que previa um modelo único de cidade e encarava a favela como um desvio a ser corrigido, na visão de Magalhães. A própria paisagem do Rio, segundo ele, explica por que foi lá que a diversidade urbanística das favelas começou a ser aceita no país.
Em São Paulo, a crise do urbanismo modernista demorou mais tempo para empurrar bons arquitetos para as favelas.
O arquiteto Fernando de Melo Franco, do escritório MMBB, cita duas razões para esse descompasso: 1) o urbanismo paulistano só se preocupou com o trânsito por causa da ênfase na produção; 2) os que atuavam em favelas estavam mais ocupados com organização política do que com projetos. "Em São Paulo, a experiência em favelas era a política de mutirões, de organizar a população pelos canteiros de obra. E aí você pensa pouco em urbanismo."


CIDADE INFORMAL DO SÉCULO 21

Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h; até 9/5
Onde: Museu da Casa Brasileira (av. Faria Lima, 2.705, tel. 0/xx/11/3032-3727)
Quanto: R$ 4; grátis dom. e feriados




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