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Exposição revela um novo olhar sobre as favelas
Mostra na Casa Brasileira reúne estudiosos em torno do tema; reurbanização substituiu erradicação desses espaços
Mudança na forma de encarar as favelas começou no Rio, na década de 60; exposição terá ainda uma visita guiada a Paraisópolis
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há mais arquitetos de renome fazendo obras em favelas de
São Paulo do que em qualquer
outra área da cidade. De Ruy
Ohtake a Marcelo Ferraz, do
escritório Piratininga ao Elemental, do Chile, todos têm
projetos em áreas que não têm
esgoto nem rua.
O fenômeno pode ser visto
como um comentário sobre o
conservadorismo do mercado
imobiliário. Mas a principal novidade parece estar na outra
ponta: as favelas paulistanas estão mudando.
Uma exposição que abre hoje
no Museu da Casa Brasileira,
"Cidades Informais do Século
21", traz algumas pistas dessas
mudanças. Ela mescla o que a
Prefeitura de São Paulo mostrou na Bienal de Roterdã, na
Holanda, com debates. O italiano Bernardo Secchi, um dos
mais influentes estudiosos do
urbanismo, e o americano Alfredo Brillembourg, que tornou-se conhecido por implantar teleférico num morro de
Caracas, debaterão com brasileiros como Sérgio Magalhães,
que atuou no mais bem-sucedido programa brasileiro nessa
área, o Favela-Bairro, no Rio
(veja a programação completa
em www.mcb.org.br).
Erradicação de favela, ação
que PT, PSDB e Paulo Maluf
apoiavam, virou palavrão. A
nova ordem é reurbanizar. "O
olhar do arquiteto sobre a favela mudou. A ideia da exposição
é convidar o público a mudar
esse olhar também", diz Marisa
Barda, curadora da mostra.
Para ajudar a quebrar o preconceito, uma van sairá, às
quartas-feiras, do museu para
uma visita guiada à favela de
Paraisópolis, no Morumbi.
Paraisópolis é a favela paulistana que recebeu a segunda
maior dotação de recursos da
prefeitura, de R$ 400 milhões,
logo atrás de Heliópolis (R$
430 milhões).
Crise do modernismo
Magalhães tem dados históricos que apontam que essa
mudança na forma de encarar
as favelas começou no Rio de
Janeiro. Em 1968, a prefeitura
do Rio urbanizou três favelas,
segundo ele, a partir de ideias
do economista e arquiteto Carlos Nelson Ferreira dos Santos
(1943-1989): Brás de Pina, Mata Machado e Morro União.
O projeto de Carlos Nelson
gerou em 1994 o Favela-Bairro.
Como ocorre hoje em São Paulo, a remoção só é feita quando
a casa está em área de risco ou
no caminho de uma nova rua.
O programa pioneiro de 1968
e o Favela-Bairro marcam o fim
da influência do modernismo
na urbanização, que previa um
modelo único de cidade e encarava a favela como um desvio a
ser corrigido, na visão de Magalhães. A própria paisagem do
Rio, segundo ele, explica por
que foi lá que a diversidade urbanística das favelas começou a
ser aceita no país.
Em São Paulo, a crise do urbanismo modernista demorou
mais tempo para empurrar
bons arquitetos para as favelas.
O arquiteto Fernando de Melo
Franco, do escritório MMBB,
cita duas razões para esse descompasso: 1) o urbanismo paulistano só se preocupou com o
trânsito por causa da ênfase na
produção; 2) os que atuavam
em favelas estavam mais ocupados com organização política
do que com projetos. "Em São
Paulo, a experiência em favelas
era a política de mutirões, de
organizar a população pelos
canteiros de obra. E aí você
pensa pouco em urbanismo."
CIDADE INFORMAL DO SÉCULO 21
Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h;
até 9/5
Onde: Museu da Casa Brasileira (av.
Faria Lima, 2.705, tel. 0/xx/11/3032-3727)
Quanto: R$ 4; grátis dom. e feriados
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