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CINEMA/RÉPLICA
Não li e não gostei
ANDRÉ STURM
ESPECIAL PARA A FOLHA
Existe um paradoxo na Ilustrada. Um dos melhores cadernos culturais do país, que fala
sobre os mais variados assuntos e
que tem dado excelente cobertura
ao cinema brasileiro, em particular. Só nos últimos dois meses, pelo menos quatro capas foram para
filmes ainda em produção. Repórteres e críticos viajam para cobrir os principais eventos.
Mas, há cerca de seis meses, surgiu um "especialista" encarregado de fazer "críticas" dos filmes
nacionais que estréiam. E o que
espanta é a postura desses escritos. Não possuo estatística exata,
mas em geral os filmes recebem
bola preta ou quatro estrelas.
Filmes unânimes, inatacáveis,
recebem cotação máxima. A quase todos os outros resta a bola preta. Por que esse rigor exagerado?
Em março, reparei que havia
quatro filmes bola preta -três
brasileiros. Parece-me uma desproporção muito grande. O cinema brasileiro não é tão pior que os
outros. Como em qualquer cinematografia, há os filmes ótimos,
os bons, os razoáveis, os fracos e
os péssimos. Por que brasileiros
são tratados com maniqueísmo?
Têm de ser ótimos, sob a ameaça
de serem atirados à vala comum
da bola preta. Não se trata de pedir condescendência ou tolerância. Mas tratamento equânime.
O pior é que, não satisfeito com
o maniqueísmo na avaliação, esse
jornalista tem o hábito de destruir
os filmes, seus diretores e as pessoas envolvidas. Grosserias, chacotas, trocadilhos infames e ofensas são marcas registradas.
E o curioso é que ele se dedica
exclusivamente ao cinema brasileiro. Por que não "critica" filmes
estrangeiros? Seria talvez porque
os envolvidos na produção desses
filmes não lerão seus escritos e,
portanto, ele não atingiria seu objetivo principal, o de incomodar?
Porque só pode ser esse o desejo
motor. No dia 26, "Sonhos Tropicais" foi a bola preta da vez. Fui
avisado do teor das palavras do
"especialista" e, como não tenho
vocação para masoquista, não
perdi tempo lendo as ofensas dedicadas a meu filme e a mim.
Não vou ocupar esse espaço defendendo minha obra. Diversos
jornalistas dedicaram espaço para
a análise séria do filme. Mas é hora de dar um basta a essa violência
gratuita. Como pode alguém escrever frases como: "É desde já
candidato a pior filme do ano"
(em janeiro). Ou: "Fulano só não
é o pior ator do mundo porque
não é ator". Isso para citar duas
grosserias de que me lembro de
cabeça. Isso não é jornalismo. Humilha pessoas, não informa e não
combina com o estilo da Ilustrada, pluralista e democrático.
André Sturm é cineasta e diretor de
"Sonhos Tropicais"
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