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TELEVISÃO
Com direção de Ninho Moraes, jornalista estréia nas madrugadas, tentando trazer substância ao cenário atual
Programa explora versatilidade de Gabi
ESTHER HAMBURGER
CRÍTICA DA FOLHA
Aécio Neves nasceu em 10
de março de 1960. É do signo
de peixes, com ascendente em escorpião. Posou de coração de pelúcia vermelho em punho para uma foto "lambe-lambe" digital a
ser enviada a um ente querido. Separado, o deputado elegeu sua filha como destinatária do mimo
que faz o momento relax de "De
Frente com Gabi", o promissor
programa de Marília Gabriela,
que volta à TV aberta no SBT.
O programa estréia em momento em que a conjuntura político-econômica-eleitoral está aquecida, em tom parecido com narrativas de seriados melodramáticos.
Mercados econômicos e financeiros se comportam de maneira cada vez mais subjetiva, movidos
por especulações sobre o futuro
econômico dos países, que, por
sua vez, obedecem a eventos voláteis. Denúncias provocam escândalos, que abalam mercados, que
mudam previsões, que sinalizam
melhoras ou pioras econômicas.
Candidatos administram suas
carreiras segundo índices de opinião, esses indicadores flutuantes
e imprevisíveis, que servem no
entanto de bússola. Governantes
se guiam por critérios semelhantes. E o jogo de imagens, que define o que é e o que não é notícia, o
que merece e o que não merece visibilidade, vai se tornando dimensão estratégica. Nesse contexto, o
programa oferta ao convidado
seu mapa astral, um instrumento
de navegação tão ou mais confiável nos instáveis tempos atuais.
"Talk shows" são vitrines para
políticos, artistas, esportistas. Palcos privilegiados para propaganda de um novo CD, uma peça de
teatro etc. Servem também à veiculação de campanhas eleitorais.
O desafio está em ir além dessa
exposição quase institucional,
provocando novas perspectivas.
Desde seus tempos de âncora
do "TV Mulher", Gabi se afirmou
como jornalista versátil, capaz de
dominar uma variedade de assuntos, penetrar o universo do
entrevistado e a partir de lá provocar depoimentos que tragam
novidade. Olho no olho com o
convidado, pode ir além do mero
"revelar segredos de pessoas famosas" -como alardeia o anúncio do programa, a la revista "Caras"- e provocar polêmica. Como outros trabalhos da apresentadora, o programa tem direção
de Ninho Moraes e é um alívio.
Maquiagem discreta, cenários
em tons cinza, um convidado no
estúdio e um convidado linkado
via satélite -presença virtual
através de monitor de cristal líquido. A atmosfera é limpa, simples e direta. Câmeras no teto e
em movimento procuram escrutinar ângulos inusitados.
O programa estreou quente,
aproveitando entrevistas agendadas anteriormente com Aécio Neves, no estúdio, e Pedro Simon,
via satélite de Brasília, para tratar
do assunto político da semana: as
denúncias de corrupção na privatização da Vale do Rio Doce.
Gabi foi simpática e, até certo
ponto, reverente com "Aecinho",
que conhece de seus tempos de
secretário particular do avô Tancredo. Deixa que o jovem herdeiro mostre sua faceta de político
ofensivo, empenhado em restaurar o respeito por instituições desgastadas. Mas questiona o aumento recente das tarifas de energia elétrica, uma consequência de
erros de avaliação e planejamento
do governo e das empresas privatizadas, pelo qual o contribuinte
acabou -para variar- pagando.
Em tempos de "reality shows",
carregados de futilidade, "De
Frente com Gabi" não dispensa o
coração de pelúcia, mas pode trazer substância. Mais uma vez
competindo com Jô, Gabi talvez
estimule o concorrente, outro interlocutor habilitado, a sintonizar
questões seculares que o Brasil
hesita em enfrentar. Ou a trazer à
tona novos paradoxos, inspirados
por transformações recentes.
De Frente com Gabi
Quando: de seg. a sex., por volta de
0h30 (após o "Jornal do SBT"), no SBT
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