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São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2003

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Empresa produtora de grandes musicais investe em peças de Juca de Oliveira e Chico Buarque

Esperando "Chicago"

Divulgação
Cena do musical "Chicago", sucesso na Broadway em 1975 e que deve ganhar versão nacional em 2004


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto "Chicago", o musical da vez, não vem, um Brasil caipira e suburbano ganha a linha de frente na produção teatral da Corporación Interamericana de Entretenimiento (CIE).
Uma comédia inédita de Juca de Oliveira e a remontagem de um musical de Chico Buarque, quem diria, são os novos projetos da CIE Brasil, subsidiária do grupo mexicano que catalisa a área de shows e espetáculos na América Latina (é dona do Credicard Hall em São Paulo e do ATL Hall no Rio de Janeiro, por exemplo).
Três anos atrás, o mineiro Gabriel Villela montou "Ópera do Malandro", outro musical de Buarque, em parceria com Paulo Pontes. Apresentado no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), como que reivindicava uma brasilidade frente à ostentação dos musicais importados da Broadway americana, sempre versados em português, fenômeno que ocorre em São Paulo desde 1999.
Pela primeira vez, desde então, textos nacionais ganham a boca de cena sob a sigla das três letrinhas que ergueram o Teatro Abril e atraem, inclusive, espectadores de outros Estados ou do interior paulista -parceria com agências de turismo- para superproduções como "A Bela e a Fera", em cartaz no bairro da Bela Vista.
A dramaturgia local desponta em prosa com "A Flor do Meu Bem-Querer", de Oliveira ("Caixa 2"), sob encenação de Naum Alves de Souza; e num musical, "Suburbano Coração", com canções de Buarque e texto do mesmo Souza, empreitada da dupla carioca Cláudio Botelho e Charles Möeller ("Company").
Ambos os espetáculos estréiam no Teatro Cultura Artística, na região central, respectivamente em julho e setembro deste ano.
Em "A Flor do Meu Bem-Querer", Oliveira volta a cutucar a corrupção moral e política no país. Conta a história de um senador, candidato à Presidência, que precisa vender sua fazenda para fazer caixa na campanha, mas encontra resistência da família do caipira que trabalha ali.
"Suburbano Coração", que foi encenada pela primeira vez em 1985, trata das desilusões amorosas de Lovemar, moça romântica, movida pela fantasia do cinema.
"Tínhamos preocupação em atuar também com o teatro nacional. Não queríamos ficar restritos a importar musicais da Broadway", diz o presidente da CIE Brasil, Fernando Altério, 50. Nos últimos quatro anos, a empresa montou "Rent", "Aí Vem o Dilúvio", "O Beijo da Mulher Aranha", "Les Misérables" e "A Bela e a Fera".
Segundo o diretor da divisão de teatro da CIE Brasil, Jorge Takla, 51, a realização de peças nacionais complementa a formação de um mercado profissional gerado pelas últimas superproduções. A ponto de "exportar" artistas para a produção alemã de "O Rei Leão", que abre audição no país.
"Pessoalmente, acho que os textos brasileiros têm a mesma importância das peças da Broadway. O que é bom é bom, o que é ruim é ruim. A gente tem muita coisa ruim aqui, e eles têm lá também. Nosso critério é a qualidade", afirma Takla. Sobre "Chicago", ele confirma que o título substituirá "A Bela e a Fera", mas não se sabe quando. É mais provável que a estréia aconteça em 2004. "É um espetáculo extremamente elaborado, de difícil execução, que exige uma qualidade muito apurada dos bailarinos e cantores", diz.
O espetáculo concebido pelo coreógrafo americano Bob Fosse (1927-87), sucesso da Broadway em 1975, sobre duas mulheres que revivem na prisão seus crimes passionais, na Chicago com seus gângsteres dos anos 20, ganhou versão para cinema no ano passado, por Rob Marshall, e levou seis Oscar. No palco, diz Takla, são 30 intérpretes, mais 20 músicos no fosso da orquestra. A mais recente montagem da CIE para "Chicago" encerrou temporada há cerca de cinco meses no México.
A multinacional reveza produções entre a capital mexicana, Buenos Aires, São Paulo e Madri. Depois de "Chicago", o musical mais cotados para o Teatro Abril é "O Homem de La Mancha", adaptação do "Dom Quixote" do espanhol Miguel de Cervantes (estreou na Broadway em 1965).
"A única maneira de viabilizar esses espetáculos é pensar nesse mercado de quatro ou cinco países e temporadas de sete, oito anos", diz Takla. Ao contrário das capitais de língua espanhola, os musicais em português têm mais dificuldades para circular.
Segundo Altério, a produção brasileira de "Chicago" é orçada em US$ 1,7 milhão. Sobre as novas montagens de textos nacionais o diretor diz que elas estão em fase de pré-produção e não é possível estimar os investimentos.
Otimista quanto ao recuo da cotação do dólar em relação ao real, que o deixou preocupado no final de 2002, Altério espera que a CIE Brasil repita o desempenho do ano passado. Deixa escapar que são 5% a mais no faturamento, mas não revela valores.


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