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São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2003

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TEATRO

Desde a estréia, em 8/4, montagem foi vista por 15 mil pessoas; ressalvas têm a ver com temática e uso de espaço público

Artistas tecem críticas a musical "Grease", em SP

PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

O fato de ser realizado num teatro público, o Sérgio Cardoso, pertencente ao governo do Estado de São Paulo, e a sua temática "importada" têm rendido a "Grease" restrições por parte de componentes da classe teatral. Realização brasileira a partir de um texto norte-americano sobre a juventude dos anos 50, o musical já arrebanhou, desde o dia 8/4, segundo a sua produção, uma platéia de 15 mil pessoas.
"Diante da terra arrasada que é hoje a cultura no país, com a ausência de políticas culturais claras, os espaços públicos e mesmo os privados precisam fomentar produções artísticas e não um reconhecido entretenimento enlatado", diz a cenógrafa e pesquisadora Márcia de Barros, 43, integrante do movimento Arte contra a Barbárie e membro do grupo de trabalho que redigiu a proposta de lei para o Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.
Para o ator e diretor Hugo Possolo, 40, que viu o espetáculo e afirma apreciar a referência que a trama faz à sua adolescência -"Grease" foi sucesso cinematográfico em 1978- a ressalva tem a ver com a escolha do repertório.
"Acho que todo o mundo tem direito de ocupar o espaço público. Por outro lado, me deixa frustrado que haja a reprodução de modelos de fora, quando a gente tem um teatro musical brasileiro de tradição fortíssima, que acaba não sendo realizado."
"Nosso teatro musical não tem uma cara. O que há é parecido com o teatro alemão de Brecht, Kurt Weill. Porque não tem formato americano e de entretenimento, ninguém o critica", diz José Pando, 35, um dos produtores da peça, patrocinada pelo Banco Volkswagen e pela Consigaz.
Para ele, o uso do teatro público beneficia a população. "Isso ajuda, por exemplo, a praticar o preço que praticamos [seu ingresso mais caro custa R$ 60; entradas para a "A Bela e a Fera", da CIE, variam de R$ 40 a R$ 150]."
"O Sérgio Cardoso é um teatro de 862 lugares, presta-se a grandes montagens, de qualidade técnica. "Grease" preenche essas qualificações", afirma Wladimir Soares, 57, diretor do espaço.
Segundo ele, o espetáculo "tapa um buraco da programação". Não foi fechada para o período a apresentação prevista da remontagem de "Caixa 2", de Juca de Oliveira. "Grease", que faz seis sessões semanais, encerra temporada no teatro Sérgio Cardoso no dia 29/6 e ainda não tem outro teatro acertado. O investimento na realização do musical ficou em torno de R$ 1,5 milhão.


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