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CRÍTICA
Rapper expia culpa e conversa com consciência
LULIE MACEDO
EDITORA DO GUIA DA FOLHA
A consciência do malandro pesou. E ele fez um
disco para expiar a culpa.
Três anos depois de procurar
pela batida perfeita -e de recolher os dividendos dos milhares vendidos-, Marcelo D2
encontra-se exatamente onde o
hip hop está hoje: entre o desejo de fazer dinheiro e a preservação dos ideais de uma cultura que surgiu para representar
as ruas. Marcelo Maldonado e
o rap estão entre a cruz e a caldeirinha.
O caso do primeiro é mais fácil de solucionar -o do segundo seria muita pretensão. Da
amizade com bambas aos botecos da Lapa, de shows na Daslu
a incursões pelo underground,
D2 aprendeu que, se quisesse
manter algum grau de autenticidade, teria de transitar de um
universo para outro sem perder o que carrega de genuíno.
Há quem não acredite nessa
possibilidade, mas com "Meu
Samba É Assim" ele parece ter
conseguido uma terceira via.
O samba-rap está lá, intacto.
Mas talvez seja adequado inverter a ordem. É rap-samba. A
levada de Marcelo está mais
solta, pausada; as bases do DJ
Primo, mais bem construídas.
D2 se aproximou do hip hop
-sem abandonar Baden Powell, João Donato, Pagodinho.
No item participações especiais, ele trocou Will.I.Am, do
Black Eyed Peas, por Chali Tuna, do Jurassic 5. Diga-me com
quem andas...
A conversa com a própria
consciência não é piração interpretativa. Está lá, explícita,
em "(Um Filme) Malandragem": "É isso o que tu quer pra
tua vida parceiro? / Fumar um,
tirar onda, encher o bolso de
dinheiro?". Só que as letras ainda mancam. Apesar de algumas tiradas, faltam vocabulário
e idéias mais bem encadeadas,
preocupação permanente de
bons MCs.
O pior defeito de D2, no entanto, é não ter concorrência. É
ser o único rapper brasileiro
com passe livre pela indústria e
direito a "ter uma condição",
como ele diz. A mistura de rap
com samba já deu certo, é sabido. E que não é só ele o responsável pela alquimia, também
(salve, Rappin" Hood). Não se
trata de medir talento. Mas de
abrir caminho para a profissionalização de outros tantos moleques e meninas que também
observam a vida com uma caneta na mão.
Meu Samba É Assim
Artista: Marcelo D2
Lançamento: Sony BMG
Quanto: R$ 30, em média
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