São Paulo, segunda-feira, 08 de maio de 2006

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CRÍTICA

Rapper expia culpa e conversa com consciência

LULIE MACEDO
EDITORA DO GUIA DA FOLHA

A consciência do malandro pesou. E ele fez um disco para expiar a culpa.
Três anos depois de procurar pela batida perfeita -e de recolher os dividendos dos milhares vendidos-, Marcelo D2 encontra-se exatamente onde o hip hop está hoje: entre o desejo de fazer dinheiro e a preservação dos ideais de uma cultura que surgiu para representar as ruas. Marcelo Maldonado e o rap estão entre a cruz e a caldeirinha.
O caso do primeiro é mais fácil de solucionar -o do segundo seria muita pretensão. Da amizade com bambas aos botecos da Lapa, de shows na Daslu a incursões pelo underground, D2 aprendeu que, se quisesse manter algum grau de autenticidade, teria de transitar de um universo para outro sem perder o que carrega de genuíno. Há quem não acredite nessa possibilidade, mas com "Meu Samba É Assim" ele parece ter conseguido uma terceira via.
O samba-rap está lá, intacto. Mas talvez seja adequado inverter a ordem. É rap-samba. A levada de Marcelo está mais solta, pausada; as bases do DJ Primo, mais bem construídas. D2 se aproximou do hip hop -sem abandonar Baden Powell, João Donato, Pagodinho. No item participações especiais, ele trocou Will.I.Am, do Black Eyed Peas, por Chali Tuna, do Jurassic 5. Diga-me com quem andas...
A conversa com a própria consciência não é piração interpretativa. Está lá, explícita, em "(Um Filme) Malandragem": "É isso o que tu quer pra tua vida parceiro? / Fumar um, tirar onda, encher o bolso de dinheiro?". Só que as letras ainda mancam. Apesar de algumas tiradas, faltam vocabulário e idéias mais bem encadeadas, preocupação permanente de bons MCs.
O pior defeito de D2, no entanto, é não ter concorrência. É ser o único rapper brasileiro com passe livre pela indústria e direito a "ter uma condição", como ele diz. A mistura de rap com samba já deu certo, é sabido. E que não é só ele o responsável pela alquimia, também (salve, Rappin" Hood). Não se trata de medir talento. Mas de abrir caminho para a profissionalização de outros tantos moleques e meninas que também observam a vida com uma caneta na mão.


Meu Samba É Assim
   
Artista:
Marcelo D2
Lançamento: Sony BMG
Quanto: R$ 30, em média



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