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Análise
Livro de Jeffrey Archer apresenta Judas como herói da crítica histórica
Obra é competente e atualiza o processo de "humanização de Cristo"
LUIZ FELIPE PONDÉ
ESPECIAL PARA A FOLHA
A indústria (da crítica)
cultural continua a devorar o cristianismo.
Definido como elemento da
"cultura" (nome fantasia para o
fetiche moderno que ficou no
lugar do conhecimento), o cristianismo poderá ser dilacerado
pelas novas teologias políticas,
pela demanda de um Jesus
mais "quântico", enfim, pela
"democratização das sensibilidades e dos saberes". É possível
que em mil anos o cristianismo
antigo tenha desaparecido, e no
seu lugar reste uma mistura de
um Judas reabilitado, passando
pelas formas variadas de teologias adaptadas ao mercado, desaguando gloriosamente num
Barrabás do terceiro mundo.
O fenômeno "Jesus por R$
1,99 avança": o baixo custo não
pode ser apenas econômico,
deve ser também existencial.
Os excessos da democracia encontram na verdade do marketing sua sociologia gêmea. Não
acho que a chamada "grande
teologia" ou a crítica exegética
(histórica e científica) estejam
a salvo desse processo: grande
parte dos profissionais da área
não percebe a sintonia entre as
banalidades da indústria cultural e a indústria da crítica bíblica. O "novo Judas" do "The
Gospel According to Judas by
Benjamim Iscariot", de Jeffrey
Archer, apresenta Judas como
um herói da crítica histórica:
chegará a hora em que, imitando a sensibilidade "libertária"
de nossa época, reabilitaremos
Judas "cientificamente".
O formato do livro é competente. Se "O Código Da Vinci"
prestava o serviço de devolver o
"justo" lugar da mulher como
principal herdeira e reprimida
na mensagem cristã "verdadeira" (barateando as releituras da
teologia feminista), "o novo Judas" atualiza o processo de "humanização de Cristo". Judas
não traiu Jesus, pelo contrário,
percebeu com clareza que ele
não era o Messias e que seria
assassinado e quis defendê-lo.
Judas é que foi traído pela "elite" do templo. Boatos gregos
inventaram esse negócio de Jesus-Deus e de ressurreição. O
texto final, narrado por Judas a
seu filho Benjamim, é uma colagem de trechos dos evangelhos oficiais com trechos da novidade "histórica". Na sua velhice como um dos essênios, em
suas cavernas no Mar Morto,
40 anos depois, o Judas pai se
emociona ao lembrar quando
viveu ao lado do Galileu. Preso
pelos romanos, na revolta judaica final, sua morte foi igual à
de Jesus, crucificado. Amém.
LUIZ FELIPE PONDÉ é filósofo, professor da
pós-graduação em ciências da religião da PUC-SP e da faculdade de comunicação da Faap. É autor de, entre outros títulos, "O Homem Insuficiente" (Edusp)
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