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Pintura de castas é uma das atrações
CELSO FIORAVANTE
enviado especial à Cidade do México
De espanhol
com índia, se
produz mestiço.
De mestiço com
índia, se produz
cholo. De índio
com negra, se
produz lobo. De lobo com negra,
se produz chinês. De chinês com
índia, se produz cambujo.
Foi assim, com uma série de termos um tanto quanto insólitos,
que, no século 18, uma escola pictórica tipicamente mexicana, a
"pintura de castas", tentou explicar a diversidade étnica e a formação da identidade mexicana.
A mostra entra no núcleo histórico da Bienal, entre 4 de outubro
e 13 de dezembro, no segmento
dedicado aos séculos 16, 17 e 18,
que tem curadoria dos historiadores de arte Ana Maria Belluzzo e
Jean François Chougnet. O segmento trabalhará ainda com obras
de Eckhout, Staden, Léry e outros.
Por todas as suas especificidades, deve ser um dos grandes sucessos do evento, embora ainda
esteja correndo risco, já que, assim como a Sala Siqueiros, ainda
não conta com patrocinador.
A pintura de castas era uma tentativa, bastante maniqueísta, de
configurar uma árvore genealógica da mestiçagem e de formular
um painel de seus costumes.
As castas -resultado da mistura
de etnias- eram o grupo social
menos privilegiado do México colonial. Não tinham acesso a cargos
administrativos, políticos, eclesiásticos ou militares. Marginalizados, viviam geralmente de trabalhos pesados ou do banditismo.
A pintura de castas era, de certa
forma, uma ode à essa mistura de
raças, mas também uma forma de
perpetuar os preconceitos da época.
A pintura de castas foi, em sua
maioria, produzida por artistas
anônimos, mas que também encontrou representantes conceituados, como José de Páez e Miguel
Cabrera.
São telas que geralmente trazem
a mesma configuração familiar: o
pai, a mãe e o filho, devidamente
identificados por legendas. Funcionam como crônicas de costumes da época, uma vez que reproduzem com detalhes e absoluto refinamento os alimentos, vestuários, profissões, hábitos, objetos,
paisagens e arquitetura locais.
Os preconceitos se manifestam
na maneira de retratar esses costumes. As uniões em que um dos pares é espanhol, por exemplo, trazem em sua maioria cenas idílicas
e de harmonia. Já as cenas com negros ou índios podem ser extremamente violentas, com brigas de
casal e crianças chorando.
O preconceito aparece também
ao se utilizar nomes de animais,
como lobo e coiote, para designar
castas resultantes da reunião de
índio com negra e índio com mestiça, respectivamente.
Trata-se de uma tentativa de
classificação e organização da sociedade em termos pseudo-científicos e civilizados, mas que carrega
em si segundas intenções ao criar
uma matemática genética obtusa,
em que um mais um produz "menos que um".
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