São Paulo, sexta, 8 de maio de 1998

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Festa em Nova Orleans

Carlos Calado/Folha Imagem
Membros de uma banda de rua de Nova Orleans preparam-se para desfilar



Festival de jazz da cidade chega à 29ªedição e reúne cerca de 447 mil pessoas


CARLOS CALADO
enviado especial a Nova Orleans

Na platéia, hippies quarentões, caubóis ou até clones de Elvis Presley circulavam entre a garotada de bermudas, camisetas psicodélicas e chinelões. No ar, o cheiro de maconha misturava-se ao odor de frutos do mar fritos.
Essa era a primeira impressão de quem passeava entre os dez palcos e as inúmeras barracas do 29º New Orleans Jazz & Heritage Festival -encerrado no último domingo, na mais famosa cidade do Estado da Louisiana (EUA).
Mais do que um simples evento musical, o festival de Nova Orleans é uma grande festa realizada ao ar livre, uma feira colorida onde se consome muita cerveja, comidas típicas, peças de artesanato e doses cavalares de música.
Carlos Calado/Folha Imagem
Uma espectadora exibe tatuagem na região glútea


Essa metáfora é inevitável, já que o festival acontece dentro de um hipódromo -o Fair Grounds. Basta chover um pouco para que o mau cheiro dos detritos dos cavalos, cobertos pela terra, lembrem a todos exatamente onde estão.
Felizmente, ao contrário de outros anos, as condições climáticas ajudaram. Os adeptos dos costumeiros banhos de lama à Woodstock tiveram que se contentar em ficar estirados na grama, tomando comportados banhos de sol.
A ausência da chuva auxiliou o festival norte-americano a bater todos os seus recordes de público. Cerca de 447 mil pessoas passaram pelas bilheterias do Fair Grounds neste ano, superando os 418 mil pagantes da edição de 1996.
Atraída pela festa, além dos shows de Walter Washington, Irma Thomas, Lonnie Brooks, Snooks Eaglin, Jimmy Buffett e Better Than Ezra, a platéia do último sábado atingiu a marca de 98 mil pagantes. Até então, o recorde era de 91 mil pessoas em um único dia, registrado também em 96.
O mais curioso é que o festival de Nova Orleans não precisa recorrer a grandes nomes do universo pop-rock para reunir tanta gente. Os dias em que o "reggae boy" Ziggy Marley e os roqueiros Dave Matthews e Doobie Brothers se apresentaram não foram os mais procurados pelo público.
Na verdade, Nova Orleans tem um mercado musical muito variado e bem provido de artistas, que funciona quase de forma autônoma. Bandas locais, como BeauSoleil, The Iguanas ou Better Than Ezra são muito pouco conhecidas no resto dos EUA, mas têm grandes platéias na região.
Diferentemente de outros grandes festivais do gênero, que programam cada vez mais popstars para ampliar seu público, o New Orleans Jazz & Heritage Festival faz jus a seu título: cultua a tradição musical da Louisiana, sem ser reacionário ou folclorista.
Uma prova inegável da correção dessa política é a tenda dedicada ao gospel. Seja pelo concerto de um desconhecido coro de escola, seja pela apresentação de um astro do gênero, como a cantora Mavis Staples ou o grupo vocal Might Chariots of Fire, o espectador tem grandes chances de se emocionar. E de não querer mais sair dali.



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