São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2001

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

A banda Radiohead lança "Amnesiac", o lado B do "Kid A", que saiu em outubro

Kid B

MARCELO NEGROMONTE
DA REDAÇÃO

O iceberg laminado e pontiagudo do Radiohead começou a se mover em "Kid A" (2000), depois de ser magistralmente moldado em "OK Computer" (1997), um dos cinco melhores álbuns dos anos 90, uns dos dez álbuns mais lindos da história. Agora "Amnesiac" revela a base desse iceberg em forma de ostra em que o quinteto de Oxford está enclausurado. "No alarms and no surprises."
O quinto álbum do grupo formado por Thom Yorke, Jonny e Colin Greenwood, Ed O'Brien e Phil Selway chegou às lojas de quase todo o mundo esta semana e sufoca. A timidez, introspeção e beleza líricas de Yorke soam como um pedido de ajuda.
Que, ao menos agora, conta com esquema promocional, diferentemente de "Kid A", lançado em outubro passado sem nenhum single, clipe ou turnê (leia abaixo). Agora há tudo isso, afinal é verão no hemisfério Norte.
O material de "Amnesiac" foi produzido durante as gravações de "Kid A", o que lhe confere um caráter lado B, se existisse lado em CD. Não há nada de mais palatável em "Amnesiac"; o rock ganha moldura esquizofrênica, esquecendo-se (às vezes) das guitarras e dos refrões. É mais escuro, doente e perturbado que "Kid A", que mal acabamos de digerir, ou qualquer álbum de rock deste século. É uma banda em transição.
Desde a aparentemente longínqua estréia, em "Pablo Honey" (1993), o Radiohead disse a que veio e, principalmente, porque veio. O inconformismo ("Eu sou um esquisito, o que estou fazendo aqui? Não sou daqui", cantava Yorke em "Creep"), a ternura mórbida, a depressão e a tristeza embalsamada estavam lá, mesmo quando havia influência de Pixies.
Em "The Bends" (1995), o quinteto acenava com o que viria a ser em 2001 com "Amnesiac" na faixa-título: "Quero viver, respirar, quero fazer parte da raça humana". É Thom Yorke na essência.
Em "Kid A", "How to Disappear Completely" dava a chave, e canções de alto quilate como "Optimistic" e "Everything in Its Right Place" abriam as portas da catástrofe singela do Radiohead, que incorporou de vez o eletrônico, parceiro em "OK Computer".
"Eu sou um homem razoável", diz Yorke na abertura de "Amnesiac", "Packt like Sardines in a Crushd Tin Box" (título que sugere a claustrofobia de todo o álbum). O primeiro single desse disco, "Pyramid Song", ao som de piano, remete à desilusão de 1997 e é a mais pop do disco, sendo pop um conceito que a própria banda matou. Yorke aqui é lânguido.
A seguinte é "Pull/Pulk Revolving Doors". Voz processada, quase inaudível, que fala sobre tipos de portas e alçapão, "ao qual não se pode voltar". Experimentações sônicas à Aphex Twin ou DJ Shadow tornam essa a mais lado B do lado B. Bonita.
"Knives Out" é Radiohead como Radiohead em "No Surprise" ("no alarms and no surprises"). Os olhos de Yorke parecem não abrir nunca, numa batida leve, melodia doce, quase uma balada. E, sem surpresa, "Morning Bell", de "Kid A", é relida em "The Morning Bell/Amnesiac" ("acenda outra vela e me liberte"), mais lenta, sem bateria marcante.
O lado escuro do Radiohead parece levar ao tédio (ou incômodo). Então vem "Hunting Bears", só com sons de guitarra, num loop esquisito e dispensável.
Na verdade, o que se dizia de "Kid A" -como disco anticomercial- não faz sentido com "Amnesiac" se considerarmos este uma continuação daquele, restos que não foram, mas poderiam ter sidos utilizados ali. "Kid A" foi apenas o disco 1 lançado oito meses antes deste disco 2. Essa foi a maior sacada da banda. "No alarms and no surprises, please."


Amnesiac
  
Grupo: Radiohead
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 25, em média




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