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MÚSICA/LANÇAMENTOS
A banda Radiohead lança "Amnesiac", o lado B do "Kid A", que saiu em outubro
Kid B
MARCELO NEGROMONTE
DA REDAÇÃO
O iceberg laminado e pontiagudo do Radiohead começou a se mover em "Kid A"
(2000), depois de ser magistralmente moldado em "OK Computer" (1997), um dos cinco melhores álbuns dos anos 90, uns dos
dez álbuns mais lindos da história. Agora "Amnesiac" revela a
base desse iceberg em forma de
ostra em que o quinteto de Oxford está enclausurado. "No
alarms and no surprises."
O quinto álbum do grupo formado por Thom Yorke, Jonny e
Colin Greenwood, Ed O'Brien e
Phil Selway chegou às lojas de
quase todo o mundo esta semana
e sufoca. A timidez, introspeção e
beleza líricas de Yorke soam como um pedido de ajuda.
Que, ao menos agora, conta
com esquema promocional, diferentemente de "Kid A", lançado
em outubro passado sem nenhum single, clipe ou turnê (leia
abaixo). Agora há tudo isso, afinal
é verão no hemisfério Norte.
O material de "Amnesiac" foi
produzido durante as gravações
de "Kid A", o que lhe confere um
caráter lado B, se existisse lado em
CD. Não há nada de mais palatável em "Amnesiac"; o rock ganha
moldura esquizofrênica, esquecendo-se (às vezes) das guitarras e
dos refrões. É mais escuro, doente
e perturbado que "Kid A", que
mal acabamos de digerir, ou qualquer álbum de rock deste século.
É uma banda em transição.
Desde a aparentemente longínqua estréia, em "Pablo Honey"
(1993), o Radiohead disse a que
veio e, principalmente, porque
veio. O inconformismo ("Eu sou
um esquisito, o que estou fazendo
aqui? Não sou daqui", cantava
Yorke em "Creep"), a ternura
mórbida, a depressão e a tristeza
embalsamada estavam lá, mesmo
quando havia influência de Pixies.
Em "The Bends" (1995), o quinteto acenava com o que viria a ser
em 2001 com "Amnesiac" na faixa-título: "Quero viver, respirar,
quero fazer parte da raça humana". É Thom Yorke na essência.
Em "Kid A", "How to Disappear
Completely" dava a chave, e canções de alto quilate como "Optimistic" e "Everything in Its Right
Place" abriam as portas da catástrofe singela do Radiohead, que
incorporou de vez o eletrônico,
parceiro em "OK Computer".
"Eu sou um homem razoável",
diz Yorke na abertura de "Amnesiac", "Packt like Sardines in a
Crushd Tin Box" (título que sugere a claustrofobia de todo o álbum). O primeiro single desse
disco, "Pyramid Song", ao som de
piano, remete à desilusão de 1997
e é a mais pop do disco, sendo pop
um conceito que a própria banda
matou. Yorke aqui é lânguido.
A seguinte é "Pull/Pulk Revolving Doors". Voz processada,
quase inaudível, que fala sobre tipos de portas e alçapão, "ao qual
não se pode voltar". Experimentações sônicas à Aphex Twin ou
DJ Shadow tornam essa a mais lado B do lado B. Bonita.
"Knives Out" é Radiohead como Radiohead em "No Surprise"
("no alarms and no surprises").
Os olhos de Yorke parecem não
abrir nunca, numa batida leve,
melodia doce, quase uma balada.
E, sem surpresa, "Morning Bell",
de "Kid A", é relida em "The Morning Bell/Amnesiac" ("acenda
outra vela e me liberte"), mais lenta, sem bateria marcante.
O lado escuro do Radiohead parece levar ao tédio (ou incômodo). Então vem "Hunting Bears",
só com sons de guitarra, num
loop esquisito e dispensável.
Na verdade, o que se dizia de
"Kid A" -como disco anticomercial- não faz sentido com
"Amnesiac" se considerarmos este uma continuação daquele, restos que não foram, mas poderiam
ter sidos utilizados ali. "Kid A" foi
apenas o disco 1 lançado oito meses antes deste disco 2. Essa foi a
maior sacada da banda. "No
alarms and no surprises, please."
Amnesiac
Grupo: Radiohead
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 25, em média
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