São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Curador argentino cita o crítico brasileiro Mario Pedrosa para defender caráter palatável da exposição

Basualdo afirma que mostra é exercício de liberdade

DO ENVIADO A KASSEL

O curador argentino Carlos Basualdo, que vive em Nova York, é um apaixonado pela arte brasileira, conhece a fundo os textos do crítico Mario Pedrosa e já organizou várias mostras com artistas do país, como "Hélio Oiticica: Quasi Cinemas", que foi vista no ano passado em Colônia e é inaugurada agora em julho no New Museum de Nova York.
Basualdo é também um dos seis curadores adjuntos da Documenta de Kassel e conversou, com exclusividade, anteontem, com a Folha, sobre as principais características da mostra alemã. Leia a seguir os melhores trechos.
(FABIO CYPRIANO)

Folha - Pelo seu envolvimento com o Brasil, foi sua a seleção de Artur Barrio e Cildo Meireles para a Documenta 11?
Carlos Basualdo -
Na seleção dos artistas, as decisões foram todas compartilhadas. A lista foi fruto de uma conversa muito intensa. Não posso dizer que Cildo e Barrio foram escolhas minhas, mas sim de toda a equipe curatorial.

Folha - O caráter transnacional da arte, apontado por Okwui Enwezor, não é uma característica antiga na arte latino-americana, já que nossos artistas sempre estiveram em trânsito?
Basualdo -
Penso que sim. A mobilidade é uma caracterísitca contemporânea, mas é uma característica da modernidade latino-americana também. Nossas modernidades são sempre dialógicas, itinerantes, de exílio. Brasileiros e argentinos compartilhamos essa identidade do viajante. Contudo o que para nós foi tão fundamental é agora uma condição universal, e a Documenta tentar recuperar essa dimensão.

Folha - Você acredita que o pós-colonialismo, também enfatizado por Enwezor, chega a ser uma questão fundamental na América Latina?
Basualdo -
Acho que não devemos entender pós-colonialismo num sentido restrito. O que ele quer dizer é um ponto de vista no qual a experiência pós-colonial afetou o mundo inteiro.
Por exemplo, é importante levar em conta que os movimentos de 68 na Europa foram inspirados pelos movimentos de libertação no Terceiro Mundo. Até mesmo a Teologia da Libertação ou a experiência de Cuba inspiraram a filosofia européia. Assim, há um inter-relacionamento permanente. E o trabalho da Documenta é tentar construir uma geografia complexa do mundo da cultura e da política.

Folha - Esse discurso altamente acadêmico não pode inibir visitantes leigos a conhecer a exposição, já que a arte, segundo os curadores, supõe um pressuposto demasiadamente complexo?
Basualdo -
É uma boa pergunta. Depois de Duchamp, a arte tem uma relação com o pensamento. Tudo está aqui para ser visto, mas pensado também. Não é necessário ler uma enciclopédia para ver os trabalhos. Eu acho que a arte tem uma relação com o pensamento, mas pensamento entendido como falava Mario Pedrosa de "exercício experimental da liberdade", não como pensamento apenas erudito.



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