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ARTES PLÁSTICAS
Curador argentino cita o crítico brasileiro Mario Pedrosa para defender caráter palatável da exposição
Basualdo afirma que mostra é exercício de liberdade
DO ENVIADO A KASSEL
O curador argentino Carlos Basualdo, que vive em Nova York, é
um apaixonado pela arte brasileira, conhece a fundo os textos do
crítico Mario Pedrosa e já organizou várias mostras com artistas
do país, como "Hélio Oiticica:
Quasi Cinemas", que foi vista no
ano passado em Colônia e é inaugurada agora em julho no New
Museum de Nova York.
Basualdo é também um dos seis
curadores adjuntos da Documenta de Kassel e conversou, com exclusividade, anteontem, com a
Folha, sobre as principais características da mostra alemã. Leia a
seguir os melhores trechos.
(FABIO CYPRIANO)
Folha - Pelo seu envolvimento
com o Brasil, foi sua a seleção de
Artur Barrio e Cildo Meireles para a
Documenta 11?
Carlos Basualdo - Na seleção dos
artistas, as decisões foram todas
compartilhadas. A lista foi fruto
de uma conversa muito intensa.
Não posso dizer que Cildo e Barrio foram escolhas minhas, mas
sim de toda a equipe curatorial.
Folha - O caráter transnacional da
arte, apontado por Okwui Enwezor, não é uma característica antiga na arte latino-americana, já que
nossos artistas sempre estiveram
em trânsito?
Basualdo - Penso que sim. A mobilidade é uma caracterísitca contemporânea, mas é uma característica da modernidade latino-americana também. Nossas modernidades são sempre dialógicas, itinerantes, de exílio. Brasileiros e argentinos compartilhamos
essa identidade do viajante. Contudo o que para nós foi tão fundamental é agora uma condição universal, e a Documenta tentar recuperar essa dimensão.
Folha - Você acredita que o pós-colonialismo, também enfatizado
por Enwezor, chega a ser uma
questão fundamental na América
Latina?
Basualdo - Acho que não devemos entender pós-colonialismo
num sentido restrito. O que ele
quer dizer é um ponto de vista no
qual a experiência pós-colonial
afetou o mundo inteiro.
Por exemplo, é importante levar
em conta que os movimentos de
68 na Europa foram inspirados
pelos movimentos de libertação
no Terceiro Mundo. Até mesmo a
Teologia da Libertação ou a experiência de Cuba inspiraram a filosofia européia. Assim, há um inter-relacionamento permanente.
E o trabalho da Documenta é tentar construir uma geografia complexa do mundo da cultura e da
política.
Folha - Esse discurso altamente
acadêmico não pode inibir visitantes leigos a conhecer a exposição,
já que a arte, segundo os curadores, supõe um pressuposto demasiadamente complexo?
Basualdo - É uma boa pergunta.
Depois de Duchamp, a arte tem
uma relação com o pensamento.
Tudo está aqui para ser visto, mas
pensado também. Não é necessário ler uma enciclopédia para ver
os trabalhos. Eu acho que a arte
tem uma relação com o pensamento, mas pensamento entendido como falava Mario Pedrosa de
"exercício experimental da liberdade", não como pensamento
apenas erudito.
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