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LITERATURA
Tido como maior poeta popular brasileiro, trovador terá primeira edição consistente e nacional de sua obra
Aos 93, Patativa ganha, enfim, o Brasil
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Sua poesia furou da seca do sertão, atravessou décadas e décadas
afiada como espinho de mandacaru, mas nunca venceu a aridez
do mercado editorial brasileiro.
Aos 93 anos, adoentado e recolhido aos limites de sua casa estreita no interior do Ceará, Patativa do Assaré se prepara para ganhar pela primeira vez uma edição consistente de sua obra.
A partir de outubro, a editora
paulistana Hedra passa a publicar
o que pretende ser a poesia completa do trovador nordestino.
A mesma casa editorial que vem
publicando a bem-sucedida Biblioteca do Cordel, que já deu
roupagem contemporânea e visibilidade para 14 cordelistas, já tem
nas algibeiras quatro títulos da bibliografia rareada e regional do
grande poeta popular brasileiro.
Coordenada pelo professor Gilmar de Carvalho, da Universidade Federal do Ceará (UFC), a "Biblioteca Patativa" prevê a revisão
meticulosa dos textos arados sobre os territórios não tão precisos
da oralidade e da memória. Cada
volume ganhará também um prefácio feito por algum pesquisador
do trabalho do poeta de Assaré.
O primeiro título a ser reeditado, durante a Bienal do Livro de
Fortaleza, será aquele que Patativa primeiro trouxe à luz. "Inspiração Nordestina", lançado em 1956
pela acanhada editora Borsói, do
Rio de Janeiro, vai ganhar sua primeira distribuição nacional.
Os poemas e cordéis serão prefaciados por Silvana Militão, professora da UFC que acaba de defender mestrado sobre Antônio
Gonçalves da Silva, nome com o
qual nasceu o poeta, "em uma
sexta-feira de lua cheia".
Na sequência, vem "Ispinho e
Fulô", o livro mais político do
poeta, segundo Gilmar de Carvalho. "Nesse trabalho ele fala de
Antônio Conselheiro, do Beato
José Lourenço, verseja a reforma
agrária", diz o organizador, que
escalou Cláudio Andrade, professor da Unip, para o prefácio.
"Aqui Tem Coisa", publicado só
em 1994, pela Secretaria da Cultura do Ceará, será o terceiro fruto
da colheita. Tadeu Feitora, literalmente doutor em Patativa, apresenta o livro de versos.
Em negociações adiantadas está
a publicação de "Novos Poemas
Comentados", livro organizado
por J. Figueiredo Filho. Lançado
no início da década de 70 pelo
pesquisador da cidade do Crato, o
trabalho reúne uma longa entrevista com poemas então inéditos
de Patativa. "São poemas dos
quais ele gosta muito", diz Carvalho, autor de um perfil biográfico
do poeta, lançado pela Edições
Demócrito Rocha, e do livro "Patativa, Poeta Pássaro", que acaba
de ser relançado pela Omni, ambas editoras do Ceará.
O pesquisador atribui o redescobrimento da obra de Patativa
ao "cansaço do leitor pela imposição de produtos do "mainstream'". "Existe hoje uma busca
por uma dicção mais artesanal, o
interesse por outras falas e leituras
da realidade", diz o pesquisador.
"Acreditamos na força da poesia popular, e o Patativa é hoje o
grande nome dessa poesia", completa Cláudia Pinheiro, editora da
Hedra, que tem a coleção Biblioteca do Cordel como "carro-chefe". Editados com cores cítricas,
os livrinhos já tinham o volume
de Patativa como o best seller.
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