São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

Texto Anterior | Índice

LITERATURA

Tido como maior poeta popular brasileiro, trovador terá primeira edição consistente e nacional de sua obra

Aos 93, Patativa ganha, enfim, o Brasil

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sua poesia furou da seca do sertão, atravessou décadas e décadas afiada como espinho de mandacaru, mas nunca venceu a aridez do mercado editorial brasileiro.
Aos 93 anos, adoentado e recolhido aos limites de sua casa estreita no interior do Ceará, Patativa do Assaré se prepara para ganhar pela primeira vez uma edição consistente de sua obra.
A partir de outubro, a editora paulistana Hedra passa a publicar o que pretende ser a poesia completa do trovador nordestino.
A mesma casa editorial que vem publicando a bem-sucedida Biblioteca do Cordel, que já deu roupagem contemporânea e visibilidade para 14 cordelistas, já tem nas algibeiras quatro títulos da bibliografia rareada e regional do grande poeta popular brasileiro.
Coordenada pelo professor Gilmar de Carvalho, da Universidade Federal do Ceará (UFC), a "Biblioteca Patativa" prevê a revisão meticulosa dos textos arados sobre os territórios não tão precisos da oralidade e da memória. Cada volume ganhará também um prefácio feito por algum pesquisador do trabalho do poeta de Assaré.
O primeiro título a ser reeditado, durante a Bienal do Livro de Fortaleza, será aquele que Patativa primeiro trouxe à luz. "Inspiração Nordestina", lançado em 1956 pela acanhada editora Borsói, do Rio de Janeiro, vai ganhar sua primeira distribuição nacional.
Os poemas e cordéis serão prefaciados por Silvana Militão, professora da UFC que acaba de defender mestrado sobre Antônio Gonçalves da Silva, nome com o qual nasceu o poeta, "em uma sexta-feira de lua cheia".
Na sequência, vem "Ispinho e Fulô", o livro mais político do poeta, segundo Gilmar de Carvalho. "Nesse trabalho ele fala de Antônio Conselheiro, do Beato José Lourenço, verseja a reforma agrária", diz o organizador, que escalou Cláudio Andrade, professor da Unip, para o prefácio.
"Aqui Tem Coisa", publicado só em 1994, pela Secretaria da Cultura do Ceará, será o terceiro fruto da colheita. Tadeu Feitora, literalmente doutor em Patativa, apresenta o livro de versos.
Em negociações adiantadas está a publicação de "Novos Poemas Comentados", livro organizado por J. Figueiredo Filho. Lançado no início da década de 70 pelo pesquisador da cidade do Crato, o trabalho reúne uma longa entrevista com poemas então inéditos de Patativa. "São poemas dos quais ele gosta muito", diz Carvalho, autor de um perfil biográfico do poeta, lançado pela Edições Demócrito Rocha, e do livro "Patativa, Poeta Pássaro", que acaba de ser relançado pela Omni, ambas editoras do Ceará.
O pesquisador atribui o redescobrimento da obra de Patativa ao "cansaço do leitor pela imposição de produtos do "mainstream'". "Existe hoje uma busca por uma dicção mais artesanal, o interesse por outras falas e leituras da realidade", diz o pesquisador.
"Acreditamos na força da poesia popular, e o Patativa é hoje o grande nome dessa poesia", completa Cláudia Pinheiro, editora da Hedra, que tem a coleção Biblioteca do Cordel como "carro-chefe". Editados com cores cítricas, os livrinhos já tinham o volume de Patativa como o best seller.



Texto Anterior: Walter Salles: O elogio do amor, segundo Almodóvar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.