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Textos críticos serão reunidos em dois livros
DE SÃO PAULO
Peça daqui, peça dali, e o
ano parece armar-se como
um ano Rogério Sganzerla.
Graças ao Itaú Cultural,
"Sem Essa, Aranha", filmado
em 16 mm, deve ser, finalmente, transposto para a película de 35 mm -um sonho
que o diretor alimentava,
mas jamais viu realizar-se.
Graças à editora da Universidade Federal de Santa
Catarina, as críticas que o diretor escrevera serão, finalmente, editadas em livro.
No próximo dia 12 de julho, os textos serão lançados
numa caixa, com dois volumes. É que Sganzerla, além
de gostar de fazer cinema,
gostava de pensar e "escrever cinema".
"Nunca pensei em ser crítico. Sempre quis mesmo foi
dirigir. Mas gosto do que faço
porque, enquanto pude, fiz
cinema com a máquina de escrever. Não diferencio o escrever sobre cinema do escrever cinema", dizia.
As duas primeiras críticas
que fez se debruçavam sobre
"Os Cafajestes" (1962), de
Ruy Guerra, e "O Padre e a
Moça" (1966), de Joaquim Pedro de Andrade.
Seu interesse pelo cinema
era tamanho que, em 1967,
depois de ganhar um prêmio
com o curta "Documentário", usou o dinheiro do prêmio para fazer uma viagem
para a França e cobrir, como
crítico, o Festival de Cannes.
Apesar das reconhecidas
obsessões por Jean-Luc Godard, explicitamente citado
em "O Bandido da Luz Vermelha", e Orson Welles,
Sganzerla era, também, um
devoto -ainda que crítico-
do cinema brasileiro.
"O cinema brasileiro nasce
com Humberto Mauro, vive
com Nelson Pereira dos Santos, excita-se com Paulo César Saraceni, desespera-se
com Glauber Rocha e morre
com todos nós", escrevera.
Mas, ao mesmo tempo, era
capaz de desfiar seu ressentimento contra as vendas nos
olhos "culturais" que, a seu
ver, é uma marca do Brasil:
"Tratamos gênios como idiotas e pagamos o preço tratando idiotas como gênios".
Leitor que devorava, ao
mesmo tempo, Shakespeare
e HQs, Sganzerla acabou por
encontrar, na palavra, um refúgio para aquilo que não
conseguiu filmar.
(APS)
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