São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2010

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Textos críticos serão reunidos em dois livros

DE SÃO PAULO

Peça daqui, peça dali, e o ano parece armar-se como um ano Rogério Sganzerla.
Graças ao Itaú Cultural, "Sem Essa, Aranha", filmado em 16 mm, deve ser, finalmente, transposto para a película de 35 mm -um sonho que o diretor alimentava, mas jamais viu realizar-se.
Graças à editora da Universidade Federal de Santa Catarina, as críticas que o diretor escrevera serão, finalmente, editadas em livro.
No próximo dia 12 de julho, os textos serão lançados numa caixa, com dois volumes. É que Sganzerla, além de gostar de fazer cinema, gostava de pensar e "escrever cinema".
"Nunca pensei em ser crítico. Sempre quis mesmo foi dirigir. Mas gosto do que faço porque, enquanto pude, fiz cinema com a máquina de escrever. Não diferencio o escrever sobre cinema do escrever cinema", dizia.
As duas primeiras críticas que fez se debruçavam sobre "Os Cafajestes" (1962), de Ruy Guerra, e "O Padre e a Moça" (1966), de Joaquim Pedro de Andrade.
Seu interesse pelo cinema era tamanho que, em 1967, depois de ganhar um prêmio com o curta "Documentário", usou o dinheiro do prêmio para fazer uma viagem para a França e cobrir, como crítico, o Festival de Cannes.
Apesar das reconhecidas obsessões por Jean-Luc Godard, explicitamente citado em "O Bandido da Luz Vermelha", e Orson Welles, Sganzerla era, também, um devoto -ainda que crítico- do cinema brasileiro.
"O cinema brasileiro nasce com Humberto Mauro, vive com Nelson Pereira dos Santos, excita-se com Paulo César Saraceni, desespera-se com Glauber Rocha e morre com todos nós", escrevera.
Mas, ao mesmo tempo, era capaz de desfiar seu ressentimento contra as vendas nos olhos "culturais" que, a seu ver, é uma marca do Brasil: "Tratamos gênios como idiotas e pagamos o preço tratando idiotas como gênios".
Leitor que devorava, ao mesmo tempo, Shakespeare e HQs, Sganzerla acabou por encontrar, na palavra, um refúgio para aquilo que não conseguiu filmar. (APS)


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