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Mostra traz a face culta do cineasta popular
Ocupação segue a trilha de uma obra marcada por altos e baixos
Só em 2009 Sganzerla teve quatro mostras internacionais; no Brasil, o acesso a sua obra ainda é difícil
DE SÃO PAULO
Rogério Sganzerla (1946-2004) repetia que "um país
sem cinema é como um povo
sem eletricidade". Não sem
dificuldades, levou a cabo
seu cinema. Mas, exceção feita aos primeiros filmes, morreu sem conseguir fazer com
que as imagens chegassem,
de fato, ao povo.
"Ele achava que o Brasil
precisava de um cinema que
fosse popular e intelectual",
diz Joel Pizzini, um dos curadores da Ocupação.
Nos dois primeiros filmes,
"O Bandido da Luz Vermelha" (1968) e "A Mulher de
Todos" (1969), Sganzerla realizou sua utopia. Mas vieram
revezes. As luzes apagadas.
"Ele teve dois longos períodos sem filmar e, além disso, ficou com a obra dispersa", conta Pizzini. "Pela primeira vez, será feito um diagnóstico do acervo, um raio-x
de tudo que ele deixou."
A Ocupação reúne filmes
inacabados, como "O Anjo
Mijou Fora do Baralho", feito
na África, o roteiro inédito de
"Voodoo Chile", ao qual a
Folha teve acesso com exclusividade (leia análise do filme abaixo), anotações e uma
câmera Super-8.
O público percorrerá, assim, a vida do artista que até
os cinco anos não falava uma
só palavra e, aos sete, foi sozinho a uma gráfica para imprimir um livrinho com os
contos que escrevera.
PADRE CINÉFILO
Menino de gostos atípicos,
nascido em Joaçaba (SC),
Sganzerla aproximou-se do
cinema graças a um padre do
colégio Marista, em Florianópolis. Ao notar que o garoto
não tinha aptidão para os esportes, o religioso decidiu
encaminhá-lo para o cineclube. Era um jeito de evitar que
caísse em tentação.
Sganzerla caiu de amores
pelo cinema. Aos 15 anos, ao
mudar-se para São Paulo, virou rato da Cinemateca e, aos
16 anos, tornou-se crítico.
Mas, desde o primeiro momento, escrevia como quem
desejava, no fundo, filmar.
Foi assim que, em 1966, foi
para detrás das câmeras, no
curta de ficção "Documentário". Dois anos mais tarde,
conheceria o sucesso de público com "O Bandido...".
Viria depois "A Mulher de
Todos", feito com um produtor da Boca do Lixo paulistana. "O cinema novo diminuía
o valor dos filmes porque tiveram sucesso popular. A direita também não queria saber deles e ainda ameaçava a
gente de prisão", diz Helena
Ignez, sua mulher.
Sganzerla faria um terceiro filme, "Sem Essa, Aranha", em 1970, antes de exilar-se na África. Só voltaria
ao cinema em 1977, com "O
Abismo" -que lhe custou
um apartamento.
Parou de novo. Começou a
estudar arqueologia, literatura grega e fez curtas sobre
Jimmy Hendrix e Noel Rosa
até que fosse absorvido pela
paixão que o seguiu até o
fim: Orson Welles, o gênio
que o sistema havia calado.
"Ele sofria com a dificuldade econômica de se fazer cinema no Brasil, mas me parece que tinha também um certo cansaço com o que chamava de gosto médio", diz Pizzini. Agora, seu caos voltou.
Parcialmente restaurado. Razoavelmente organizado.
(ANA PAULA SOUSA)
OCUPAÇÃO ROGÉRIO
SGANZERLA
ONDE Itaú Cultural, av. Paulista,
149, tel. 0/xx/11/2168-1777
QUANDO ter. a sex., das 9h às 20h;
sáb. e dom., das 11h às 20h; até
18 de julho
QUANTO entrada franca
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