IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Música latina do século 20, alternado repertório original e transcrições imaginativas, tocadas com verve e senso de estilo: "Estampas", o mais recente CD do Quaternaglia, deixa-se ouvir repetidamente, e com muito gosto.
Criado em 1992, em São Paulo, o quarteto de violões já teve diversas formações. Na gravação de "Estampas" -que deve seu título a uma criação do espanhol Fernando Morreno Torroba (1891-1982)-, feita nos EUA em 2007, os integrantes são Fernando Lima, João Luiz, Fábio Ramazzina e Sidney Molina (crítico de música da Folha).
Variado e bem escolhido, o repertório mapeia as relações do Quaternaglia com diversos criadores. É de Sergio Abreu, membro de um legendário duo violonístico que causou furor internacional nas décadas de 1960 e 1970 (e respeitado fabricante de instrumentos) a bela instrumentação das "Bachianas Brasileiras nº 1", Villa-Lobos, que abre o disco.
Membro do duo de violões que pode ser considerado o sucessor do Duo Abreu, Sergio Assad é, por seu turno, o autor da vivaz "Uakarena", que fecha o trabalho.
No meio do caminho, está o frescor das "Três Danças Concertantes", obra de juventude do cubano Leo Brouwer, 70, um dos principais compositores para violão do século 20, com o qual o grupo vem desenvolvendo uma relação próxima.
No geral, as obras do disco dialogam todas, em maior ou menor grau, com as tradições populares de seus países, sem que isso signifique concessão no cuidado do acabamento ou na complexidade harmônico-rítmica.
É o que acontece, por exemplo, com a encantadora transcrição que João Luiz (membro do aclamando Brasil Guitar Duo) fez para as "Danzas Argentinas", originalmente escritas para piano solo pelo portenho Alberto Ginastera (1916-1983).
Essa obra tem toda a singeleza do folclore que foi a inspiração do compositor, sem deixar de mostrar a cada compasso, contudo, a solidez da formação e a maturidade da linguagem de um dos maiores criadores latino-americanos do século 20.