São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004

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O pulo do tigre

Divulgação
"Destino", produção de Walt Disney e Salvador Dalí que estará em exibição no 12º Anima Mundi


12ª edição do festival Anima Mundi, que começa amanhã no Rio de Janeiro, traz a Coréia do Sul como potência

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há décadas tida como mera figurante no cenário da animação internacional, a Coréia do Sul prepara-se para afiar as garras nesse promissor mercado do entretenimento. Na programação do 12º Anima Mundi, principal festival do gênero na América Latina, que começa amanhã no Rio de Janeiro, o país ocupa pela primeira vez um papel de destaque.
Além de duas sessões na mostra competitiva -na qual perde em número de filmes apenas para EUA, França, Canadá e Brasil, os donos da bola-, a Coréia do Sul estará presente com o longa-metragem "Dias Maravilhosos", de Kim Moon S., e com uma homenagem ao diretor veterano Lee Sung-gang, vencedor do grande prêmio do prestigiado festival de Annecy, em 2002.
Apenas como comparação, os filmes da novíssima potência asiática não somavam meia dúzia na edição do ano passado e menos ainda nas edições anteriores do festival brasileiro. Dessa vez, foram selecionados 45, dentre os 89 enviados para a produção.
"Estamos vendo uma verdadeira invasão coreana acontecendo nos principais festivais do mundo", diz César Coelho, 44, um dos diretores do Anima Mundi. "Até hoje a participação dela sempre havia sido discreta."
O pulo do tigre não vem acontecendo por acaso. Desde os anos 70 funcionando apenas como reserva de mão-de-obra barata para séries de desenhos encomendadas por Japão e Estados Unidos, principalmente, governo e empresários da Coréia do Sul resolveram, em meados da década de 90, incluir a animação entre as principais prioridades de sua economia cultural.
Após um período de vacas relativamente gordas, no início dos anos 90, quando Disney, Nickelodeon e Cartoon Network não cansavam de enviar produções para serem executadas nas centenas de estúdios coreanos, o país passou a investir na formação de sua própria e estratégica indústria de animação nacional, na qual estivessem contemplados todos os processos da criação dos desenhos -não apenas o trabalho "braçal", como havia muito vinha acontecendo.
Eventos específicos, como o Festival Internacional de Animação e Cartum de Seul, canais de televisão a cabo, isenção de impostos, sistemas de quotas para a produção nacional na TV, além de museus, prêmios de incentivo e cursos universitários ajudaram a criar, nos últimos anos, o cenário que agora vemos bater às portas do Anima Mundi.
Outro passo importante em seu "plano de dominação mundial" tem sido a tentativa de comercialização de longas-metragens no mercado internacional. Com orçamento de cerca de US$ 11 milhões, o épico futurista "Dias Maravilhosos", que será exibido no Anima, estreou nos Estados Unidos no final do ano passado diante de bastante expectativa. É que o coreano Peter Chung, diretor da série cult "Aeon Flux", já os havia deixado boquiabertos poucos anos antes.
A performance do longa nas bilheterias, no entanto, não agradou, e "Dias Maravilhosos" durou poucas semanas no disputadíssimo cartaz americano. O principal motivo, sugeriu o site Hollywood Reporter.com, foi a falta de um bom roteiro.
"A técnica dos coreanos é OK, mas eles não sabem nada sobre criação", afirmou à publicação especializada Nelson Shin, fundador de um dos maiores estúdios de animação da Coréia do Sul, o AKOM, que, entre outros, tem em sua carteira de clientes o seriado "Os Simpsons".
Coelho concorda: "O roteiro é o nó em todos os países que estão começando agora sua produção industrial, inclusive o Brasil. O apuro técnico dos coreanos é impressionante, mas o país ainda está descobrindo seus autores".

ANIMA MUNDI 2004. Rio de Janeiro. Quando: de 9 a 18 de julho. Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66, centro, tel. 0/xx/21/3808-2020), cinema Odeon (pça. Floriano, 7, centro, tel. 0/xx/21/2262-5089), Estação Botafogo (r. Voluntários da Pátria, 88, Botafogo, tel. 0/xx/21/2286-0893), Centro Cultural Correios (r. Visconde de Itaboraí, 20, centro, tel. 0/xx/21/2503-8770) e Casa França Brasil (r. Visconde de Itaboraí, 78, centro, tel. 0/xx/21/2253-5366). Quanto: de R$ 2 a R$ 4. São Paulo: quando: de 21 a 25 de julho. Onde: Fundação Bienal São Paulo (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5574-5922). Quanto: de R$ 1,50 a R$ 5. Veja programação e horários das sessões em www.animamundi.com.br. Patrocinador: Petrobras.


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