São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cineasta Todd Solondz, que vem ao Brasil, afirma que a turbulência política ajuda a conhecer o país

Bom dia, CRISE

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Todd Solondz, 45, é um sujeito diferente. Nasceu e vive nos Estados Unidos. E diz ser "fóbico" a respeito de norte-americanos.
Pertence à indústria do cinema -ainda que em sua ponta "independente"-, mas afirma ser influenciado mesmo pela TV.
Conhecido e respeitado no Brasil a partir de seu terceiro longa, "Felicidade" (1998), que foi seguido por "Storytelling" (2001), Solondz vem ao país neste mês.
O diretor é convidado do 7º Festival Internacional de Cinema de Brasília (20 a 31/7), onde exibe seu novo longa, "Palindromes".
O desajuste pessoal e social continua sendo o mote dos filmes do diretor, que enfoca desta vez os enfrentamentos de uma garota determinada a se tornar mãe -de qualquer maneira.
O aspecto sociológico do cinema de Solondz é um dos assuntos que ele aborda na entrevista a seguir. Afirma não ver motivos para deixar de acrescentar "o mal-estar na civilização" às histórias de seus personagens. E confessa: "Temo que meus filmes acabem sendo apenas EU e MEUS mal-estares".

 

Folha - O sr. vem ao Brasil quando o governo Lula enfrenta sua maior crise. Que interesse tem no país? O que espera encontrar em Brasília?
Todd Solondz -
É sempre mais interessante visitar um país quando ele está em crise, embora eu deva admitir que de certa maneira ignoro o que é esta crise.
Já estive no Rio, mas nunca fui a Brasília, que é a cidade sobre a qual tenho mais curiosidade.

Folha - Como o sr. se define? Aceita o rótulo de "cineasta independente, com obra ambiciosa"?
Solondz -
Eu não me defino. Deixo que os outros façam de mim o que quiserem, para o bem e para o mal. Na verdade, isso está fora do meu controle. Então, para que eu criaria este problema para mim? Dito isto, eu me vejo apenas como alguém que tenta fazer seu trabalho, se os outros deixarem...

Folha - É fato que o sr. levou muito tempo para filmar "Palindromes" porque não havia interesse de produtores norte-americanos?
Solondz -
É verdade que não havia norte-americanos interessados em investir no filme.

Folha - Seus longas dão a impressão de que o sr. filma sempre "o mal-estar na civilização". Há um desconforto que vai além dos problemas dos personagens. Gosta da idéia de um cinema sociológico?
Solondz -
Não sou sociólogo nem me vejo como intelectual. Sou um contador de histórias. Crio personagens e histórias que mexem comigo e, espero, com os outros também. Contudo, não vejo razões para deixar de explorar, ao mesmo tempo, o "mal-estar na civilização". Temo que meus filmes acabem sendo apenas EU e MEUS mal-estares.

Folha - Como sintetiza "Palindromes" e as razões por que o fez?
Solondz -
Para mim, é sempre um mistério por que aproximo a caneta do papel.

Folha - Desde a Guerra do Iraque, é recorrente fora dos EUA a idéia de que a América se transformou num país profundamente xenófobo. Qual é a sua opinião sobre essa tese e sobre o governo Bush?
Solondz -
Para um cineasta, não há material mais rico do que este. Porém, eu, um norte-americano, sempre fui fóbico a propósito de norte-americanos. Por isso, parece-me um pouco injusto da minha parte ser crítico com a xenofobia dos norte-americanos aos estrangeiros.

Folha - Qual é seu cineasta favorito? Sente-se influenciado por ele?
Solondz -
Não sei. Influência é algo engraçado. Creio que os cineastas que mais admiro têm pouca, se alguma, conexão com o que faço. Cresci assistindo a muita TV. Temo que a televisão é que tenha o maior impacto sobre o meu trabalho.


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Brasília mergulha no universo de "Garganta Profunda"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.