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Cineasta Todd Solondz, que vem ao Brasil, afirma que a turbulência política ajuda a conhecer o país
Bom dia, CRISE
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Todd Solondz, 45, é um sujeito
diferente. Nasceu e vive nos Estados Unidos. E diz ser "fóbico" a
respeito de norte-americanos.
Pertence à indústria do cinema
-ainda que em sua ponta "independente"-, mas afirma ser influenciado mesmo pela TV.
Conhecido e respeitado no Brasil a partir de seu terceiro longa,
"Felicidade" (1998), que foi seguido por "Storytelling" (2001), Solondz vem ao país neste mês.
O diretor é convidado do 7º Festival Internacional de Cinema de
Brasília (20 a 31/7), onde exibe seu
novo longa, "Palindromes".
O desajuste pessoal e social continua sendo o mote dos filmes do
diretor, que enfoca desta vez os
enfrentamentos de uma garota
determinada a se tornar mãe
-de qualquer maneira.
O aspecto sociológico do cinema de Solondz é um dos assuntos
que ele aborda na entrevista a seguir. Afirma não ver motivos para
deixar de acrescentar "o mal-estar
na civilização" às histórias de seus
personagens. E confessa: "Temo
que meus filmes acabem sendo
apenas EU e MEUS mal-estares".
Folha - O sr. vem ao Brasil quando
o governo Lula enfrenta sua maior
crise. Que interesse tem no país? O
que espera encontrar em Brasília?
Todd Solondz - É sempre mais
interessante visitar um país quando ele está em crise, embora eu
deva admitir que de certa maneira
ignoro o que é esta crise.
Já estive no Rio, mas nunca fui a
Brasília, que é a cidade sobre a
qual tenho mais curiosidade.
Folha - Como o sr. se define? Aceita o rótulo de "cineasta independente, com obra ambiciosa"?
Solondz - Eu não me defino. Deixo que os outros façam de mim o
que quiserem, para o bem e para o
mal. Na verdade, isso está fora do
meu controle. Então, para que eu
criaria este problema para mim?
Dito isto, eu me vejo apenas como
alguém que tenta fazer seu trabalho, se os outros deixarem...
Folha - É fato que o sr. levou muito tempo para filmar "Palindromes" porque não havia interesse
de produtores norte-americanos?
Solondz - É verdade que não havia norte-americanos interessados em investir no filme.
Folha - Seus longas dão a impressão de que o sr. filma sempre "o
mal-estar na civilização". Há um
desconforto que vai além dos problemas dos personagens. Gosta da
idéia de um cinema sociológico?
Solondz - Não sou sociólogo
nem me vejo como intelectual.
Sou um contador de histórias.
Crio personagens e histórias que
mexem comigo e, espero, com os
outros também. Contudo, não vejo razões para deixar de explorar,
ao mesmo tempo, o "mal-estar na
civilização". Temo que meus filmes acabem sendo apenas EU e
MEUS mal-estares.
Folha - Como sintetiza "Palindromes" e as razões por que o fez?
Solondz - Para mim, é sempre
um mistério por que aproximo a
caneta do papel.
Folha - Desde a Guerra do Iraque,
é recorrente fora dos EUA a idéia de
que a América se transformou num
país profundamente xenófobo.
Qual é a sua opinião sobre essa tese
e sobre o governo Bush?
Solondz - Para um cineasta, não
há material mais rico do que este.
Porém, eu, um norte-americano,
sempre fui fóbico a propósito de
norte-americanos. Por isso, parece-me um pouco injusto da minha parte ser crítico com a xenofobia dos norte-americanos aos
estrangeiros.
Folha - Qual é seu cineasta favorito? Sente-se influenciado por ele?
Solondz - Não sei. Influência é algo engraçado. Creio que os cineastas que mais admiro têm
pouca, se alguma, conexão com o
que faço. Cresci assistindo a muita TV. Temo que a televisão é que
tenha o maior impacto sobre o
meu trabalho.
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