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CINEMA/"CAIU DO CÉU"
Menino conversa com santos e divide fortuna com pobres em comédia do diretor de "Trainspotting"
Novo de Boyle funciona melhor visualmente
LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL
Danny Boyle já desenterrou
defuntos, em "Cova Rasa",
dividiu a seringa com junkies, em
"Trainspotting", tornou real um
amor impossível, em "Por uma
Vida Menos Ordinária", morou
em uma comunidade hippie, em
"A Praia", e infectou a humanidade com um vírus mortal, em "Extermínio". Agora, ele atende às
preces de um garotinho.
Isso mesmo, o diretor inglês, tido como a grande promessa do
cinema britânico nos anos 90, filma os delírios de um menino fascinado por santos em "Caiu do
Céu", seu primeiro longa que leva
escondido o decepcionante aposto "para toda a família".
A fantasia se passa a uma semana de o Reino Unido trocar de vez
as seguras libras esterlinas pelos
assustadores euros.
Ronnie (James Nesbitt) é o pai
viúvo dos garotos Damian (Alexander Nathan Etel), 7, e Anthony
(Lewis Owen McGibbon), 10.
Após se mudar para uma casa
em um bairro moderno e sem nenhum charme no subúrbio inglês,
Damian, aficionado por santos,
suas histórias e milagres, constrói
uma fortaleza de caixas de papelão ao lado dos trilhos do trem.
Mas a imaginação do garoto vai
bem além de seu talento como engenheiro, e ele passa a enxergar e
conversar com seus santos prediletos e a descobrir que sua sina é
mesmo ajudar os pobres.
O dinheiro para isso literalmente cai do céu: uma sacola cheia de
notas de libras desaba do nada em
cima do castelo de papel do protagonista. Damian acredita que ela
foi enviada por Deus.
Como ele e o irmão mais velho
administrarão a fortuna, que deve
ser usada antes que as libras deixem de ser aceitas, é o que amarra
a comédia, numa discussão que se
divide entre fazer o bem (ajudar
quem precisa) e o mal (adquirir
bens de consumo material).
O último filme de Boyle, "Extermínio", já mostrava uma certa
tendência para o melodrama ao
colocar na história de horror a
preocupação de um pai amoroso
com o bem-estar da filha.
Mas o maior problema aqui é
que ele não deixa clara sua posição sobre assuntos polêmicos e
centrais do filme: caridade, religiosidade e relação familiar.
Tudo bem que saber a intenção
exata do diretor em um filme não
é essencial, mas Boyle não apresenta argumentos nem deixa dúvidas necessárias para que o espectador tire suas próprias conclusões sobre o assunto, o que pode ser muito frustrante.
Em algumas cenas, há a presença muito forte de merchandising,
o que chega a chocar, como a caixa de papelão do aparelho de TV
Philips e a própria sacola do dinheiro, com o logotipo da Nike
"gritando", que aparece diversas
vezes durante todo o filme.
Mas, visualmente, "Caiu do
Céu" funciona muito bem, carregado de cores fortes e de cenas em
stop-motion (quadro a quadro)
que reproduzem bem a visão criativa de uma criança de sete anos.
Caiu do Céu
Millions
Direção: Danny Boyle
Produção: Reino Unido, 2004
Com: James Nesbitt, Alexander Nathan
Etel e Lewis Owen McGibbon
Quando: a partir de hoje nos cines Reserva Cultural, Bristol, Market Place
Playarte e circuito
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