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CRÍTICA
Em "Lunar Sea", Momix explora um objeto-corpo não identificado
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Uma imagem, abstrata ou
concreta, uma cor, um som,
alguma forma em transformação
entre o visual e o sonoro. O próprio corpo funciona como um
conjunto de linhas, pontos e planos, tornando visível o espaço. Do
visível ao invisível, este "Lunar
Sea", do grupo americano Momix, explora um objeto-corpo
não identificado, que se funde
agora com imagens da natureza.
Criado em 1980 por Moses Pendleton, o Momix é reconhecido
mundialmente pela engenhosidade com que trabalha as múltiplas
formas do corpo humano, explorando sombra e luz. Num gênero
híbrido, entre a dança, o circo, a
acrobacia e o teatro, o espetáculo
se vale de imagens simples e repetidas, que vão se fundindo em
grandes quadros.
Uma imagem de flor projetada
num telão, na frente do palco, dá
início ao espetáculo. Atrás dela
vêem-se linhas brancas -uma fila de dançarinos, de lado para a
platéia- desafiando a gravidade.
De um lado o figurino é branco;
do outro, preto, criando a ilusão
de flutuação, quando se mostra só
o lado claro do corpo. A brincadeira de luz e sombra continua
por um bom tempo fundindo
corpos e aludindo às grandes linhas corporais da dança clássica.
Pena que, aqui e ali, o desequilíbrio de algum dançarino revele o
truque, quebrando a magia.
O figurino tem parte essencial
também em outros momentos,
como, por exemplo, nas roupas
verdes luminosas de moças que
deslizam sobre bolas acrobaticamente: os acentos da música eletrônica rebatem na ponta verde
dos cabelos. Ou no momento em
que se revela o rosto dos dançarinos, num duo bege, em que braços, pernas e cabeças se fundem
num único corpo.
As imagens projetadas na frente
do palco vão de flores, planetas e
estrelas que se esgarçam, se espelham e se fundem até cenas de
uma casa bucólica, ou uma lua
entre as árvores, ou somente a lua.
O vídeo interage com a cena confundindo virtuosisticamente nossa percepção. O que se vê nessas
imagens projetadas ganha outra
corporeidade na cena, mas isso
também é relativo, pois a gravidade não é a mesma dentro da caixa
preta do palco. Corpos e objetos
se unem, reconfigurando as formas naturais.
Durante a noite imagens se sucedem, acentuando o virtuosismo
dos bailarinos sem fugir à essencial simplificação coreográfica.
Também a luz de Joshua Starbuck
e Pendleton é fundamental para a
construção desse universo de
imagens fantásticas, formadas pela sobreposição, elevação e transformação dos corpos.
Há ainda espaço para a marionete de um desenho animado,
que toma conta da cena, construindo aranhas que se confrontam e no final viram uma flor, ou
uma estrela. Pendleton concretiza
essas configurações sem constrangimento e sem limites. O espetáculo vive mesmo da sucessão
de imagens; e a música aqui é
pouco mais que uma variada ambiência sonora (Buddha Experience, Brian Eno, Waveform e
Hans Zimmer).
O final do espetáculo é uma revelação, quase uma profissão de
fé: já no agradecimento, os atletas-dançarinos vêm, um a um, à
frente e dançam sem luz, sem figurinos nem efeitos especiais, revelando o quanto de magia está
no próprio corpo e no seu movimento no espaço.
Lunar Sea
Quando: hoje, às 21h30
Onde: Credicard Hall (av. Nações Unidas,
17.955, SP, tel. 0/xx/11/6846-6010)
Quanto: R$ 60 a R$ 150 (ingressos esgotados)
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