São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2005

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CRÍTICA

Em "Lunar Sea", Momix explora um objeto-corpo não identificado

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Uma imagem, abstrata ou concreta, uma cor, um som, alguma forma em transformação entre o visual e o sonoro. O próprio corpo funciona como um conjunto de linhas, pontos e planos, tornando visível o espaço. Do visível ao invisível, este "Lunar Sea", do grupo americano Momix, explora um objeto-corpo não identificado, que se funde agora com imagens da natureza.
Criado em 1980 por Moses Pendleton, o Momix é reconhecido mundialmente pela engenhosidade com que trabalha as múltiplas formas do corpo humano, explorando sombra e luz. Num gênero híbrido, entre a dança, o circo, a acrobacia e o teatro, o espetáculo se vale de imagens simples e repetidas, que vão se fundindo em grandes quadros.
Uma imagem de flor projetada num telão, na frente do palco, dá início ao espetáculo. Atrás dela vêem-se linhas brancas -uma fila de dançarinos, de lado para a platéia- desafiando a gravidade. De um lado o figurino é branco; do outro, preto, criando a ilusão de flutuação, quando se mostra só o lado claro do corpo. A brincadeira de luz e sombra continua por um bom tempo fundindo corpos e aludindo às grandes linhas corporais da dança clássica. Pena que, aqui e ali, o desequilíbrio de algum dançarino revele o truque, quebrando a magia.
O figurino tem parte essencial também em outros momentos, como, por exemplo, nas roupas verdes luminosas de moças que deslizam sobre bolas acrobaticamente: os acentos da música eletrônica rebatem na ponta verde dos cabelos. Ou no momento em que se revela o rosto dos dançarinos, num duo bege, em que braços, pernas e cabeças se fundem num único corpo.
As imagens projetadas na frente do palco vão de flores, planetas e estrelas que se esgarçam, se espelham e se fundem até cenas de uma casa bucólica, ou uma lua entre as árvores, ou somente a lua. O vídeo interage com a cena confundindo virtuosisticamente nossa percepção. O que se vê nessas imagens projetadas ganha outra corporeidade na cena, mas isso também é relativo, pois a gravidade não é a mesma dentro da caixa preta do palco. Corpos e objetos se unem, reconfigurando as formas naturais.
Durante a noite imagens se sucedem, acentuando o virtuosismo dos bailarinos sem fugir à essencial simplificação coreográfica. Também a luz de Joshua Starbuck e Pendleton é fundamental para a construção desse universo de imagens fantásticas, formadas pela sobreposição, elevação e transformação dos corpos.
Há ainda espaço para a marionete de um desenho animado, que toma conta da cena, construindo aranhas que se confrontam e no final viram uma flor, ou uma estrela. Pendleton concretiza essas configurações sem constrangimento e sem limites. O espetáculo vive mesmo da sucessão de imagens; e a música aqui é pouco mais que uma variada ambiência sonora (Buddha Experience, Brian Eno, Waveform e Hans Zimmer).
O final do espetáculo é uma revelação, quase uma profissão de fé: já no agradecimento, os atletas-dançarinos vêm, um a um, à frente e dançam sem luz, sem figurinos nem efeitos especiais, revelando o quanto de magia está no próprio corpo e no seu movimento no espaço.


Lunar Sea
   
Quando: hoje, às 21h30
Onde: Credicard Hall (av. Nações Unidas, 17.955, SP, tel. 0/xx/11/6846-6010)
Quanto: R$ 60 a R$ 150 (ingressos esgotados)


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