São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2005

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CDS

ROCK

Grupo do produtor James Murphy lança disco com novas e velhas canções

LCD Soundsystem esbarra no punk, na dance e no funk

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Música feita por nerds, art-rock, "dance music inteligente". Os rótulos associados ao nome LCD Soundsystem podem dar a impressão de música pretensiosa, umbiguista. Este primeiro álbum do grupo beira esse perigo, mas após uma audição, o que resta é um disco muito bom.
LCD Soundsystem é o projeto de um homem só e, ao mesmo tempo, um quinteto.
É o projeto de James Murphy, uma das metades do selo/produtora nova-iorquina DFA Records. No estúdio, Murphy toca todos os instrumentos, é o cérebro da banda. Ao vivo, o grupo transforma-se num quinteto, com Pat Mahoney (bateria), Nancy Whang (teclados), Tyler Pope (baixo, este também das bandas !!! e Outhud) e Phil Mossman (guitarra).
Quem interessa é Murphy. Com a DFA, ele se tornou um dos caras mais quentes da música pop. Produziu o reverenciado disco do Rapture, Radio 4, fez remixes definitivos para Jon Spencer Blues Explosion, Nine Inch Nails, Metro Area, Le Tigre... a lista vai e vai. Diz a lenda que Janet Jackson e Britney Spears quase imploraram por uma ajuda da DFA. Levaram um não. Como produtores, hoje, apenas os Neptunes, Timbaland e Kanye West se posicionam à altura de Murphy e Tim Goldsworthy, seu parceiro na DFA.
Isso tudo não vem de graça. É a DFA a principal responsável pelo revival pós-punk que toma conta do rock há pelo menos três anos. Foram eles que transportaram o Gang of Four para o século 21, moldando o som de Rapture e Radio 4 e influenciando Bloc Party, Franz Ferdinand, Interpol...
É, como alguém já disse, "dance music para pular" ou "rock para dançar". Murphy, antes da DFA e do LCD Soundsystem, tocou em duas bandas punks: Pony (1992-94) e Speedking (1995-97). Conhece os dois lados.
"Losing My Edge", o primeiro lançamento do LCD, em 2002, praticamente definiu o que viria depois dali. É um enorme manifesto comportamental anticool em que, sobre uma batida electro, Murphy fala, basicamente, sobre garotos nerds que manjam tudo de softwares e têm muito mais talento do que a maioria dos tradicionais e ultrapassados músicos.
A canção foi dissecada por DJs nas pistas do mundo. Depois, vieram "Beat Connection" e "Yeah". Esses primeiros singles do grupo estão no disco 2 deste CD duplo. O álbum propriamente está no disco 1, com as novas produções.
A primeira faixa, "Daft Punk Is Playing at My House", carrega todo os genes da DFA: baixo lá no alto, bateria sincopada, voz quase falada. Nessa linha estão "Tribulations" -uma quase Duran Duran, bem dançante-, "On Repeat" e "Disco Infiltrator" -talvez a melhor e mais disco punk do álbum, com vários efeitos, esbarra num clima hip hop oitentista.
Não é um disco apenas dance. Fã de The Fall e Velvet Underground, Murphy traz a crueza do primeiro em "Movement", com uma bateria hipnótica; o segundo é visível em "Never as Tired as When I'm Waking Up". Em "Great Release", que fecha o disco, Murphy faz uma etérea homenagem a Brian Eno.


LCD Soundsystem
    
Artista: LCD Soundsystem
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 35, em média


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