São Paulo, sábado, 08 de julho de 2006

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Pinacoteca mostra a arte brasileira do século 20

Coleção de Gilberto Chateaubriand traz produção moderna e contemporânea

Iniciado com um presente de Pancetti, conjunto de obras tem 7.000 peças, das quais 170 estão na exposição que é aberta hoje

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Passou-se cerca de meio século desde que Gilberto Chateaubriand, hoje um dos maiores colecionadores de arte do Brasil, ganhou do pintor José Pancetti a primeira obra de sua coleção, "Paisagem de Itapuã", pequena tela a óleo retratando uma praia tranqüila, em cuja areia se escondia um tesouro inimaginável. Foi o presente de Pancetti que deu início a um dos mais importantes conjuntos de obras brasileiras, hoje com 7.000 peças em vários suportes, abrangendo desde a época do modernismo até dias recentes.
A Pinacoteca do Estado mostra agora parte desse conjunto. São 170 obras organizadas por Fernando Cocchiarale e Franz Manatta a partir de escolhas feitas pelo próprio Chateaubriand. O que resulta em um recorte único da produção artística brasileira, ainda que submetida ao olhar do colecionador, com ênfase na produção que segue os anos 60. Como lembra Fernando Cocchiarale, "um panorama da coleção de Chateaubriand é um panorama da história da arte brasileira do último século".
Para o crítico Paulo Herkenhoff, ex-diretor do MAM do Rio de Janeiro, Gilberto Chateaubriand inventou um país em termos de coleção. "Em épocas em que não havia incentivo público e fiscal, em que não se davam bolsas para artistas, ele foi um dos principais investidores, deu suporte para o trabalho de vários profissionais, como Cildo Meireles, Waltércio Caldas e Ivens Machado." Hoje em dia, Chateaubriand ainda compra cerca de 300 trabalhos por ano.
A mostra na Pinacoteca, que vem do MAM do Rio, onde as obras ficam guardadas em regime de comodato desde 1993, ocupa sete salas. A cronologia da organização só é quebrada pela disposição de obras abstracionistas e construtivistas, dos anos 50 e 60 já no primeiro ambiente. A decisão curatorial acaba segregando representantes desses gêneros, que não são muito fortes na coleção de Chateaubriand. Em seguida, vêm os modernistas. "A Japonesa" (1924), de Anita Malfatti, e "Urutu" (1928), de Tarsila do Amaral, são duas das telas mais valiosas e antigas. No mesmo ambiente, seguem pinturas de Portinari, Vicente do Rêgo Monteiro, Ismael Nery, Di Cavalcanti, Djanira, Goeldi, Guignard, Ismael Nery e Lasar Segall.
As sessões dedicadas aos anos 60 e 70 aparecem como retrato de um ambiente artístico mais politizado, com obras que propõem rupturas com os suportes tradicionais. Aqui estão reunidos trabalhos de de Hélio Oiticica, Cláudio Tozzi e Anna Maria Maiolino.
A pintura recupera seu lugar com força total nos anos 80, o que fica evidente nas obras de Luiz Zerbini, Daniel Senise e Cristina Canale. E conforme a mostra vai se aproximando de seu final, a fotografia e a tecnologia abrem caminho. Ainda que o vídeo não esteja representado entre as peças dessa mostra, tem boa presença na coleção. Rogério Canella, Márcia Xavier, Albano Afonso, Cláudia Andujar, Eduardo Kac e Amilcar Packer são artistas que integram uma turma com forte atuação na cena atual.
Sobre o destino da coleção no futuro, Chateaubriand brinca: "Estou muito jovem para pensar nisso; tenho só 81 anos!".


COLEÇÃO GILBERTO CHATEAUBRIAND
Quando: abre hoje, às 11h; ter. a dom., das 10h às 18h
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11/3229-9844)
Quanto: R$ 4; grátis aos sáb.



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