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comida
Vinho azedo
Mercado de vinagres cresce e se sofistica em São Paulo; confira lançamentos, variedades e combinações possíveis na cozinha
LUIZA FECAROTTA
DE SÃO PAULO
"Lembra do tubo de béquer da escola? Você coloca
vinho ali, até a metade, cobre
com gaze. Assim faz a madre
do vinagre com as bactérias
que estão no ar", ensina Hamilton Mellão, do I Vitelloni.
"O vinho azeda e fica viscoso como uma gelatina. Alimente com o que sobrar de
vinho em casa. Mas use vinho bom! O sabor dá um pulo
gustativo, fica mais espesso e
é seu. É o seu vinagre."
Para o italiano Marco Renzetti, chef da Osteria del Pettirosso, vinagres artesanais
"não têm a agressividade do
ácido acético" e são "mais
suaves e aromáticos". No restaurante, substitui o limão
pelo vinagre que produz.
Quem não tiver sorte de
encontrar a bactéria no ar, no
entanto, não precisa se preocupar. Houve um aumento
na oferta de vinagres e uma
sofisticação de produtos nos
últimos anos, segundo o diretor da importadora Latinex, Eduardo Moraes, que
estudou o mercado para trazer exemplares da Califórnia.
São vinagres de champanhe -alguns combinados
com frutas como cassis e romã- e de vinhos varietais,
como pinot noir, merlot e cabernet, que devem custar entre R$ 40 e R$ 45 (200 ml) em
pontos como o Saint Marché.
Da Espanha, a Borges, que
vende vinagres no Brasil,
anuncia um lançamento para os próximos 40 dias.
Trata-se de um balsâmico
de Módena (Itália), série ouro, obtido de um mosto cozido de uva que descansa em
barris de carvalho -a empresa dá informações desencontradas a respeito do tempo de
envelhecimento. O resultado
é um produto adocicado,
com gosto de vinho e consistência densa.
Balsâmico que é balsâmico, diz Mellão, "estoura na
boca". São vendidos em frascos pequenos e por preços altos. "Temos de parar com a
festa do aceto. O que mais temos é vinagre de suco de uva
aromatizado e adoçado."
Quando foi para Módena,
a engenheira química Wilma
Spinosa, mestre e doutora no
tema, reparou: "Vinagres
balsâmicos ficam nos mercados em uma caixinha de vidro protegidos por cadeado".
São esses os tradicionais.
Caros e usados apenas em
ocasiões especiais, envelhecem entre dez e 12 anos.
Por aqui, faz pouco tempo
que a gaúcha Valduga aprimorou seu balsâmico, que
envelhece oito anos em barricas de carvalho e canela.
"Extraímos o suco da uva de
casca branca. Com fogo, reduzimos o volume em 50%.
Depois, fermenta por leveduras -que transformam o açúcar em álcool- e por bactérias, na qual o álcool vira ácido acético", explica Eduardo
Valduga.
BÁLSAMO
Balsâmico vem de bálsamo, de remédio. Consumido
desde a Antiguidade, o vinagre já matou a sede de soldados, já curou mordida de escorpião e, no século 19, curava até melancolia se misturado à água da banheira. Ainda
hoje, orientais combinam vinagre com chá verde. "É refrescante e faz bem para a
saúde", diz a engenheira.
"É um tempero importante." Diminui a necessidade
de sal na comida e o impacto
ambiental de produção também é pequeno. "Tudo o que
é açúcar é passível de fermentação alcoólica e, consequentemente, de fermentação acética." Em resumo, suco de fruta e cereais (que têm
amido transformado em açúcar), por exemplo, podem gerar bons vinagres.
Mas vale lembrar que, em
uma categoria inferior, estão
os vinagres de cana-de-açúcar, os mais abundantes no
mercado brasileiro.
"Vinagre de cana, feito
com álcool concentrado, não
tem compostos secundários.
Sensorialmente, os de fruta
ganham mais sabor e guardam o aroma da matéria-prima", diz Wilma, que tem
uma fábrica de vinagres no
interior de São Paulo (Dom
Spinosa) e explora frutas como maracujá e carambola.
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