São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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TELEVISÃO

Novela do SBT sobre garota órfã vem alcançando bons índices de audiência e obtém sucesso com público infantil

Mexicana "Amy" segue trilha de "Carrossel"

ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma garotinha órfã, que enfrenta uma sucessão de tragédias marítimas, familiares e financeiras, é a última edição das novelas mexicanas infantis do SBT que fazem sucesso no Brasil.
No ar desde 26 de abril, "Amy, a Menina da Mochila Azul", anda sobre os rumos traçados por "Carrossel", que, entre maio de 1991 e abril de 1992, chegou a disputar fortemente a audiência com a Rede Globo. "Amy" também segue "Carrossel" no duro percalço seguido pelos personagens.
A novela conta a história de uma garota que, ainda bebê, é encontrada flutuando no mar, depois de um furacão, por um pescador e sua mulher. Na seqüência, o pescador fica viúvo e perde todo o seu dinheiro. Amy, uma menina esperta e amorosa, é tudo o que resta a seu lado.
A novela se desenrola com uma caça a um tesouro perdido e com a aproximação do verdadeiro pai de Amy, um homem rico e gravemente doente, sem que ela saiba sua verdadeira identidade. A história vem alcançando o segundo lugar na medição de audiência das 19h. Em 2 de agosto, segunda-feira, "Amy" registrou uma média de dez pontos, com picos de 13, atrás somente da Globo, líder do horário com 46 pontos. Em terceiro lugar, veio a Record (seis pontos), seguida pela Bandeirantes (três pontos), pela TV Cultura e pela Rede TV! (ambas com um ponto).
O que atrai as crianças são as aventuras vividas pela personagem. É o que explica Victoria Barreto Ghattas, 6, fã de "Amy". "Ela nada, ela tem um barco, um papagaio. Eu também gostaria de fazer essas aventuras, queria ter um barco. A história é mais ou menos triste, mas mesmo assim eu gosto", conta a menina.
Victoria diz ainda que não há nada que a desagrade na novela. "Tudo é muito legal. Essa é a minha novela favorita, a única a que eu assisto", completa.
Já Rodrigo Autuori, 8, que começou a assistir a novela nas férias, é fã do papagaio -uma espécie de pombo-correio. "Eu não gosto de quem tenta matar o papagaio. Ele é o mais legal. Assisto a "Amy" por causa dele", conta.
Para a professora Maria Lourdes Motter, pesquisadora do Núcleo de Telenovelas da ECA e professora livre-docente da USP, a aceitação de Amy pelas crianças pode ser explicada pelo modelo mexicano, em que os vilões são pérfidos, com todas as características exageradas. "Essa clareza vai pegar um público menos exigente e funciona bem como entretenimento. Por outro lado, o sucesso dela é lamentável porque o programa não mostra a complexidade do ser humano", afirma.
Motter aponta a identificação do espectador com o "herói" como um problema. "A novela pode ser prejudicial porque a criança vai achar que vai ter sucesso, não importa que tipo de adversidades encontrar. Mas isso é fantasia, ela pode se frustrar muito."
Já a psicanalista infantil, especialista no uso da TV para a infância, Ana Cristina Olmos, acredita que "tudo o que ajuda a lidar com a frustração é educativo".
Para ela, a novela consegue a atenção das crianças por ter intervalos comerciais mais curtos, por ter uma edição mais lenta, pelo forte apelo emocional e pelo formato de situações óbvias.
"A "Amy", ainda que estereotipadamente, atinge o mundo infantil fortemente dentro da sintonia de apreensão e de percepção de sentimento nas crianças. Por um lado, a novela é primária. Mas, por outro, está perto dos sentimentos, das sensações e dos medos. A TV não tem o poder de adoecer o espectador, mas também não tem o poder de salvá-lo."


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