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Festivais de jazz crescem fora do circuito Rio-SP
De Guaramiranga (CE) à Londrina (PR), mais cidades apostam em eventos de bom nível para incrementar turismo
Em Ouro Preto, o Tudo É Jazz reúne atrações de peso como Dave Holland; produtora diz buscar "turistas de qualidade"
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Foi-se o tempo em que apenas as capitais do eixo Rio-São
Paulo, com raras exceções, tinham acesso a shows de astros
da cena internacional do jazz.
Nesta década, festivais do gênero têm surgido em diversos Estados do país com uma característica comum: apoiados por
órgãos governamentais, esses
eventos buscam ampliar o turismo nessas regiões.
"Jazz é sinônimo de música
de qualidade", diz a produtora
Maria Alice Martins, que criou
o festival Tudo É Jazz a pedido
do Centro de Artes da Universidade Federal de Ouro Preto. A
intenção era melhorar o nível
dos turistas que visitavam essa
cidade histórica mineira, prejudicada por constante dilapidação de seu patrimônio cultural.
Cerca de 1.700 pessoas
acompanharam a estréia do
Tudo É Jazz, em 2002. Hoje a
previsão é que 8.000 freqüentem os concertos, oficinas e outros eventos, de 21 a 23 de setembro, em Ouro Preto. Com
um elenco que não deve nada
aos de eventos similares realizados no exterior, o festival
destaca expoentes do gênero,
como o baixista inglês Dave
Holland, o pianista norte-americano Jason Moran e o saxofonista italiano Francesco Cafiso.
"Não é um festival de massa",
admite a produtora, atenta aos
limites da cidade. Com custo
aproximado de R$ 1,2 milhão, o
festival tem apoio do Ministério do Turismo e patrocínio da
Gerdau Açomimas, que entra
com metade da verba por meio
de leis de incentivo à Cultura.
"Trazendo turistas de qualidade, em vez de predadores, contribuímos para uma cidade
mais segura e organizada."
Outro evento desse gênero
que já se estabeleceu com sucesso é o de Guaramiranga, cidade de 5.000 habitantes (a 108
km de Fortaleza, no Ceará), que
já prepara a oitava edição de
seu Festival de Jazz & Blues para fevereiro de 2007. Neste ano,
cerca de 15 mil visitantes freqüentaram os shows do evento.
Impulso econômico
"Guaramiranga é uma reserva de mata atlântica e não tem
vocação agrícola, nem comercio ou indústria fortes", descreve a produtora Rachel Gadelha,
que chegou a ser desestimulada
por moradores da cidade,
quando lançou o festival, só
com o apoio da secretaria estadual de Cultura, em 2000. Naquela época, a cidade nem tinha
hotéis e restaurantes suficientes para atender os turistas.
Hoje, o evento contribui para
o desenvolvimento econômico
de Guaramiranga. "O festival
movimenta não só a cidade,
mas toda a região", diz a produtora, mencionando dados do
Sebrae. "Os quatro dias do festival chegam a movimentar o
equivalente a dez meses da arrecadação anual da cidade."
Para atrair turistas ou mesmo fãs locais de jazz, alguns festivais recorrem até a soluções
pouco comuns. Como o Londrina Jazz Festival, no Paraná,
que vai sediar sua quarta edição, de 7 a 12 de novembro, no
centro de eventos de um shopping. "Levamos em conta a boa
infra-estrutura, o fluxo diário
de 25 mil pessoas e a possibilidade de aliar aos shows uma
programação de filmes de jazz
nas salas de cinema", justifica o
produtor Eduardo Martins.
"O Brasil não é só o eixo Rio-São Paulo", diz Robério Braga,
secretário da Cultura do Estado
do Amazonas, que realizou há
pouco seu primeiro festival de
jazz e já o inclui no calendário
cultural do Estado para 2007.
"O apelo do Teatro Amazonas e
da floresta amazônica é forte, e
nós temos que utilizá-lo para
criar empregos e renda para a
população. Esses eventos geram atividade econômica."
Até turistas argentinos e chilenos foram a Búzios, no litoral
do Estado do Rio de Janeiro,
durante seu festival, em julho.
"O público que vem à cidade,
nesta época, é formado por pessoas entre 25 e 40 anos, de bom
nível econômico, que preferem
jazz e blues a rock", diz o produtor Mario Fernandez.
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