São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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Mascaro retrata cidades e seus enigmas

Fotógrafo lança livro com 110 imagens em preto-e-branco feitas em um intervalo de seis anos; exposição é aberta hoje

Com olhar contemplativo, obra do especialista em espaço urbano traz imagens de metrópoles ao lado de cidades minúsculas


EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O título de "Cidades Reveladas", o livro que o fotógrafo e arquiteto Cristiano Mascaro, 61, lança hoje na abertura da exposição no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, traz à tona um paradoxo: o que pode de fato a fotografia revelar de uma cidade? "As cidades são enigmas a serem desvendados.
Mas quando revelamos um aspecto dela, outros tantos se ocultam pelas esquinas", afirma Mascaro. Arquiteto de uma casa só, a dele próprio, em Carapicuíba (SP), Mascaro declinou da prancheta quando folheou o livro "Images à la Sauvette", do lendário Henri Cartier-Bresson, quando ainda cursava a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, onde mais tarde se tornaria mestre e doutor com teses que relacionam fotografia e arquitetura.
Após 40 anos tecendo tais relações, se tornou conhecido como fotógrafo especialista em espaço urbano. Considerado por muitos como o fotógrafo oficial de São Paulo nas últimas três décadas, Mascaro reflete sobre esses rótulos sentado no epicentro de uma das salas do Museu da Casa Brasileira, rodeado por suas imagens.
"Essas denominações atribuem um peso ao meu trabalho que não gosto. Não me sinto com essa missão. Sou um fotógrafo sem causa. Não sei se o que faço tem importância para alguém. O que importa é minha catarse pessoal ao alinhar geometrias sob determinadas luzes das cidades", diz.
A busca da catarse que gerou "Cidades Reveladas" soa como o diário de um viajante que esquadrinhou o Brasil de forma errática por seis anos, fotografando em paralelo a outros projetos. Nas 110 fotografias do livro, metrópoles convivem ao lado de cidades minúsculas.
Fã de literatura e de palavras, Mascaro por vezes deixou que a bússola do seu roteiro seguisse o magnetismo da sonoridade de nomes como Propiá e Nossa Senhora de Lourdes, ambas em Sergipe. "O olhar percorre as ruas como se fossem páginas escritas", escreve ele na epígrafe de seu texto, citando Ítalo Calvino, autor de "Cidades Invisíveis", referência oportuna para seu trabalho.

Contemplação
Entre invisibilidades e revelações que a urbe propicia repousa a necessidade da contemplação. "Sempre andei muito a pé pelas cidades. Ultimamente tenho gostado de ficar parado numa esquina para observar. É como um rio caudaloso a passar por mim, nada se repete, tudo se transforma o tempo todo", afirma.
O olhar mais contemplativo do fotógrafo, que tem a escola francesa como inspiração, oculta atritos, violência e conflitos inerentes a esses espaços. A rápida passagem pelo fotojornalismo serviu para determinar que o foco de sua obra seria a expressão plástica dos volumes arquitetônicos redesenhados pelos efeitos de luz e sombras.
Com a revolução tecnológica, a aceleração da vida contemporânea e a mudança radical da relação das pessoas com o espaço urbano nas últimas décadas, esse olhar não seria demasiadamente romântico e datado nos dias de hoje? "Não sou de vanguarda. Não tenho essa preocupação. Sigo fotografando da forma que acredito. Não vou modificar isso. Gosto de revelar aquilo que existe, mas as pessoas nem sempre são capazes de enxergar."
Então, recapitulando, o que pode, afinal, a fotografia revelar de uma cidade? É novamente Calvino quem fala pela boca de Mascaro. "A fotografia me possibilita exprimir a tensão entre a racionalidade geométrica e o emaranhado das existências humanas", conclui.


CIDADES REVELADAS - CRISTIANO MASCARO
Quando:
de ter. a dom., das 10h às 18h; lançamento do livro e abertura da exposição, hoje, para convidados, das 19h às 22h; preço do livro: R$ 120, editora Beî (192 págs.)
Onde: Museu da Casa Brasileira (av. Brigadeiro Faria Lima, 2.705, tel. 0/ xx/11/3032-2564)
Quanto: R$ 4; entrada franca aos domingos; até 27/8


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