São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2008

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Chico pré-fama pode ir à TV

Canal Brasil planeja programa com áudio de show anterior à consagração com "A Banda" em festival

Fita gravada por técnico de som na boate em que Chico Buarque cantava, em 1966, foi localizada em 2005; canal quer reunir nomes do show


CAIO JOBIM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Em 1966, o Brasil inteiro parou em frente à televisão para ver "A Banda" passar. Pouco tempo antes de sua consagração no 2º Festival da Música Popular Brasileira da TV Record -que venceu juntamente com "Disparada", de Geraldo Vandré e Théo de Barros-, Chico Buarque começava a sua primeira temporada em palcos cariocas.
À época, o espetáculo foi um sucesso absoluto -permaneceu por meses em cartaz na boate Arpège, no Leme (zona sul do Rio), com apresentações de terça a domingo.
Agora, pode vir a público em um programa cuja produção está sendo encaminhada pelo Canal Brasil, que terá como eixo uma fita descoberta pelo músico Felipe Radicetti, em 2005, com o áudio de um dos shows na íntegra.
"O show deve ter ficado uns seis meses em cartaz. Lembro que um dia o Chico falou: "Carvana, não vou poder fazer o show no domingo porque é o dia do Festival da Record, e vou defender uma música nova que tenho lá". A música era "A Banda". Fez tanto sucesso que mudamos o nome do show, que era "Meu Refrão" e passou a ser "Para Ver a Banda Passar'", lembra o ator Hugo Carvana, que produziu a estréia de Chico no Rio, em parceria com o cineasta Antônio Carlos da Fontoura.
A atriz e cantora Odete Lara e o grupo musical MPB-4 acompanharam o compositor em sua estréia no Rio. Miltinho, um dos integrantes do MPB-4, relembra a configuração instrumental do encontro.
"O Chico e eu tocávamos violão, o Magro tocava percussão, e tinha o grande Raul de Barros no trombone. Na bateria, era um amigo da gente de Niterói, o Murilo, e, na flauta, o Balu, também de lá". Completava a formação um baixista de sobrenome Marinho.

Gravador na cozinha
Ouvindo a gravação, à qual a Folha teve acesso, nota-se o entusiasmo do público com a interpretação de "A Banda" pelo próprio autor. O êxito da canção também contagiou o técnico de som da Arpège.
Em uma apresentação logo após a vitória de Chico no festival, ele escondeu um gravador de rolo na cozinha da boate, ligou os cabos na mesa de som e gravou a apresentação.
Embora se trate de um registro tecnicamente imperfeito -a voz e o violão se destacam, deixando os metais em um plano intermediário, e o baixo e a bateria praticamente inaudíveis, ao fundo-, a gravação tem o mérito de captar a carreira de Chico Buarque em estágio ainda embrionário.
Magro Waghabi, integrante do MPB-4, conta que, devido à sua timidez e à pouca intimidade com o palco, Chico cantava com o olhar fixo em um grande coração vermelho que fazia parte do cenário do show, criado pelo pintor Antonio Dias.
Desde meados da década de 70, a fita esteve sob a guarda de Radicetti. Ela lhe foi confiada pelo músico Renê Faria Terra -que, por sua vez, a tinha recebido das mãos do técnico de som da boate. Em 2005, enquanto digitalizava o seu acervo, Radicetti redescobriu a fita e fez cópias para entregar aos músicos que estavam no show.
Recentemente, Radicetti mostrou o material a Paulo Mendonça, diretor do Canal Brasil, que teve a idéia de promover o reencontro dos principais personagens ainda vivos do espetáculo em um programa a ser produzido pela emissora, com direção de Antônio Carlos da Fontoura.
Mendonça espera que as gravações sejam realizadas até o final deste ano, mas a realização do programa ainda depende de negociações com os envolvidos e do retorno de Chico ao Brasil -atualmente, ele está em Paris trabalhando em seu próximo livro.


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