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Chico pré-fama pode ir à TV
Canal Brasil planeja programa com áudio de show anterior à consagração com "A Banda" em festival
Fita gravada por técnico de som na boate em que Chico Buarque cantava, em 1966, foi localizada em 2005; canal quer reunir nomes do show
CAIO JOBIM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Em 1966, o Brasil inteiro parou em frente à televisão para
ver "A Banda" passar. Pouco
tempo antes de sua consagração no 2º Festival da Música
Popular Brasileira da TV Record -que venceu juntamente
com "Disparada", de Geraldo
Vandré e Théo de Barros-,
Chico Buarque começava a sua
primeira temporada em palcos
cariocas.
À época, o espetáculo foi um
sucesso absoluto -permaneceu por meses em cartaz na
boate Arpège, no Leme (zona
sul do Rio), com apresentações
de terça a domingo.
Agora, pode vir a público em
um programa cuja produção
está sendo encaminhada pelo
Canal Brasil, que terá como eixo uma fita descoberta pelo
músico Felipe Radicetti, em
2005, com o áudio de um dos
shows na íntegra.
"O show deve ter ficado uns
seis meses em cartaz. Lembro
que um dia o Chico falou: "Carvana, não vou poder fazer o
show no domingo porque é o
dia do Festival da Record, e vou
defender uma música nova que
tenho lá". A música era "A Banda". Fez tanto sucesso que mudamos o nome do show, que era
"Meu Refrão" e passou a ser "Para Ver a Banda Passar'", lembra
o ator Hugo Carvana, que produziu a estréia de Chico no Rio,
em parceria com o cineasta Antônio Carlos da Fontoura.
A atriz e cantora Odete Lara e
o grupo musical MPB-4 acompanharam o compositor em sua
estréia no Rio. Miltinho, um
dos integrantes do MPB-4, relembra a configuração instrumental do encontro.
"O Chico e eu tocávamos violão, o Magro tocava percussão,
e tinha o grande Raul de Barros
no trombone. Na bateria, era
um amigo da gente de Niterói, o
Murilo, e, na flauta, o Balu,
também de lá". Completava a
formação um baixista de sobrenome Marinho.
Gravador na cozinha
Ouvindo a gravação, à qual a
Folha teve acesso, nota-se o
entusiasmo do público com a
interpretação de "A Banda" pelo próprio autor. O êxito da
canção também contagiou o
técnico de som da Arpège.
Em uma apresentação logo
após a vitória de Chico no festival, ele escondeu um gravador
de rolo na cozinha da boate, ligou os cabos na mesa de som e
gravou a apresentação.
Embora se trate de um registro tecnicamente imperfeito
-a voz e o violão se destacam,
deixando os metais em um plano intermediário, e o baixo e a
bateria praticamente inaudíveis, ao fundo-, a gravação tem
o mérito de captar a carreira de
Chico Buarque em estágio ainda embrionário.
Magro Waghabi, integrante
do MPB-4, conta que, devido à
sua timidez e à pouca intimidade com o palco, Chico cantava
com o olhar fixo em um grande
coração vermelho que fazia
parte do cenário do show, criado pelo pintor Antonio Dias.
Desde meados da década de
70, a fita esteve sob a guarda de
Radicetti. Ela lhe foi confiada
pelo músico Renê Faria Terra
-que, por sua vez, a tinha recebido das mãos do técnico de
som da boate. Em 2005, enquanto digitalizava o seu acervo, Radicetti redescobriu a fita
e fez cópias para entregar aos
músicos que estavam no show.
Recentemente, Radicetti
mostrou o material a Paulo
Mendonça, diretor do Canal
Brasil, que teve a idéia de promover o reencontro dos principais personagens ainda vivos
do espetáculo em um programa a ser produzido pela emissora, com direção de Antônio
Carlos da Fontoura.
Mendonça espera que as gravações sejam realizadas até o
final deste ano, mas a realização do programa ainda depende de negociações com os envolvidos e do retorno de Chico
ao Brasil -atualmente, ele está
em Paris trabalhando em seu
próximo livro.
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