São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2005

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MÚSICA

Estréia de apresentações conjuntas com tributo a filmes começa hoje, no Canecão, e segue mais tarde para SP e BH

Cinema reúne Milton e Caetano em série de shows

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Antes de ser compositor, Caetano Veloso queria ser cineasta. Milton Nascimento se tornou compositor por causa de um filme. Não é por acaso, portanto, que os dois tenham se unido para uma série de shows graças ao cinema.
"Milton e Caetano", que estréia hoje no Canecão, no Rio, e segue para Belo Horizonte e São Paulo, é um desdobramento das três músicas que a dupla fez para "O Coronel e o Lobisomem", filme de Maurício Farias que estréia em outubro.
Somadas às anteriores "Paula e Bebeto", "As Várias Pontas de uma Estrela" e "A Terceira Margem do Rio", as novas criações duplicaram o saldo da parceria e embasaram a idéia de um show conjunto. A paixão comum completou a costura.
"O cinema é o pai da minha música", resume Milton, explicando que não sonhava compor até o dia em que o amigo Márcio Borges o convenceu. "Ele viu "Jules e Jim", do [François] Truffaut, e pensou: "Bituca [apelido de Milton] tem que ver esse filme". Entramos na sessão das duas e só saímos às dez. Falei para ele: "na sua casa tem violão, caderno e caneta, então vamos compor". Foi o cinema que fez isso."
Milton até já atuou em alguns filmes, como "Fitzcarraldo", de Werner Herzog, "O Viajante", de Paulo César Saraceni, e "Noites do Sertão", de Carlos Prates. "Gostaria de ter feito mais", afirma ele.
Já Caetano lamenta só ter dirigido até hoje um filme, "Cinema Falado". "Como projeto de vida, o cinema veio antes da música. Eu compunha e esquecia as músicas. Cinema era minha prioridade. Mas a música tomou conta, era mais fácil. Fazer um filme dá um trabalho danado", afirma ele, dizendo não ter roteiros prontos, mas "vontades, sonhos, várias idéias que aparecem e somem".

Falta de espaço
A cinefilia criou um problema para o repertório. Os dois citaram várias músicas de filmes que gostariam de cantar, mas, por falta de espaço, só entraram cinco: "La Violetera" (de "Luzes da Cidade"), "Someday My Prince Will Come" (de "Branca de Neve"), "Rock around the Clock" (do filme homônimo), "Bye Bye Brasil" (idem) e "A Felicidade" (de "Orfeu Negro"). "Não tem 1% do que a gente falou", lastima Caetano.
Do que eles mesmos fizeram para a tela estão, entre outras, "Luz do Sol", "Pecado Original" e "Luz de Tieta", de Caetano; "Menino Maluquinho", "E daí?" e "País do Futebol", de Milton.
"Mas há canções que não são de cinema e terminam tendo ligações com o cinema por causa de relações pessoais", diz Caetano.
Nesse caso está a sua "Tigresa", dedicada a Sônia Braga, "a imagem de mulher do cinema brasileiro". E "Cravo e Canela", que Milton fez para Dina Sfat e não se encaixou na trilha de "Os Deuses e os Mortos", de Ruy Guerra.
Mais indireta é a relação com o cinema de "O Amor". "Ela foi composta por mim sobre um poema de Maiakóvski traduzido por Nei Costa Santos para uma montagem de "O Percevejo" [peça do autor russo]. O diretor pediu para Guel Arraes, que ainda era inédito em cinema, fazer dois curtas-metragens pra inserir na peça. E a música era de um desses filmes. Então, ela é de cinema. É inacreditável, mas é", ri Caetano.


Milton e Caetano
Quando: de hoje a domingo (em Belo Horizonte, de 22/9 a 25/9; em São Paulo, de 29/9 a 2/10)
Onde: Canecão (av. Venceslau Brás, 215, Botafogo, 0/xx/21/2105-2000)
Quanto: de R$ 70 a R$ 140



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