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MÚSICA
Estréia de apresentações conjuntas com tributo a filmes começa hoje, no Canecão, e segue mais tarde para SP e BH
Cinema reúne Milton e Caetano em série de shows
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Antes de ser compositor, Caetano Veloso queria ser cineasta.
Milton Nascimento se tornou
compositor por causa de um filme. Não é por acaso, portanto,
que os dois tenham se unido para
uma série de shows graças ao cinema.
"Milton e Caetano", que estréia
hoje no Canecão, no Rio, e segue
para Belo Horizonte e São Paulo, é
um desdobramento das três músicas que a dupla fez para "O Coronel e o Lobisomem", filme de
Maurício Farias que estréia em
outubro.
Somadas às anteriores "Paula e
Bebeto", "As Várias Pontas de
uma Estrela" e "A Terceira Margem do Rio", as novas criações
duplicaram o saldo da parceria e
embasaram a idéia de um show
conjunto. A paixão comum completou a costura.
"O cinema é o pai da minha música", resume Milton, explicando
que não sonhava compor até o dia
em que o amigo Márcio Borges o
convenceu. "Ele viu "Jules e Jim",
do [François] Truffaut, e pensou:
"Bituca [apelido de Milton] tem
que ver esse filme". Entramos na
sessão das duas e só saímos às dez.
Falei para ele: "na sua casa tem
violão, caderno e caneta, então
vamos compor". Foi o cinema que
fez isso."
Milton até já atuou em alguns
filmes, como "Fitzcarraldo", de
Werner Herzog, "O Viajante", de
Paulo César Saraceni, e "Noites
do Sertão", de Carlos Prates.
"Gostaria de ter feito mais", afirma ele.
Já Caetano lamenta só ter dirigido até hoje um filme, "Cinema Falado". "Como projeto de vida, o
cinema veio antes da música. Eu
compunha e esquecia as músicas.
Cinema era minha prioridade.
Mas a música tomou conta, era
mais fácil. Fazer um filme dá um
trabalho danado", afirma ele, dizendo não ter roteiros prontos,
mas "vontades, sonhos, várias
idéias que aparecem e somem".
Falta de espaço
A cinefilia criou um problema
para o repertório. Os dois citaram
várias músicas de filmes que gostariam de cantar, mas, por falta de
espaço, só entraram cinco: "La
Violetera" (de "Luzes da Cidade"), "Someday My Prince Will
Come" (de "Branca de Neve"),
"Rock around the Clock" (do filme homônimo), "Bye Bye Brasil"
(idem) e "A Felicidade" (de "Orfeu Negro"). "Não tem 1% do que
a gente falou", lastima Caetano.
Do que eles mesmos fizeram para a tela estão, entre outras, "Luz
do Sol", "Pecado Original" e "Luz
de Tieta", de Caetano; "Menino
Maluquinho", "E daí?" e "País do
Futebol", de Milton.
"Mas há canções que não são de
cinema e terminam tendo ligações com o cinema por causa de
relações pessoais", diz Caetano.
Nesse caso está a sua "Tigresa",
dedicada a Sônia Braga, "a imagem de mulher do cinema brasileiro". E "Cravo e Canela", que
Milton fez para Dina Sfat e não se
encaixou na trilha de "Os Deuses
e os Mortos", de Ruy Guerra.
Mais indireta é a relação com o
cinema de "O Amor". "Ela foi
composta por mim sobre um
poema de Maiakóvski traduzido
por Nei Costa Santos para uma
montagem de "O Percevejo" [peça
do autor russo]. O diretor pediu
para Guel Arraes, que ainda era
inédito em cinema, fazer dois curtas-metragens pra inserir na peça.
E a música era de um desses filmes. Então, ela é de cinema. É inacreditável, mas é", ri Caetano.
Milton e Caetano
Quando: de hoje a domingo (em Belo
Horizonte, de 22/9 a 25/9; em São Paulo,
de 29/9 a 2/10)
Onde: Canecão (av. Venceslau Brás, 215,
Botafogo, 0/xx/21/2105-2000)
Quanto: de R$ 70 a R$ 140
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