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Livros
Mostra avalia literatura produzida na internet
"Blooks", no Rio, apresenta recorte de padrões de linguagem e novos autores
"Essa geração tem um olhar
de gilete. E não é auto-referente, como nos anos
70", diz a curadora Heloisa
Buarque de Hollanda
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
A idade (68) é respeitável e o
título, pomposo: professora de
teoria crítica da cultura da Escola de Comunicação da UFRJ
(Universidade Federal do Rio
de Janeiro). Mas Heloisa Buarque de Hollanda continua querendo saber o que e como a juventude está escrevendo. Curadora da exposição "Blooks -Tribos & Letras na Rede", que abre
hoje no Oi Futuro, no Rio, ela é
uma entusiasta da literatura
produzida na internet.
"É o padrão da literatura de
papel. Não é a linguagem do e-mail, não é light. A poesia marginal dos anos 70 era muito
mais casual e coloquial do que
essa. A formação desses poetas
é Baudelaire, Drummond, Bandeira. O referencial é culto",
afirma ela.
Heloisa já acompanha há algum tempo a tal "literatura sem
papel", mas mantendo certa
distância. "Não tenho mais
hormônio para ficar 40 horas
na internet atrás de um poema.
Cecilia [Giannetti, colunista da
Folha] me disse que, com menos de seis janelas abertas, entra em ansiedade. Eu, para
abrir uma, fecho outra", conta.
Para se aproximar do mundo
novo, pediu a ajuda de dois poetas surgidos na rede: Bruna Beber e Omar Salomão, filho de
Waly Salomão. Eles levantaram cerca de cem poemas e
cem textos em prosa para Heloisa ler e fechar o repertório de
"Blooks" -a palavra, corrente
na internet, une blogs e "books"
(livros). Ela constatou que há
muito mais do que Bruna Surfistinha nos sites.
"O que me chamou a atenção
foi a alta qualidade. Tem muita
coisa boa na internet, e eu pensava que fosse só entulho. Essa
geração tem uma visão ácida,
um olhar de gilete. E não é muito auto-referente, como nos
anos 70. Ana Cristina Cesar era
o segredo, a referência era ela
mesma. Agora, está todo mundo olhando em volta", exalta
Heloisa, grande amiga de Ana
Cristina e espécie de madrinha
dos poetas marginais dos 70.
Embora fale em geração, ela
não acredita numa "webliteratura". Em primeiro lugar, condena a idéia de que exista uma
"literatura de blog". "Blog é
blog, literatura é literatura. O
blog pode ser estudado como
diário, correspondência. Já a literatura usa o formato blog como canal para formação de público e para trocas. Mas é mais
afeita ao papel", diz ela, não
descartando que ainda haja
muito de fetiche nesse desejo
de ser publicado em livro.
Em segundo lugar, pensa que
existam hoje "práticas literárias", exercidas em verso, prosa, mas também em quadrinhos, grafismos, raps e na interação de várias mídias. A multiplicidade está em "Blooks", no
qual o visitante, sem o uso de
terminais, vê e ouve várias coisas ao mesmo tempo.
A professora ainda espera
que esteja encerrado um "debate rançoso": a internet vai
acabar com a literatura? "Há
bibliotecas movimentadas no
metrô, na Central do Brasil. A
leitura está se tornando uma
cultura. E o mercado editorial
aumentou. Você entra numa livraria e não sabe que capa comprar, de tão lindas que são. É
como quando se inventou a fotografia: a pintura liberou geral,
não precisou mais retratar.
Acho que o livro ganhou uma
autonomia de vôo", opina.
BLOOKS - TRIBOS & LETRAS NA
REDE
Quando: até 30/9; ter. a dom., das 11h
às 20h
Onde: Oi Futuro (r. Dois de Dezembro,
65, tel. 0/xx/ 21/3131-6060)
Quanto: grátis
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