São Paulo, sábado, 08 de setembro de 2007

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Livros

Mostra avalia literatura produzida na internet

"Blooks", no Rio, apresenta recorte de padrões de linguagem e novos autores

"Essa geração tem um olhar de gilete. E não é auto-referente, como nos anos 70", diz a curadora Heloisa Buarque de Hollanda

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

A idade (68) é respeitável e o título, pomposo: professora de teoria crítica da cultura da Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Mas Heloisa Buarque de Hollanda continua querendo saber o que e como a juventude está escrevendo. Curadora da exposição "Blooks -Tribos & Letras na Rede", que abre hoje no Oi Futuro, no Rio, ela é uma entusiasta da literatura produzida na internet.
"É o padrão da literatura de papel. Não é a linguagem do e-mail, não é light. A poesia marginal dos anos 70 era muito mais casual e coloquial do que essa. A formação desses poetas é Baudelaire, Drummond, Bandeira. O referencial é culto", afirma ela.
Heloisa já acompanha há algum tempo a tal "literatura sem papel", mas mantendo certa distância. "Não tenho mais hormônio para ficar 40 horas na internet atrás de um poema. Cecilia [Giannetti, colunista da Folha] me disse que, com menos de seis janelas abertas, entra em ansiedade. Eu, para abrir uma, fecho outra", conta.
Para se aproximar do mundo novo, pediu a ajuda de dois poetas surgidos na rede: Bruna Beber e Omar Salomão, filho de Waly Salomão. Eles levantaram cerca de cem poemas e cem textos em prosa para Heloisa ler e fechar o repertório de "Blooks" -a palavra, corrente na internet, une blogs e "books" (livros). Ela constatou que há muito mais do que Bruna Surfistinha nos sites.
"O que me chamou a atenção foi a alta qualidade. Tem muita coisa boa na internet, e eu pensava que fosse só entulho. Essa geração tem uma visão ácida, um olhar de gilete. E não é muito auto-referente, como nos anos 70. Ana Cristina Cesar era o segredo, a referência era ela mesma. Agora, está todo mundo olhando em volta", exalta Heloisa, grande amiga de Ana Cristina e espécie de madrinha dos poetas marginais dos 70.
Embora fale em geração, ela não acredita numa "webliteratura". Em primeiro lugar, condena a idéia de que exista uma "literatura de blog". "Blog é blog, literatura é literatura. O blog pode ser estudado como diário, correspondência. Já a literatura usa o formato blog como canal para formação de público e para trocas. Mas é mais afeita ao papel", diz ela, não descartando que ainda haja muito de fetiche nesse desejo de ser publicado em livro.
Em segundo lugar, pensa que existam hoje "práticas literárias", exercidas em verso, prosa, mas também em quadrinhos, grafismos, raps e na interação de várias mídias. A multiplicidade está em "Blooks", no qual o visitante, sem o uso de terminais, vê e ouve várias coisas ao mesmo tempo.
A professora ainda espera que esteja encerrado um "debate rançoso": a internet vai acabar com a literatura? "Há bibliotecas movimentadas no metrô, na Central do Brasil. A leitura está se tornando uma cultura. E o mercado editorial aumentou. Você entra numa livraria e não sabe que capa comprar, de tão lindas que são. É como quando se inventou a fotografia: a pintura liberou geral, não precisou mais retratar. Acho que o livro ganhou uma autonomia de vôo", opina.


BLOOKS - TRIBOS & LETRAS NA REDE
Quando: até 30/9; ter. a dom., das 11h às 20h
Onde: Oi Futuro (r. Dois de Dezembro, 65, tel. 0/xx/ 21/3131-6060)
Quanto: grátis



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