São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2008

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Crítica/Artes

Varejão e Salcedo ganham pavilhões "opostos"

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BRUMADINHO (MG)

Inaugurados há seis meses, dois novos pavilhões, um dedicado a Adriana Varejão e outro à colombiana Doris Salcedo, criam pólos absolutamente opostos em Inhotim, o Centro de Arte Contemporânea do colecionador Bernardo Paz: enquanto o primeiro é exagerado, especialmente no confronto com a arquitetura, o outro é minimalista. O pavilhão dedicado a Varejão, que é casada com Paz, torna-se o local com presença mais forte entre os demais espaços de Inhotim, que conta agora com nove galerias. Um imenso bloco retangular de concreto, projeto do arquiteto Rodrigo Cerviño Lopez, paira sobre um espelho d'água, que tem no centro um banco de azulejos com plantas alucinógenas como motivo. O grande bloco de concreto abriga várias obras de Varejão, começando por "Linda do Rosário", de 2004, da série Charques, na qual azulejos são formados a partir de muros que simulam carne. Obra que aborda questões recorrentes na carreira da artista, como a violência, a história da arte e a arquitetura, instalada em frente à asséptica "O Colecionador", da recente série das saunas, ganha ainda maior dramaticidade. "O Colecionador", por sua vez, montado num canto da sala, produz um intenso diálogo com a arquitetura, simulando ser a continuidade do espaço real, o que confirma a competência da artista como pintora e é o melhor momento do local. Se fosse mais despojada, como ocorre com a de Salcedo, a galeria poderia potencializar mais os trabalhos, mas há um afã em questionar ou aproveitar-se da arquitetura, que o embate não parece profícuo, como colocar no teto o políptico "Carnívoras", de visibilidade confusa. O exagero na ocupação do espaço faz, contudo, uma referência ao barroco, constante nas obras de Varejão, como se pode ver na sala com os famosos "azulejões". Já Salcedo consegue, com galeria mais discreta, por fora e por dentro, grande intensidade. O pavilhão abriga "Neither", obra criada para a galeria londrina White Cube, composta por grades de ferro que impregnam as paredes, como a formar desenhos, ao mesmo tempo em que, em certos momentos, revelam-se grades reais. A colombiana sempre busca trabalhar com a manutenção da memória e, aqui, refere-se não só aos campos de concentração nazistas como à base americana em Guantánamo, ao mesmo tempo que transforma o próprio cubo branco em prisão. Trata-se aqui de uma obra complexa e veemente, que não precisa de muitos elementos para passar seu recado.

INHOTIM - (GALERIAS ADRIANA VAREJÃO E DORIS SALCEDO)
Onde: r. B, 20, Brumadinho, Minas Gerais; tel. 0/xx/31/3227-0001
Quando: qui. e sex., das 9h30 às 16h30; sáb. e dom., das 9h30 às 17h30
Quanto: R$ 10
Avaliação: bom



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