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Crítica/Artes
Varejão e Salcedo ganham pavilhões "opostos"
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BRUMADINHO (MG)
Inaugurados há seis meses,
dois novos pavilhões, um
dedicado a Adriana Varejão e outro à colombiana Doris
Salcedo, criam pólos absolutamente opostos em Inhotim, o
Centro de Arte Contemporânea do colecionador Bernardo
Paz: enquanto o primeiro é exagerado, especialmente no confronto com a arquitetura, o outro é minimalista.
O pavilhão dedicado a Varejão, que é casada com Paz, torna-se o local com presença
mais forte entre os demais espaços de Inhotim, que conta
agora com nove galerias. Um
imenso bloco retangular de
concreto, projeto do arquiteto
Rodrigo Cerviño Lopez, paira
sobre um espelho d'água, que
tem no centro um banco de
azulejos com plantas alucinógenas como motivo.
O grande bloco de concreto
abriga várias obras de Varejão,
começando por "Linda do Rosário", de 2004, da série Charques, na qual azulejos são formados a partir de muros que simulam carne. Obra que aborda
questões recorrentes na carreira da artista, como a violência, a
história da arte e a arquitetura,
instalada em frente à asséptica
"O Colecionador", da recente
série das saunas, ganha ainda
maior dramaticidade.
"O Colecionador", por sua
vez, montado num canto da sala, produz um intenso diálogo
com a arquitetura, simulando
ser a continuidade do espaço
real, o que confirma a competência da artista como pintora e
é o melhor momento do local.
Se fosse mais despojada, como ocorre com a de Salcedo, a
galeria poderia potencializar
mais os trabalhos, mas há um
afã em questionar ou aproveitar-se da arquitetura, que o embate não parece profícuo, como
colocar no teto o políptico
"Carnívoras", de visibilidade
confusa. O exagero na ocupação do espaço faz, contudo,
uma referência ao barroco,
constante nas obras de Varejão,
como se pode ver na sala com
os famosos "azulejões".
Já Salcedo consegue, com galeria mais discreta, por fora e
por dentro, grande intensidade. O pavilhão abriga "Neither",
obra criada para a galeria londrina White Cube, composta
por grades de ferro que impregnam as paredes, como a formar
desenhos, ao mesmo tempo em
que, em certos momentos, revelam-se grades reais.
A colombiana sempre busca
trabalhar com a manutenção
da memória e, aqui, refere-se
não só aos campos de concentração nazistas como à base
americana em Guantánamo, ao
mesmo tempo que transforma
o próprio cubo branco em prisão. Trata-se aqui de uma obra
complexa e veemente, que não
precisa de muitos elementos
para passar seu recado.
INHOTIM - (GALERIAS ADRIANA VAREJÃO E DORIS SALCEDO)
Onde: r. B, 20, Brumadinho, Minas Gerais; tel. 0/xx/31/3227-0001
Quando: qui. e sex., das 9h30 às 16h30; sáb. e dom., das 9h30 às 17h30
Quanto: R$ 10
Avaliação: bom
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