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Em Frankfurt, representação peruana é pequena entre latinos
Para editores do país presentes na feira de livros, prêmio pode atrair a atenção do governo e de leitores
Para o escritor Raúl
Cragg, título ajudará a
separar figura política
de avaliação estética
da
obra do autor
MARCOS FLAMÍNIO PERES
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT
O país natal do novo Nobel
de Literatura, o peruano Mario Vargas Llosa, não dispõe
de representação oficial na
maior e mais importante feira de livros que existe.
Os três estandes acanhados -e bancados inteiramente por pequenas editoras
independentes-, contrastam com as chamativas representações oficiais dos vizinhos latino-americanos,
como Argentina -convidada
de honra do evento-, México, Colômbia e mesmo Brasil.
Luis Zúniga Morales, dono
da Borrador Editores, disse à
Folha ter pago sozinho os
custos para montar seu estande em Frankfurt.
"Gastei cerca de US$
3.000 [aproximadamente R$
5.000], entre passagens aéreas, hospedagem e alimentação", afirma.
Para ele, não há interesse
na Câmara Peruana do Livro
em promover a literatura.
"Minha esperança é de que,
com o Nobel, o governo veja
o quanto ela é importante
para um país."
Já Pierre Emile Vandoorne, 32, dono da Editorial Matalamanga e presidente da
Aliança Peruana de Editores
Independentes, diz que Lima
sempre privilegiou o patrimônio material.
"Por conta da grande riqueza arqueológica do país,
o patrimônio imaterial [como a literatura] acabou sendo preterido", afirma.
Ambos esperam que o Nobel a Vargas Llosa mude o
estado de indigência da literatura peruana.
Já o escritor Raúl Cragg
-que teve sua obra "Voela,
Lulu" (voa, Lulu) publicada
pelo mesmo grupo que detém os direitos da obra do
novo Nobel, o espanhol Santillana- não pensa dessa
maneira.
Para ele, a literatura de
seu país não é reconhecida
como de grande tradição.
"Há uma parte enorme da
população que simplesmente não lê", diz Cragg, 49.
Mas ressalta que existe
uma presença forte de contadores de história. "A oralidade tem grande importância
para os peruanos, seja por
meio de leituras ao vivo, seja
por programas de rádio."
E complementa: "Acho
que o Nobel não irá mudar
esse estado de coisas".
O HOMEM E A OBRA
Morales e Vandoorne preveem que o prêmio será importante para os peruanos
começarem a separar o Vargas Llosa escritor do político.
"É hora de deixar de ver
Vargas Llosa como personagem político e cultural e começar a vê-lo como escritor,
analisá-lo em nível estético",
diz Morales.
Cragg também se diz admirador da obra. "Mas não
sou partidário de suas opiniões. É uma pessoa para
quem o fim justifica os
meios, o que é muito difícil
de aceitar."
Para ele, "Vargas Llosa
sempre foi famoso, com ou
sem o Nobel. O prêmio simplesmente ratifica isso".
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