São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

livros

'Todo romancista se acha um pouco deus'

Na primeira obra literária desde o Booker Prize, em 2005, John Banville coloca deuses do Olimpo entre humanos

Assim como no premiado 'O Mar', o autor irlandês parte da morte para falar da vida em 'Os Infinitos'

RAQUEL COZER
DE SÃO PAULO

Em 2005, não bastou derrotar nomes como Julian Barnes e Kazuo Ishiguro na corrida pelo cobiçado Booker Prize. Ao ter seu romance "O Mar" anunciado vencedor, o irlandês John Banville disparou: "É bom ver uma obra de arte ganhar [para variar]".
A provocação obrigou o autor de 65 anos, que cedo se resignou à fama de elitista, a se explicar incansáveis vezes em entrevistas -o que não se pode dizer que tenha abalado sua autoestima.
Ao falar à Folha por telefone, de Dublin, sobre seu novo livro, "Os Infinitos", Banville compara o próprio esforço ao de ninguém menos que seu mais célebre conterrâneo.
"Quis fazer neste romance algo como James Joyce fez com a 'Odisseia', de Homero, em 'Ulisses'", afirma.
Se Joyce homenageou em sua obra-prima o fundador da literatura ocidental, Banville dedicou sua reverência a nome menos conhecido. O trabalho que buscou emular em "Os Infinitos" foi a peça "Amphitryon", do alemão Heinrich von Kleist (1777-1811).
"A versão de Kleist para o mito grego é uma das maiores obras da literatura europeia, e o que me assusta é que ele não é tão conhecido, ao menos na língua inglesa. Eu o tive em mente por toda a minha vida como escritor."
Mas Banville afirma que a peça, que ele próprio chegou a levar para os palcos na Irlanda, acabou se tornando apenas um esqueleto do romance, que ganhou autonomia ao longo do processo.
"Os Infinitos" parte da reunião de uma família em torno do leito de morte de um premiado matemático, Adam Godley. Mas os humanos são só parte da história, narrada por Hermes, filho de Zeus.
"Nunca nos afastamos -vocês simplesmente pararam de nos parecer divertidos", explica o deus narrador, antes de revelar as brincadeiras dele, de seu pai e de outros habitantes do Olimpo na insuspeita rotina dos Godley -o que inclui a sedução de Helen, nora do matemático, por Zeus, durante o que ela pensa que é um sonho.
O deus narrador é também um pouco o deus escritor, admite Banville. "Todo romancista se acha um pouco deus, e até certo ponto nós somos, ao inventar mundo e personagens para habitá-los e brincar com seus destinos."
A morte, tema central também em "O Mar", é mote para meditações sobre a vida. "Rex, o cão de 'Os Infinitos', passa o tempo tentando entender qual o problema dos humanos, e o problema é que eles sabem que vão morrer. É nossa glória e nossa tragédia."
Lançado em 2009, "Os Infinitos" é o primeiro trabalho literário de Banville desde a provocação aos colegas escritores. No ínterim, quem produziu mais foi Benjamin Black, pseudônimo com que o autor assina romances policiais.

OS INFINITOS
AUTOR John Banville
EDITORA Nova Fronteira
TRADUÇÃO Maria Helena Rouanet
QUANTO R$ 39,90 (276 págs.)



Texto Anterior: Coleção Folha apresenta "O Deserto Vermelho"
Próximo Texto: Raio-X: John Banville
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.