São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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Rock, punk, pop, electro, dance; cidade aglutina novas bandas e tendências em quantidade, gênero e qualidade nunca vistos

Nova York, nova ordem

LÚCIO RIBEIRO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

A espetacular revitalização do rock, em processo desde que o grupo norte-americano Strokes gritou "Last Nite" e puxou uma fila imensa de novas bandas rumo ao olhar mainstream, caminha ampla, geral e irrestrita.
Essa higienização da então mofada música pop (localize-se: 2000/2001) custou a salvação de várias revistas especializadas em som independente, provocou o surgimento de outras, a reforma de publicações veteranas, chamou a atenção da imprensa sisuda, criou novos selos, estimulou a cultura dos MP3s, devolveu a graça à MTV, impulsionou festivais por toda parte.
Agora que a poeira está baixando, algumas coisas ficam claras. Uma delas é que dentro do macrouniverso deste novo rock (localize-se: grupos americanos, ingleses, escoceses, suecos, australianos) existe um microuniverso bastante cintilante, que se revela, digamos, como a sede desses novos caminhos da música pop.
Esse local vibrante está no mapa nesta página, onde as setas indicam: a cidade de Nova York, ou, como vem sendo chamada, "The New Rock City".
Isso ficou escancarado com o megaevento indie CMJ Music Marathon, que aconteceu na semana passada na principal cidade norte-americana. Por quatro dias, a música independente movimentou cerca de 900 grupos por 50 clubes.
O festival do CMJ, entre outros bons serviços à nova música jovem, evidenciou ainda mais a riqueza da cena local. Nova York e seus prédios gigantes têm sido balançados pela maior composição de rock, pop, punk, indie-dance, garagem, música eletrônica jamais vista num mesmo tempo em um mesmo lugar. Em quantidade e principalmente qualidade.
Depois do evento Strokes, a cidade faz pulular um sem-número de bandas das mais variadas tendências atuais, revivalistas ou não, que percorrem seus infinitos clubes, estão em destaque na prateleiras das megalojas, em clipes da MTV, atravessam a ponte e fazem do bairro do Brooklyn um outro efervescente centro de moda, som e atitude.
Os nomes são tantos: Yeah Yeah Yeahs, Rapture, Liars, Walkmen, Interpol, !!!, Radio 4, French Kicks, Moldy Peaches, Mooney Suzuky, W.I.T., Fischerspooner, Ben Kweller. E continua.
"A atenção sobre as bandas da cidade já está ficando insuportável, mas acho isso até bom, enquanto não destruir a cena", disse, à Folha, o líder da banda Radio 4, Anthony Roman.
"Aqui em Nova York, a música viaja pelos prédios, está em todo lugar, na superfície e nos porões. Tem as lojas, tem os clubes, tem revistas, tem jornais, as pessoas só andam com discman. Aqui você tem que ter uma banda."
NY está nas letras dessas bandas, nas camisetas que vestem, nas roupas, nas capas dos discos, como essa da ilustração amarela desta página, que serve como capa do CD da banda The Rapture.
"We've got our finger on the pulse of America" (Temos nosso dedo na pulsação da América), brada o cantor do nativo Liars.
No CMJ, show de banda nova-iorquina era uma festa, uma celebração. Na noite do Halloween, quinta-feira passada, !!! e Yeah Yeah Yeahs, de nomes diferentes e simbólicos, tocaram no mesmo lugar, no Irving Plaza.
O lugar encheu, ferveu, as bandas foram excelentes, o jornal "New York Times" adorou.
Strokes já lota grandes festivais na Europa. Radio 4 e Walkmen, "bandinhas" locais, já têm programadas vastas turnês no Velho Continente. Garotas inglesas copiam as roupas e o batom estourado da vocalista do Yeah Yeah Yeahs. O Brasil em breve recebe em edição nacional, via Trama, o disco de estréia do ótimo Interpol.
A cena de Nova York tem abduzido músicos de outras partes dos Estados Unidos. O menino-prodígio Ben Kweller, revelação do Texas e com disco já lançado por aqui, se mudou para Manhattan para fazer carreira.
O grupo !!!, pronuncia-se Chik Chik Chik, surgiu na Califórnia, mas começa a acontecer agora, depois que levou seu indie dance para Nova York.
"Repito: enquanto esta fase não for comida pela própria fama, Nova York é o lugar para aqueles que acordam de manhã e a primeira coisa que fazem é ligar o som e botar um CD", disse Roman, do Radio 4, para resumir.


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