São Paulo, quinta-feira, 08 de novembro de 2007

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TRECHO

O homem que acabara de entrar na sala era incrivelmente parecido comigo! Era como se fosse eu...
e num primeiro momento foi o que eu pensei. Tive a impressão de que alguém, para se divertir às minhas custas, tivesse me feito entrar novamente na sala pela porta oposta à que eu usara, dizendo: veja, assim é que devia ser sua aparência, por essa porta é que você devia ter entrado, esses gestos é que devia fazer com as mãos, olhando assim para o homem já presente na sala, que o contempla desta maneira.
Quando nossos olhos se encontraram, trocamos um cumprimento. Mas ele não parecia nada surpreso. Então, decidi que não éramos tão parecidos, pois ele usava barba; e, além disso, eu tinha a impressão de haver esquecido como era meu rosto. Quando ele sentou diante de mim, percebi que fazia um ano que não me olhava no espelho.

Extraído de "O Castelo Branco", de Orhan Pamuk

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