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Supergêmeos, ativar!
Novos equipamentos revolucionam cenas de gêmeos na TV; em "Viver a Vida", dublê grava e computador troca a cabeça pela do ator
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Peraí! Esse bonitão que faz os
gêmeos da novela das oito da
Globo tem mesmo um irmão
idêntico na vida real? Às vezes,
até parece que sim.
Jorge e Miguel, interpretados por Mateus Solano, 28, em
"Viver a Vida", vivem aparecendo nas mesmas cenas. Eles se
abraçam, dão as mãos, e um já
deu até uma chave de braço no
outro, com o rosto dos dois
mostrados pelas câmeras.
Os novos programas de computador são capazes de tantos
truques que não se fazem mais
gêmeos de novela como antigamente. Foi um "evento nacional" o único momento em que
Quinzinho e João Victor, os famosos gêmeos de Tony Ramos,
61, em "Baila Comigo" (Globo,
1981), se encontraram (a cena
pode ser vista no Youtube).
Manoel Carlos, 77, um dos
fundadores da TV brasileira e
autor de "Baila Comigo" e "Viver a Vida", se impressiona:
"Hoje nada mais é impossível, a
criação está totalmente livre.
Escrevo as cenas dos gêmeos e
nem preciso ligar para o Jayme
[Monjardim, diretor de "Viver
a Vida"] para ver se dá para gravar. Em "Baila Comigo" era tão
complicado mostrar os dois
juntos que eles só puderam se
encontrar no final".
O autor diz não economizar
em cenas com os irmãos em
"Viver a Vida". "Mas também
não abuso, porque há um custo
e muitas horas de trabalho nas
gravações e para a equipe de
computação gráfica."
O diretor Alexandre Avancini, que já fez novelas com gêmeos na Globo e na Record,
conta que um dos equipamentos modernos para as cenas em
que os irmãos idênticos aparecem lado a lado e em movimento chama-se "motion control".
"É uma câmera que custa uns
600 mil, e o aluguel no Brasil
varia de R$ 40 mil a R$ 50 mil
por dia. É programada pelo
computador e anda em um trilho para fazer o mesmo movimento ao gravar separadamente cada personagem. Assim, as
imagens têm o mesmo tempo e
podem ser "coladas"." A colagem, feita digitalmente, chama-se "wipe".
Nas novelas mais antigas, o
jeito era abusar das cenas em
que um dos gêmeos aparecia de
frente e o outro, um dublê com
corpo e cabelo parecidos com o
do ator, ficava de costas -o que
hoje também é usado, mas com
menor frequência.
O processo era complicado
para as raras cenas em que o
rosto dos dois personagens
aparecia. "A gente gravava primeiro um personagem de um
lado do cenário, depois o outro,
do outro lado, cortava as fitas
com gilete e colava as metades", conta Nilton Travesso, 75,
veterano diretor.
Com esse processo antigo,
ele diz ter mostrado, pela primeira vez, uma pessoa "duplicada" na TV brasileira. "Foi em
1964, no programa "Dia D", da
Record, em que eu trabalhava
também com o Manoel Carlos.
"Resolvemos colocar a Hebe
para cantar com ela mesma. Fizemos uma primeira gravação
e colocamos o vídeo para ela
ver e ir complementando os
trechos da música, posicionada
do outro lado do cenário. Ela
não conseguia entender direito
o que queríamos fazer."
Travesso lembra a "complicação" de uma novela também
de 1964, da Record, em que Eva
Wilma, 75, fazia trigêmeas
("Prisioneiro de um Sonho").
"Se as três "contracenavam",
precisávamos gravar umas cinco vezes. Para colar as imagens,
a atriz não podia se movimentar muito para não invadir o
campo da outra personagem.
Seus gestos tinham de ser sutis
e sempre para frente."
A atriz tem ainda na carreira
as célebres gêmeas Ruth e Raquel, da primeira versão de
"Mulheres de Areia" (Tupi,
1973/74), refeita na Globo, em
1993, com Glória Pires, 46.
Se, para diretores e equipe
técnica, gêmeos dão trabalho,
para o ator a vida também não
é fácil. "É muito texto para decorar, muita troca de roupa e
tem que mudar de personalidade em segundos. Às vezes dou
uns pulos antes de entrar em
cena", conta Mateus Solano.
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