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Obras da África dependem
de festivais
DE SÃO PAULO
"Quero ajudar a construir a memória do Chade.
Quando comecei a filmar,
me perguntei: o que eu tenho dentro da minha cabeça como imagem do
meu país? Nada, porque
ninguém nunca filmou."
Com essa frase, o cineasta Mahamat-Saleh
Haroun mostra o quanto
fazer cinema num país
africano tende a ser um
voo de pássaro isolado.
Se isso traz certa liberdade artística? "Não, o que
traz é uma grande solidão.
Uma imagem não pode
existir sozinha. Ela tem
que fazer parte de outras
imagens, se relacionar."
Além de Haroun, o Chade tem um segundo diretor
de filmes ficcionais e uma
documentarista que, por
ter mostrado, de maneira
crua e radical, a violência
da guerra civil, chegou a
sofrer ameaças de morte.
Na maioria dos países
africanos as coisas são
mais ou menos assim.
"Mesmo quando filmam,
os cineastas africanos não
conseguem se comunicar
com seu público porque o
público, simplesmente,
não tem acesso aos filmes", diz Christian Boudier, que trabalhou no financiamento a filmes africanos no Ministério da
Cultura, na França, e lançará "Um Homem que Grita" no Brasil.
"O Haroun e outros da
sua geração são financiados pela Europa e dependem dos festivais para
mostrar os filmes", anota,
referindo-se a nomes como Souleymane Cissé, do
Mali, e Idrissa Ouedraogo,
de Burkina Faso.
As exceções à ausência
de imagens próprias são
países como Marrocos, Tunísia, África do Sul e Nigéria. Em Burkina Faso a produção não é grande, mas é
conhecida pela qualidade.
Além disso, o país é sede
de um grande festival de
cinema africano, mundialmente respeitado.
É esse, inclusive, o
evento-farol de Zózimo
Bulbul, organizador do 4º
Encontro de Cinema Negro, que será aberto hoje
no Rio e se estende até o
dia 14 em cinco salas.
"Esse festival de Burkina Farso exibe uns 500 filmes", diz Bulbul. "Nem todos são bons, claro, mas
isso mostra que a África está tentando se comunicar
pelo audiovisual. O problema é que o mundo não
se interessa pelo que se
produz lá."
O encontro brasileiro,
que terá Haroun num debate, na quarta-feira, reúne produções da Nigéria,
da África do Sul e da Costa
do Marfim.
(APS)
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