São Paulo, segunda-feira, 08 de novembro de 2010

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Obras da África dependem de festivais

DE SÃO PAULO

"Quero ajudar a construir a memória do Chade. Quando comecei a filmar, me perguntei: o que eu tenho dentro da minha cabeça como imagem do meu país? Nada, porque ninguém nunca filmou."
Com essa frase, o cineasta Mahamat-Saleh Haroun mostra o quanto fazer cinema num país africano tende a ser um voo de pássaro isolado.
Se isso traz certa liberdade artística? "Não, o que traz é uma grande solidão. Uma imagem não pode existir sozinha. Ela tem que fazer parte de outras imagens, se relacionar."
Além de Haroun, o Chade tem um segundo diretor de filmes ficcionais e uma documentarista que, por ter mostrado, de maneira crua e radical, a violência da guerra civil, chegou a sofrer ameaças de morte.
Na maioria dos países africanos as coisas são mais ou menos assim. "Mesmo quando filmam, os cineastas africanos não conseguem se comunicar com seu público porque o público, simplesmente, não tem acesso aos filmes", diz Christian Boudier, que trabalhou no financiamento a filmes africanos no Ministério da Cultura, na França, e lançará "Um Homem que Grita" no Brasil.
"O Haroun e outros da sua geração são financiados pela Europa e dependem dos festivais para mostrar os filmes", anota, referindo-se a nomes como Souleymane Cissé, do Mali, e Idrissa Ouedraogo, de Burkina Faso.
As exceções à ausência de imagens próprias são países como Marrocos, Tunísia, África do Sul e Nigéria. Em Burkina Faso a produção não é grande, mas é conhecida pela qualidade. Além disso, o país é sede de um grande festival de cinema africano, mundialmente respeitado.
É esse, inclusive, o evento-farol de Zózimo Bulbul, organizador do 4º Encontro de Cinema Negro, que será aberto hoje no Rio e se estende até o dia 14 em cinco salas.
"Esse festival de Burkina Farso exibe uns 500 filmes", diz Bulbul. "Nem todos são bons, claro, mas isso mostra que a África está tentando se comunicar pelo audiovisual. O problema é que o mundo não se interessa pelo que se produz lá."
O encontro brasileiro, que terá Haroun num debate, na quarta-feira, reúne produções da Nigéria, da África do Sul e da Costa do Marfim. (APS)


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