São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileira lança primeira biografia feita com acesso total ao arquivo do líder cubano

Fidel Castro sem filtro

Reprodução de "Fidel Castro - Uma Biografia Consentida"
Fidel Castro nos anos 70 com duas marcas registradas: a farda verde-escura e o inseparável charuto


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tradicional reduto de olarias, o bairro de Ramos, na zona norte do Rio, está vendo nascer "tijolões" que podem ajudar a reconstruir partes importantes da história do século 20. Lá está a gráfica onde estão sendo impressas as mais de mil folhas de cada exemplar de "Fidel Castro - Uma Biografia Consentida", de Claudia Furiati.
Jornalista e historiadora carioca, a autora tem bons argumentos para sustentar que fez o trabalho mais completo sobre o homem que dirige Cuba desde 1959.
O livro, que começa a chegar às prateleiras nesta segunda-feira, publicado pela editora Revan, é o primeiro feito com acesso irrestrito à Oficina de Assuntos Históricos do Conselho de Estado da República de Cuba, nome pomposo do arquivo de Fidel Castro.
Da quase década que gastou fazendo o retrato do ditador, Furiati usou três anos apenas para escarafunchar as centenas de cadernos, pastas e envelopes depositados nessa discreta casa de paredes beges, jardinzinho e janelas com vidro escuro que mesmo em Havana poucos sabem onde fica.
Dessas "20 mil léguas submarinas" aos documentos, ela saiu com o arpão cheio de novidades.
Fidel Alejandro Castro Ruz não se chamou oficialmente Fidel Castro até seus 14 anos. Antes, foi, e o mundo não sabe disso, Fidel Hipólito Ruz Gonzalez. Chamou também (não é invenção deste repórter em causa própria) Fidel Casiano Ruz Gonzalez. E mais. Poucos em Cuba sabem, mas quando comemoraram em 13 de agosto deste ano os 75 anos do "comandante", deveriam, a julgar pela pesquisa de Furiati, ter assoprado 74 velas.
O velho Angel, pai de Fidel, teria dado cem pesos ao secretário do juiz da comarca para que ele alterasse a certidão de nascimento do pimpolho de 1927 para um ano atrás. Desse modo, Titín, como era conhecido, poderia pular logo para o segundo grau do colégio.
E não é só de sintonias finas que é feito o calhamaço. "Biografia Consentida", que tem seus direitos vendidos para editoras de mais de uma dezena de países, incluindo desde Canadá, Itália e Espanha até Israel, Rússia e China, traz grandes fatias desconhecidas da trajetória do dirigente.
Todo o período entre o momento em que Fidel acomodou pela primeira vez seus generosos 5,4 quilos no bercinho feito de ferro até o ataque frustrado ao quartel Moncada, em 1953, estréia nos grandes acontecimentos históricos, é praticamente inédito.
A riqueza de detalhes não vem só da imersão ao arquivo de Fidel. Furiati entrevistou mais de cem pessoas, incluindo quatro conversas com o protagonista do livro.
A pesquisadora, que tem 46 anos, conheceu o presidente cubano em 1986. Conquistou sua fidelidade, porém, só quando publicou seu primeiro livro.
No polêmico "ZR - O Rifle Que Matou Kennedy", lançado em 93 no Brasil e um ano depois nos EUA (com elogios de Oliver "JFK" Stone), ela esmiúça o que o serviço secreto cubano sabia sobre o assassinato de Kennedy, em 63, e como isso poderia se ligar a complôs da CIA para matar Fidel.


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Sem embargo, Fidel
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.