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CINEMA
Thierry Frémaux diz que pretende aumentar a participação de filmes latino-americanos no festival francês em 2002
Diretor de Cannes "espiona" brasileiros
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
"Vejo uns 600 filmes e às vezes
digo sim." Thierry Frémaux, diretor artístico do Festival de Cannes, faz uma descrição propositalmente desapaixonada de seu trabalho, porque sabe que o resultado de suas escolhas reverbera como poucos.
"Quando mostramos um filme
em Cannes, fazemos uma enorme
publicidade para o cineasta e seu
país", afirma.
No Brasil desde a última quarta
-Frémaux participa do fórum de
debates sobre fomento ao cinema
promovido pela mostra Curta Cinema - Festival Internacional de
Curtas-Metragens do Rio-, o diretor diz que sua vinda ao país
não é uma garantia de que haverá
brasileiros na Croisette em maio
de 2002, mas afirma que até amanhã (data de sua partida) dará
atenção a todos os filmes que quiserem lhe mostrar.
O diretor faz segredo, no entanto, sobre os encontros agendados
no Brasil e os recursos que usa para avaliar filmes ainda não concluídos, já que o ineditismo é requisito em Cannes. "Faço tudo o
que é necessário para escolher um
filme. Mas isso é um mistério. Até
20 de abril, quando faremos a entrevista coletiva para anunciar os
concorrentes, tudo é segredo absoluto", diz.
Tendências curatoriais, ao menos, podem ser explicitadas. Do
Brasil, Frémaux viaja à Argentina,
também com o propósito de avaliar a produção local. Ele afirma
que a intenção é fazer crescer, nos
próximos anos, a participação latino-americana no festival.
"Estou aqui para ver quantos filmes haverá e quais são. Não é
uma garantia de seleção, mas é
pelo menos um sinal de que o Festival de Cannes quer fazer esforços para ter essa produção."
O aumento do número de títulos norte-americanos em Cannes,
ocorrido na última década, gerou
críticas dentro e fora da França.
Frémaux integra a organização
do festival desde 1979 e assumiu
sua direção artística no ano passado, quando o decano Gilles Jacob
recolheu-se da cena principal. "O
Festival de Cannes existe para fazer descobertas. Se temos um luxo e um privilégio é o de que,
quando escolhemos um filme,
não nos perguntamos se ele é comercial ou não. Só mostramos
um filme porque ele é importante
do ponto de vista estético", diz.
Reiterar nomes consagrados e
revelar novos talentos é outra
equação típica de Cannes. Frémaux admite ambos os objetivos,
mas afirma que não há privilégio
a um ou a outro.
"Estabelecemos para os filmes o
mesmo que está na Declaração
dos Direitos do Homem: "todos
nascem livres e iguais em direito".
Obviamente há a seleção, que é algo subjetivo e difícil. Às vezes cometemos erros, outras -a maioria- temos razão. Mas nunca decidimos a priori", diz.
E o que acontece a partir daí pode ser resumido por aquela segunda "declaração" -de tom
anedótico e racista- que revê a
primeira: todos são iguais, mas alguns são mais iguais.
"Há hoje um debate muito extenso, mas acho que podemos
considerar que o sucesso chama o
sucesso. Roberto Benigni, por
exemplo, é uma estrela internacional. Antes de "A Vida É Bela"
[Prêmio do Júri em Cannes e Oscar de melhor filme estrangeiro"
ele já era um cineasta muito bom.
E continua o mesmo, com a mesma personalidade, só que depois
que se tornou conhecido, tudo
mudou. Existe essa espécie de divisão entre ser desconhecido e célebre, maldito ou milagroso", diz.
A jornalista Silvana Arantes viajou a
convite da mostra Curta Cinema
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