São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2001

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CINEMA

Thierry Frémaux diz que pretende aumentar a participação de filmes latino-americanos no festival francês em 2002

Diretor de Cannes "espiona" brasileiros

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

"Vejo uns 600 filmes e às vezes digo sim." Thierry Frémaux, diretor artístico do Festival de Cannes, faz uma descrição propositalmente desapaixonada de seu trabalho, porque sabe que o resultado de suas escolhas reverbera como poucos.
"Quando mostramos um filme em Cannes, fazemos uma enorme publicidade para o cineasta e seu país", afirma.
No Brasil desde a última quarta -Frémaux participa do fórum de debates sobre fomento ao cinema promovido pela mostra Curta Cinema - Festival Internacional de Curtas-Metragens do Rio-, o diretor diz que sua vinda ao país não é uma garantia de que haverá brasileiros na Croisette em maio de 2002, mas afirma que até amanhã (data de sua partida) dará atenção a todos os filmes que quiserem lhe mostrar.
O diretor faz segredo, no entanto, sobre os encontros agendados no Brasil e os recursos que usa para avaliar filmes ainda não concluídos, já que o ineditismo é requisito em Cannes. "Faço tudo o que é necessário para escolher um filme. Mas isso é um mistério. Até 20 de abril, quando faremos a entrevista coletiva para anunciar os concorrentes, tudo é segredo absoluto", diz.
Tendências curatoriais, ao menos, podem ser explicitadas. Do Brasil, Frémaux viaja à Argentina, também com o propósito de avaliar a produção local. Ele afirma que a intenção é fazer crescer, nos próximos anos, a participação latino-americana no festival.
"Estou aqui para ver quantos filmes haverá e quais são. Não é uma garantia de seleção, mas é pelo menos um sinal de que o Festival de Cannes quer fazer esforços para ter essa produção."
O aumento do número de títulos norte-americanos em Cannes, ocorrido na última década, gerou críticas dentro e fora da França.
Frémaux integra a organização do festival desde 1979 e assumiu sua direção artística no ano passado, quando o decano Gilles Jacob recolheu-se da cena principal. "O Festival de Cannes existe para fazer descobertas. Se temos um luxo e um privilégio é o de que, quando escolhemos um filme, não nos perguntamos se ele é comercial ou não. Só mostramos um filme porque ele é importante do ponto de vista estético", diz.
Reiterar nomes consagrados e revelar novos talentos é outra equação típica de Cannes. Frémaux admite ambos os objetivos, mas afirma que não há privilégio a um ou a outro.
"Estabelecemos para os filmes o mesmo que está na Declaração dos Direitos do Homem: "todos nascem livres e iguais em direito". Obviamente há a seleção, que é algo subjetivo e difícil. Às vezes cometemos erros, outras -a maioria- temos razão. Mas nunca decidimos a priori", diz.
E o que acontece a partir daí pode ser resumido por aquela segunda "declaração" -de tom anedótico e racista- que revê a primeira: todos são iguais, mas alguns são mais iguais.
"Há hoje um debate muito extenso, mas acho que podemos considerar que o sucesso chama o sucesso. Roberto Benigni, por exemplo, é uma estrela internacional. Antes de "A Vida É Bela" [Prêmio do Júri em Cannes e Oscar de melhor filme estrangeiro" ele já era um cineasta muito bom. E continua o mesmo, com a mesma personalidade, só que depois que se tornou conhecido, tudo mudou. Existe essa espécie de divisão entre ser desconhecido e célebre, maldito ou milagroso", diz.


A jornalista Silvana Arantes viajou a convite da mostra Curta Cinema

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