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São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2003

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450 ANOS

Evento "Os Nascimentos de São Paulo" reúne no teatro São Pedro intelectuais para falar da formação da cidade

Pensadores passeiam pela "pré-história" de SP

Folha Imagem
Missa em frente ao Pátio do Colégio em 1954, em comemoração do 4º Centenário de São Paulo


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de "bandeirantes" experimentados faz hoje em São Paulo uma espécie de "entrada" aos 450 anos da cidade.
Um dos primeiros grandes eventos na agenda do aniversário paulistano, o seminário "Os Nascimentos de São Paulo" reúne no histórico teatro São Pedro oito pensadores de diversas áreas para uma expedição aos primeiros respiros de São Paulo de Piratininga.
O "Anhanguera", "Anchieta" ou "Tibiriçá" do evento, que começa às 9h e acaba dez horas depois, é o jornalista e escritor Eduardo Bueno, que o concebeu e coordenará as mesas, com as presenças de intelectuais como Aziz Ab'Saber e Nicolau Sevcenko.
Bueno, autor da série de livros Terra Brasilis (Objetiva), escalou o time dos palestrantes de olho no tripé inicial de personagens da cidade: os indígenas, os jesuítas e os bandeirantes. É nesses momentos "fundadores" da cidade que estarão centradas as falas -o organizador do evento brinca que gostaria de batizá-lo de "A Fundação de São Paulo", mas que desistiu para não "afundar" a cidade.
Fundação ou nascimento, o seminário começa pela "pré-história". Benedito Prezia falará sobre os habitantes originais dos campos de Piratininga, os tupiniquins, e sua relação atabalhoada com os colonizadores europeus.
O historiador deve contar como uma revolta dos indígenas, oito anos depois do marco zero de São Paulo, quase acabou com a cidade, episódio que descreve no livro "A Guerra de Piratininga" (FTD).
O passo seguinte do seminário, todo gratuito, é um passo atrás, séculos atrás. Um dos principais geógrafos do país, Aziz Ab'Saber vai destrinchar a formação geológica do planalto paulista e suas implicações históricas.
As "implicações históricas" discutidas por Lilia Moritz Schwarcz, na sequência, são outras. "Ela vai contar como os Institutos Históricos e Geográficos e o Museu Paulista moldaram a visão que se tem hoje do começo de São Paulo e como forjaram mitos como o dos bandeirantes", adianta Bueno.
No início da tarde, o teatro São Pedro é dos jesuítas. É a historiadora Maria Aparecida Lomonaco quem falará sobre Manoel da Nóbrega, Anchieta, Leonardo Nunes e os traços que suas missões deixaram na arquitetura da cidade.
Já o urbanista Luis Augusto Kehl deixa a arquitetura em segundo plano para falar dos jesuítas de um ponto de vista espiritual. Ele vai falar de como o misticismo cristão influenciou na escolha das datas e dos lugares específicos do início de São Paulo.
A "aula de anatomia" dá então um salto triplo até o início do século 20. "Vou falar de um momento prodigiosamente peculiar", conta Nicolau Sevcenko.
Ele pinçou os anos 20 e a gênese do modernismo brasileiro. "A Semana de 22 é ao mesmo tempo um marco local, de São Paulo, mas com um projeto nacional e inserido num mundo que se via renascido das cinzas, após a Primeira Guerra Mundial", diz.
O encerramento de "Os Nascimentos de São Paulo", evento que inaugura uma série de iniciativas do banco Nossa Caixa comemorativas dos 450 anos, terá um personagem do quarto centenário.
Em 1954, Hernâni Donato foi chefe do Setor de Ações Populares do Comitê dos 400 Anos de São Paulo. Botou 21 circos para marchar pela cidade, participou da organização da famosa "chuva de prata", fez eleição do "melhor vira-lata" da cidade. Hoje historiador de vasta obra, com 81 anos, ele vai relembrar essas histórias e fazer uma homenagem às mulheres. "Todos se esquecem, mas elas tiveram papel fundamental no começo de São Paulo. Tiveram até funções administrativas, como consertar pontes", diz Donato.


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