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São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2003

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POLÍTICA CULTURAL

Em feira em Salvador, lógica prevalece sobre programação

Mercado Cultural revê "eventismo"

ISRAEL DO VALE
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Não há espetáculo capaz de exprimir o sentido de um "não-evento" como o Mercado Cultural de Salvador. Por excepcional que ele seja.
Seria fácil dizer que uma artista como a cantora suíça Laurence Revey aprisiona os sentidos da platéia de maneira pouco palpável, em seus devaneios ancestrais e mântricos. Que o grupo percussivo paulistano Barbatuques, em sua inusitada sinfonia de tabefes no próprio corpo, seduz pela cumplicidade lúdica.
Mas nenhum dos atributos ou atrações, isoladamente ou em conjunto, poderia ser a súmula do que seja peregrinar pelo sem-número de espetáculos, mostras ou debates nestes seis dias que terminaram ontem. Porque no Mercado o que está em questão não é a programação, mas a lógica.
Com orçamento comparável ao dos maiores festivais culturais do país, uma multiplicidade de atrações idem e um caleidoscópio de idéias de tirar o fôlego, o Mercado Cultural cumpre papel preponderante na necessária revisão da era do eventismo.
Mesmo que se trafegue no limite de raciocínio do "showbiz" (o que move as pessoas até Salvador é a perspectiva de "gerar negócios"), há um conceito por fora, que talvez possa ser resumido na imagem do escambo -seja de produtos, seja de idéias. Nem tudo é bom ou instigante, claro. Mas nem tudo é mediado pela síndrome "novidadeira".
Os debates servem de termômetro. É em intercâmbio de conhecimento que se fala quando se discutem termos como diversidade cultural ou inclusão social por meio da cultura.
O que se depreende disso tudo é que a "cultura oficial" destes tempos, aquela que (acha que) dita o que tem valor é cada vez mais uma nau desgovernada. E que o muro de lamentações da cultura tem chances de ser, breve, só as ruínas de um tempo bom de esquecer.
O Mercado Cultural tem dado sua contribuição para isso. Com a responsabilidade de ser só a "maquete" do que virá no Fórum Cultural Mundial, no ano que vem.


O jornalista Israel do Vale viajou a convite da organização do Mercado Cultural


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