|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÍTICA CULTURAL
Em feira em Salvador, lógica prevalece sobre programação
Mercado Cultural revê "eventismo"
ISRAEL DO VALE
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
Não há espetáculo capaz de
exprimir o sentido de um
"não-evento" como o Mercado
Cultural de Salvador. Por excepcional que ele seja.
Seria fácil dizer que uma artista
como a cantora suíça Laurence
Revey aprisiona os sentidos da
platéia de maneira pouco palpável, em seus devaneios ancestrais
e mântricos. Que o grupo percussivo paulistano Barbatuques, em
sua inusitada sinfonia de tabefes
no próprio corpo, seduz pela
cumplicidade lúdica.
Mas nenhum dos atributos ou
atrações, isoladamente ou em
conjunto, poderia ser a súmula do
que seja peregrinar pelo sem-número de espetáculos, mostras ou
debates nestes seis dias que terminaram ontem. Porque no Mercado o que está em questão não é a
programação, mas a lógica.
Com orçamento comparável ao
dos maiores festivais culturais do
país, uma multiplicidade de atrações idem e um caleidoscópio de
idéias de tirar o fôlego, o Mercado
Cultural cumpre papel preponderante na necessária revisão da era
do eventismo.
Mesmo que se trafegue no limite de raciocínio do "showbiz" (o
que move as pessoas até Salvador
é a perspectiva de "gerar negócios"), há um conceito por fora,
que talvez possa ser resumido na
imagem do escambo -seja de
produtos, seja de idéias. Nem tudo é bom ou instigante, claro. Mas
nem tudo é mediado pela síndrome "novidadeira".
Os debates servem de termômetro. É em intercâmbio de conhecimento que se fala quando se discutem termos como diversidade
cultural ou inclusão social por
meio da cultura.
O que se depreende disso tudo é
que a "cultura oficial" destes tempos, aquela que (acha que) dita o
que tem valor é cada vez mais
uma nau desgovernada. E que o
muro de lamentações da cultura
tem chances de ser, breve, só as
ruínas de um tempo bom de esquecer.
O Mercado Cultural tem dado
sua contribuição para isso. Com a
responsabilidade de ser só a "maquete" do que virá no Fórum Cultural Mundial, no ano que vem.
O jornalista Israel do Vale viajou a convite da organização do Mercado Cultural
Texto Anterior: 450 anos: Pensadores passeiam pela "pré-história" de SP Próximo Texto: DVD: MTV transforma "Neurônio" em video game Índice
|