São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2006

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Sala digital inicia "revolução" silenciosa

É aberto hoje em SP o primeiro cinema do país com o padrão de projeção que torna obsoleto o filme de 35 mm

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

A rede Cinemark (maior do país) inaugura hoje em São Paulo a primeira sala do país equipada com o projetor digital que deverá se tornar o padrão dominante no mundo.
A mudança não é só tecnológica. Terá reflexos no modo de programar as salas e, portanto, na oferta de filmes ao público.
A tecnologia digital tem para os distribuidores de filmes a vantagem de dispensar a necessidade das cópias em 35 mm (em geral feitas às centenas, para os grandes lançamentos) e os custos para transportá-las.
Além de remodelar a engenharia financeira do negócio da distribuição, o digital altera a relação de forças do setor com os exibidores, que não querem abrir mão da autonomia para programar as próprias salas.
Com tanto em jogo, a substituição do modelo levou anos de negociação entre os gigantes da indústria nos EUA -os maiores estúdios e os maiores exibidores- até ser concluída, no ano passado, com um acordo que apontou o tipo de projetor importado agora pela Cinemark como padrão e deixou a conta da transformação das salas nas mãos dos maiores interessados na troca -os estúdios.
Como há dúvida no mercado de cinema sobre até onde essa mudança vai chegar, Valmir Fernandes, presidente da Cinemark no Brasil, é cauteloso em relação à própria inauguração.
"Por um lado, é o início da transição [tecnológica no Brasil]. Quer queira, quer não, esse é o primeiro projetor da América do Sul com a sofisticação tecnológica e o padrão de qualidade que os estúdios americanos definiram como aceitável", diz.
Esse padrão é muito superior ao das projeções digitais hoje realizadas no Brasil. Mas Fernandes pondera: "Não podemos considerar esse como o primeiro passo de vários que se seguem, porque os que se seguem não estão definidos".
No Brasil, a negociação sobre quem paga a conta da mudança ainda não foi feita, como observa o especialista em tecnologia digital Luiz Gonzaga De Luca, do grupo Severiano Ribeiro.
Não é fácil especificar a vantagem da mudança para o público. Sobre a superioridade da projeção, Fernandes é novamente cauteloso. "Vou dizer o quê? Que o 35 mm é ruim? O diferencial é que a qualidade do digital não se altera com o tempo." Já De Luca é taxativo: "O espectador pode até não perceber, mas a qualidade de imagem e som [nesse padrão digital] é muito melhor", afirma.
Para a inauguração de hoje (nove salas no Shopping Eldorado, sendo uma com projetor digital), a Cinemark acentua a possibilidade dada pela projeção digital de exibições em 3D -testada pela Folha.
Com auxílio de óculos entregues na entrada da sala, personagens e objetos da animação "A Casa Monstro" foram vistos com volume e profundidade.
O público desfruta mais da sessão, mas paga mais por isso. As projeções em 3D terão ingresso mais caro (hoje, R$ 20). O padrão luxuoso do Cinemark Eldorado, com área wi-fi grátis, indica a aposta num público mais exigente e mais abonado -outra tendência em curso.


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