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Sala digital inicia "revolução" silenciosa
É aberto hoje em SP o primeiro cinema do país com o padrão de projeção que torna obsoleto o filme de 35 mm
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
A rede Cinemark (maior do
país) inaugura hoje em São
Paulo a primeira sala do país
equipada com o projetor digital
que deverá se tornar o padrão
dominante no mundo.
A mudança não é só tecnológica. Terá reflexos no modo de
programar as salas e, portanto,
na oferta de filmes ao público.
A tecnologia digital tem para
os distribuidores de filmes a
vantagem de dispensar a necessidade das cópias em 35 mm
(em geral feitas às centenas, para os grandes lançamentos) e os
custos para transportá-las.
Além de remodelar a engenharia financeira do negócio da
distribuição, o digital altera a
relação de forças do setor com
os exibidores, que não querem
abrir mão da autonomia para
programar as próprias salas.
Com tanto em jogo, a substituição do modelo levou anos de
negociação entre os gigantes da
indústria nos EUA -os maiores estúdios e os maiores exibidores- até ser concluída, no
ano passado, com um acordo
que apontou o tipo de projetor
importado agora pela Cinemark como padrão e deixou a
conta da transformação das salas nas mãos dos maiores interessados na troca -os estúdios.
Como há dúvida no mercado
de cinema sobre até onde essa
mudança vai chegar, Valmir
Fernandes, presidente da Cinemark no Brasil, é cauteloso em
relação à própria inauguração.
"Por um lado, é o início da
transição [tecnológica no Brasil]. Quer queira, quer não, esse
é o primeiro projetor da América do Sul com a sofisticação tecnológica e o padrão de qualidade que os estúdios americanos
definiram como aceitável", diz.
Esse padrão é muito superior
ao das projeções digitais hoje
realizadas no Brasil. Mas Fernandes pondera: "Não podemos considerar esse como o
primeiro passo de vários que se
seguem, porque os que se seguem não estão definidos".
No Brasil, a negociação sobre
quem paga a conta da mudança
ainda não foi feita, como observa o especialista em tecnologia
digital Luiz Gonzaga De Luca,
do grupo Severiano Ribeiro.
Não é fácil especificar a vantagem da mudança para o público. Sobre a superioridade da
projeção, Fernandes é novamente cauteloso. "Vou dizer o
quê? Que o 35 mm é ruim? O diferencial é que a qualidade do
digital não se altera com o tempo." Já De Luca é taxativo: "O
espectador pode até não perceber, mas a qualidade de imagem e som [nesse padrão digital] é muito melhor", afirma.
Para a inauguração de hoje
(nove salas no Shopping Eldorado, sendo uma com projetor
digital), a Cinemark acentua a
possibilidade dada pela projeção digital de exibições em 3D
-testada pela Folha.
Com auxílio de óculos entregues na entrada da sala, personagens e objetos da animação
"A Casa Monstro" foram vistos
com volume e profundidade.
O público desfruta mais da
sessão, mas paga mais por isso.
As projeções em 3D terão ingresso mais caro (hoje, R$ 20).
O padrão luxuoso do Cinemark
Eldorado, com área wi-fi grátis,
indica a aposta num público
mais exigente e mais abonado
-outra tendência em curso.
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