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"Dostana" desafia tabus de Bollywood
Comédia sobre gays em Miami custou US$ 10 milhões e foi vista por 2 milhões em apenas duas semanas
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A MUMBAI
Dois rapazes musculosos à
procura de casa em Miami inventam que são namorados para poder dividir um apartamento dos sonhos. Só que os falsos gays se apaixonam pela
proprietária do apê, uma editora de moda cercada de gays
reais, que podem colocar a
identidade deles em perigo.
Com 2 milhões de espectadores em duas semanas de exibição, a comédia "Dostana" (amizade, em hindu) é o maior sucesso da temporada de Bollywood, a bilionária indústria do
cinema da Índia. Em tempos de
luto pelos atentados em Mumbai, as platéias se divertem com
a confusão sexual do filme.
As produções de Bollywood
vivem uma fase de comportado
desbunde, depois de décadas de
conservadorismo naftalínico.
Moças de biquíni, algo ainda raríssimo nas praias indianas, viraram lugar comum em produções recentes, assim como moços sem camisa e de cueca em
cena, que parecem saídos de
novela das sete no Brasil. Até
beijo na boca, um tabu local, começou a aparecer.
"O público indiano está menos conservador, e os produtores se arriscam mais. Por meio
de uma comédia frívola, falamos de tolerância, e até a conservadora mãe de um dos personagens acaba aceitando o namorado do filho", disse à Folha
Arun Nair, um dos produtores
de "Dostana".
"Na Índia, homossexualidade ainda é crime, então um filme despretensioso como este
acaba sendo avançado."
Beijo na boca
Nem todo mundo celebra as
novidades. O ator Zayed Khan
declarou que se sentiu "desconfortável" ao ver na tela o beijo
que sapecou na atriz Amrit Moghera no filme "Yuwraaj".
"Sou um homem de família,
minha mulher estava vendo o
filme comigo. O diretor insistiu
no beijo." A mulher de Khan,
Malaika, disse que "nem ligou".
Dos musicais mambembes
de alguns anos atrás, Bollywood começa a caprichar nos
orçamentos. "Dostana" custou
US$ 10 milhões e foi inteiramente rodado em Miami. As bilheterias do país movimentam
US$ 1,5 bilhão por ano.
Os filmes são distribuídos em
países com numerosas populações indianas, como Estados
Unidos e Reino Unido, além de
serem consumidos por Paquistão, Oriente Médio e Rússia.
"Na Índia, o cinema é a principal forma de entretenimento.
Temos poucos parques, o povo
tem poucas opções de diversão.
É o melhor lugar para casais de
namorados se encontrarem,
num país ainda conservador",
diz Nair. O preço dos ingressos
varia entre 100 e 250 rúpias (R$
4 e R$ 10).
No gigante asiático, Hollywood ainda não tem vez. Bollywood domina 90% do mercado.
Na Índia, são vendidos 3,5 bilhões de ingressos por ano (3,1
por habitante, quase 7 vezes a
mais per capita que no Brasil).
Mas o produtor Nair revela admiração pelo cinema brasileiro.
"Não fazemos nada como "Cidade de Deus", um dos melhores filmes que já vi", diz. "O cinema indiano ainda não faz filmes tão avançados."
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