São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2008

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"Dostana" desafia tabus de Bollywood

Comédia sobre gays em Miami custou US$ 10 milhões e foi vista por 2 milhões em apenas duas semanas

RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A MUMBAI

Dois rapazes musculosos à procura de casa em Miami inventam que são namorados para poder dividir um apartamento dos sonhos. Só que os falsos gays se apaixonam pela proprietária do apê, uma editora de moda cercada de gays reais, que podem colocar a identidade deles em perigo.
Com 2 milhões de espectadores em duas semanas de exibição, a comédia "Dostana" (amizade, em hindu) é o maior sucesso da temporada de Bollywood, a bilionária indústria do cinema da Índia. Em tempos de luto pelos atentados em Mumbai, as platéias se divertem com a confusão sexual do filme.
As produções de Bollywood vivem uma fase de comportado desbunde, depois de décadas de conservadorismo naftalínico. Moças de biquíni, algo ainda raríssimo nas praias indianas, viraram lugar comum em produções recentes, assim como moços sem camisa e de cueca em cena, que parecem saídos de novela das sete no Brasil. Até beijo na boca, um tabu local, começou a aparecer.
"O público indiano está menos conservador, e os produtores se arriscam mais. Por meio de uma comédia frívola, falamos de tolerância, e até a conservadora mãe de um dos personagens acaba aceitando o namorado do filho", disse à Folha Arun Nair, um dos produtores de "Dostana".
"Na Índia, homossexualidade ainda é crime, então um filme despretensioso como este acaba sendo avançado."

Beijo na boca
Nem todo mundo celebra as novidades. O ator Zayed Khan declarou que se sentiu "desconfortável" ao ver na tela o beijo que sapecou na atriz Amrit Moghera no filme "Yuwraaj".
"Sou um homem de família, minha mulher estava vendo o filme comigo. O diretor insistiu no beijo." A mulher de Khan, Malaika, disse que "nem ligou".
Dos musicais mambembes de alguns anos atrás, Bollywood começa a caprichar nos orçamentos. "Dostana" custou US$ 10 milhões e foi inteiramente rodado em Miami. As bilheterias do país movimentam US$ 1,5 bilhão por ano.
Os filmes são distribuídos em países com numerosas populações indianas, como Estados Unidos e Reino Unido, além de serem consumidos por Paquistão, Oriente Médio e Rússia.
"Na Índia, o cinema é a principal forma de entretenimento. Temos poucos parques, o povo tem poucas opções de diversão. É o melhor lugar para casais de namorados se encontrarem, num país ainda conservador", diz Nair. O preço dos ingressos varia entre 100 e 250 rúpias (R$ 4 e R$ 10).
No gigante asiático, Hollywood ainda não tem vez. Bollywood domina 90% do mercado.
Na Índia, são vendidos 3,5 bilhões de ingressos por ano (3,1 por habitante, quase 7 vezes a mais per capita que no Brasil). Mas o produtor Nair revela admiração pelo cinema brasileiro. "Não fazemos nada como "Cidade de Deus", um dos melhores filmes que já vi", diz. "O cinema indiano ainda não faz filmes tão avançados."


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