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Galeria reúne obras recentes de Ohtake
Telas e esculturas representam atual produção da artista, que tem 95 anos
Na galeria Nara Roesler, trabalhos evidenciam liberdade nas linhas que saltam das paredes e
depuração das cores
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Não cabem nos quadros as linhas de Tomie Ohtake. Elas
saltam nervosas das paredes:
são tubos metálicos que pegaram emprestado o pigmento
das telas para trilhar no espaço
um caminho mais expansivo.
"Essa exposição tem todo o
meu pensamento", diz Ohtake à
Folha. Depois de
20 bienais e mais
de 200 exposições, é a primeira
vez que a artista
de 95 anos expõe
lado a lado pinturas e esculturas,
na mostra individual que a galeria
paulistana Nara
Roesler abre hoje
à noite.
Ohtake destrincha a linha e o
plano em 14 telas
e seis esculturas.
É uma continuidade que se estabelece entre a tela, a ilusão dos
planos em sucessão, e os planos
reais do cubo
branco: um pensamento único
sobre a forma como manifestação
concreta e sua representação.
"Escultura é forma", define
Ohtake. "Pintura é forma que
não vem só de dentro, que depende da tinta, da cor, da mistura da tinta." Talvez por isso
seja tão espontâneo o emaranhado de linhas, que ganha o
espaço físico, e tão pensativas
as pinturas, como que filtradas
pela experiência do dia-a-dia
da artista no ateliê.
"É como um diário, como se
eu desenhasse a minha vida todos os dias", descreve Ohtake.
"Meu pensamento interno não
é todo igual, a forma é diferente, mas é do mesmo lugar que
está saindo tudo isso."
Teoria e graça
Logo na entrada da galeria,
uma tela em tons de azul, com
várias camadas transparentes
de tinta, mostra bem essa depuração radical das cores, processo tão demorado que não cabe
nas linhas mais viscerais, desgovernadas das esculturas.
São obras que se bifurcam
entre a abstração cerebral, como registro de uma estratégia a
ser seguida, e a
graça da liberdade.
A artista aqui se
permite oscilar
entre padrões dos
anos 80 e um recurso à estridência
de tons, do azul
profundo ao vermelho sangüíneo.
"Acho que são as
cores da minha vida", diz Ohtake.
"Pensamentos
têm cor e forma, os
dois juntos."
Por isso, todas
as linhas borradas,
apagadas ou refeitas, são rastros das
que ficaram, uma
estrutura apegada
à memória. No
conjunto de telas
exposto na segunda sala da galeria,
os campos luminosos de cor acabam formando silhuetas orgânicas,
margeadas pelas
linhas que, na parede oposta, aparecem na forma de esculturas.
"Eu penso no espaço, no ambiente", afirma Ohtake, que extravasa as dimensões para desenrolar aqui suas camadas de
tramas. "Adoro a liberdade."
TOMIE OHTAKE
Quando: abertura hoje, às 20h; de
seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das
11h às 15h
Onde: Nara Roesler (av. Europa, tel.
0/xx/11/3063-2344)
Quanto: entrada franca
Classificação indicativa: livre
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