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crítica/ cinema/"Quando Você Viu Seu Pai pela Última Vez?"
Melodrama sobre a perda da figura paterna só reúne clichê psicanalítico
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
"Uma história verdadeira": anuncia o
letreiro antes da
primeira imagem de "Quando
Você Viu Seu Pai pela Última
Vez?". O procedimento é apenas a primeira da longa série de
obviedades que ocupará o tempo do espectador durante os 92
minutos seguintes da projeção.
Nem seria preciso alertar que
se trata de história verdadeira.
Talvez fosse mais pertinente
ter um alerta do tipo "uma história banal", pois é disso que se
trata. Nela acompanhamos os
sofrimentos de Blake, um escritor de meia-idade confrontado
com o anúncio da morte iminente do pai, vítima de câncer.
É hora então de Blake rememorar seu relacionamento com
a figura paterna, seu permanente desajuste diante de um
homem brincalhão, que preferia não levar a vida tão a sério,
em contraste com o filho, mergulhado em leituras como "Os
Irmãos Karamazov", de onde
retira munição para sua guerrilha psíquica contra o pai.
Com doses cavalares de clichês psicanalíticos, o filme
avança num território do qual,
pela evidência de outros sinais,
nem se preocupa se destacar. A
morte de um ente querido é o
mais eloqüente de seu pertencimento à zona do melodrama,
com a manipulação emocional
típica do gênero. Ao tema se
agrega uma trilha sonora excessivamente melosa, em que
violinos em profusão nos alertam sem trégua de que estamos
diante de um "filme sensível".
Ou seja, isso exclui o espectador que exige estratégias de
sensibilização além das óbvias.
Na falta delas, resta acompanhar, sem nunca conseguir alcançar a necessária empatia, as
transformações pessoais de
Blake durante a adolescência.
Garoto tímido, inábil e, por
conseqüência, solitário, Blake
expressa aquela fase típica da
vida em que parece faltar no
mundo um espaço de sobrevivência imune à selva de afetos
familiares que sempre parecem
inadequados. Quando emerge
sua sexualidade, Blake a exercita também de modo solitário, já
que seu "problema" de comunicação não se reduz às dificuldades com a figura paterna.
Graças à entrada em cena de
Matthew Beard, jovem ator que
injeta vigor na projeção da opacidade típica da adolescência, o
longa ganha um pouco de interesse em seu miolo.
Como melodrama, contudo,
o filme exige uma resolução
que todos sabemos de antemão
que deve culminar no ritual de
despedida. Diante da perda do
pai, Blake adulto se encontrará,
ainda uma vez, sozinho, com
fantasmas de outra ordem.
Com tanto peso nas costas, o
filme não se decide se opta pela
ironia ou se assume de vez o
sentimentalismo. Termina disfarçando-se de "sensível", sem
chegar a ser convincente.
A estratégia fracassa de vez
em quando, na cena final, que
justifica a pergunta do título, a
história enfatiza seu didatismo
com a mais banal das mensagens, na linha "lição de vida".
Melhor o espectador se poupar
de tamanho constrangimento.
QUANDO VOCÊ VIU SEU PAI PELA ÚLTIMA VEZ?
Produção: Reino Unido/Irlanda, 2007
Direção: Anand Tucker
Com: Colin Firth e Jim Broadbent
Onde: Cine Bombril
Classificação: 14 anos
Avaliação: ruim
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