São Paulo, terça-feira, 09 de janeiro de 2001

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ROCK IN RIO 3

Diretor da Tenda Raízes, Toy Lima, afirma ter buscado artistas pop, que se distanciassem dos clichês étnicos

Festival toca "versão FM" da world music

DA REPORTAGEM LOCAL

Liberado das convenções comerciais que permeiam grande parte da escalação do Rock in Rio 3, o diretor artístico da Tenda Raízes, Toy Lima, 47, afirma que reuniu um elenco de world music "catado a dedo".
"Assisti a muita coisa para escolher, vi shows de todos os selecionados. O trato com Roberto Medina era de total liberdade, e não sofri nenhuma interferência. Desconsiderei qual era a gravadora de cada artista", diz Lima, produtor ligado ao jazz e, nos últimos anos, a elencos world music de eventos como o Heineken Concerts.
Sua tenda vai funcionar em todos os dias do festival, com shows diurnos e noturnos agendados para os intervalos das apresentações do palco principal. Seis nomes nacionais e 17 estrangeiros se alternarão em 42 apresentações de, em média, 40 minutos cada, seis shows por dia de festival.
Toy Lima destaca, a pedido da Folha, as atrações em que faz suas principais apostas: "O grupo Värttina, da Finlândia, foi até há pouco o maior nome da world music e inclui rock e tecno. O Dervish, da Irlanda, é celebratório, promove uma espécie de transe, é muito louco. O grupo Sintesis, de Cuba, é inusitado, não tem nada a ver com os velhinhos do Buena Vista Social Club, faz um som pesado. Thierry Robin, da Bretanha, faz um som difícil, mas hipnotizante".
O produtor explica suas intenções na direção da Tenda Raízes: "Teremos artistas badalados na Europa, mais conhecidos lá que Gil ou Caetano ou Chico Buarque. Não tem nada a ver com o étnico ou com o folclórico. As pessoas pensam que vão encontrar algo como gente tocando na jaula, não é nada disso. É música que toca nas rádios, o som pop de cada país. A dupla Amadou et Mariam, de Mali, por exemplo, toca blues e rhythm'n'blues".
Prossegue: "Procurei explorar uma visão bem mais moderna da world music. Temos até rock pesado, só que catalão, feito pela Companiya Eléctrica Dharma". Quanto ao elenco brasileiro (que traz Uakti, Mawaca e Anima, entre outros), bem mais reduzido:
"A intenção inicial era que fossem três nomes, o que acabamos dobrando. Escolhi artistas que coubessem em qualquer festival internacional moderno de world music. Os festivais hoje não privilegiam mais o étnico, mas uma música que possa ser reconhecida, com suas peculiaridades, em quase todos os lugares".
Por falar nisso, o que achou da indicação de João Gilberto para o Grammy na categoria world music? "Sinceramente, não acho que os brasileiros com influência de jazz tenham a ver com essa categoria. João Gilberto não deveria estar ali. O Grammy é uma coisa esquisita, acho uma baboseira."
De forma análoga, rechaça a idéia de incluir na Tenda Raízes algum artista do porte pop do argelino Khaled:
"Khaled jamais tocaria nessa tenda. Ele faz sucesso na Europa há muitos anos, já é pop. Faz um popão sem-vergonha. Os outros caras que fazem rai, que é uma espécie de rap do Magreb, querem matar o Khaled". Toy Lima trouxe Khaled ao Brasil em 2000.
Fala da dificuldade de preencher os 1.600 lugares da Tenda Raízes num festival orientado ao rock'n'roll e ao pop comercial: "Dá frio na barriga, será que as pessoas vão se interessar? Pode ser uma surpresa. Acredito que o público seja curioso para passar por ali durante um intervalo e que, fazendo isso, se reconheça. Acho que causará certo espanto".


Leia mais sobre o festival no www.folha.com.br/rockinrio


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