O Brasil tem um histórico relativamente sólido em música de câmara. Ela surgiu com a produção doméstica de uma sociedade que se urbanizava, com a importação de pianos no século 19, com a chegada dos professores italianos de violino e de flauta.
Mas há uma novidade na área. Os novos grupos (mesmo discriminados pelos programadores de concertos) são hoje mais numerosos, de uma erudição musical menos provinciana. Não perdem na comparação para europeus ou norte-americanos. O mercado discográfico registra agora ao menos quatro bons exemplos disso.
O primeiro é o Quinteto D'Elas, formação paulista integrada só por mulheres e que já havia gravado peças da francesa Cecile Chaminade (1857-1944). Agora, traz quintetos de Johann Ladislaw Dussek (1760-1812), Fernand Ries (1784-1838) e Johann Nepomuk Hummel (1778-1839), três belos compositores eclipsados por gênios que lhes foram mais ou menos contemporâneos, como Beethoven e Schubert.
O chocante na gravação que traz como spalla Betina Stegmann é a precisão da leitura, a maneira uniforme com que as cinco músicas concebem cada partitura. Elas têm uma mesma concepção dos fraseados, a mesma maneira sutil de acentuar os temas expostos, de mergulhar com comedimento nas frases com notas de cordas ligadas, o que dá, no conjunto, uma certa austeridade que é muito recente na história da interpretação de peças românticas.
São qualidades que apenas músicos muito bons conseguem demonstrar. É o caso de Stegmann e também de Adriana Schincariol (viola), Marialbi Trisolio (violoncelo), Ana Valéria Poles (contrabaixo) e Helena Scheffel (piano).
O segundo CD -"Paisagem Brasileira"- traz o flautista Marcelo Barboza e a pianista Lídia Bazarian. É uma gravação feita em Londres e já distribuída na Europa e nos Estados Unidos.
Piano e flauta nem sempre se enquadram na forma sonata na tradição brasileira. Mas foi com essa formação que surgiram, a partir do início do século 20, peças preciosas -de Pattapio Silva, Francisco Braga, Camargo Guarnieri, Radamés Gnatalli- pouco ou nunca gravadas.
Barboza, que se especializou em seu instrumento na Inglaterra, e Bazarian, que estudou na França, conseguem no repertório dosar as dimensões erudita e popular. São austeros cameristas que embarcam com felicidade em harmonias nas quais pulsam formas explícitas de brasilidade.
Num outro CD -"Flute Fantasies"- dois flautistas, o brasileiro José Ananias e o francês Benoit Fromanger, interpretam com a Orquestra de Câmara Villa-Lobos cinco peças bastante conhecidas, de autoria de Bellini, Gounot, Taffanel, Rossini e Carlos Gomes.
Ocorre um casamento perfeito das flautas com as cordas. As partituras são muitíssimo bem escritas, mas há sobretudo o fato de os solistas optarem pelo "low profile". Integram-se à sonoridade das cordas, em lugar de tomá-las como acompanhantes. O resultado é uma homogeneidade bonita.
Há por fim, e de lançamento menos recente, um CD com formação inusitada: o piano, interpretado por Káthia Bonna, dona de um belíssimo fraseado, faz duo, num repertório de nove compositores brasileiros, com o trombone de Wagner Politstchuk, um intérprete simplesmente magistral.
Dois destaques entre as peças escolhidas: a "Fantasia", de Cláudio Santoro, e a "Humoresca", de José Alberto Kaplan.

Quinteto D'Elas Volume 2
    
Artista: Quinteto D'Elas
Lançamento: Paulus, 2000
Quanto: R$ 23 (em média)

Paisagem Brasileira
   
Artista: Marcelo Barboza e Lídia Bazarian
Lançamento: Meridian Records, 2000
Quanto: R$ 23 (em média)

Flute Fantasies
   
Artista: José Ananias e Benoit Fromanger
Lançamento: Paulus, 2000
Quanto: R$ 23 (em média)

Música Brasileira para Trombone e Piano
    
Artista: Wagner Politstchuk e Káthia Bonna
Lançamento: Axis, 1999
Quanto: R$ 23 (em média)


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