São Paulo, terça-feira, 09 de janeiro de 2001

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TEATRO


Peça do americano Eric Bogosian é lida hoje em ciclo da Folha e dirigida por Francisco Medeiros, um dos tradutores

"SubUrbia" quer retratar juventude sem retoques



VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL


São sete americanos, com 20 e poucos anos, que bebem cerveja, comem pizza, curtem música pop, gostam de sexo ("oh, yeah!") e, entre um baseado e outro, especulam sobre o que esperam (ou não) de suas vidas.
Eis um breve recorte de "SubUrbia" (94), a peça do ator e dramaturgo americano Eric Bogosian, atração de hoje no ciclo "Leituras de Teatro" promovido pela Folha em seu auditório.
Bogosian é um dos autores contemporâneos mais prestigiados no circuito "off off" dos Estados Unidos, apesar de ter conquistado a "fama" a partir da adaptação de outra peça sua para o cinema, "Talk Radio" (88, filme dirigido por Oliver Stone; "SubUrbia" também chegaria às telas em 96, por Richard Linklater).
No Brasil, a adaptação da peça é assinada por seis mãos e envolve o escritor Marcelo Rubens Paiva, a atriz Rosana Seligmann e o diretor Francisco Medeiros.
O diretor adquiriu os direitos do texto em 94, quando viu a primeira montagem do espetáculo no Lincoln Center Theater, em Nova York. Mas só agora conseguiu viabilizar a produção, estimulado por Rosana e pelo ator Beto Magnani.
"Bogosian faz uma autocrítica impiedosa da sociedade americana, apresenta o tédio da juventude contemporânea com uma dimensão humana que lembra Tchecov", diz Medeiros, 52, referindo-se ao dramaturgo russo Anton Tchecov ("O Jardim das Laranjeiras", "As Três Irmãs").
Medeiros também destaca o elemento de suspense que Bogosian injeta em seu texto, esculpido pelo ódio disseminado por um dos personagens, Tim, o mais desiludido, que dispara sua metralhadora verbal sem concessão.
Os sete jovens de "SubUrbia" elegem como território ("casa") comum o estacionamento de uma loja de conveniência, dessas como a 7 Eleven, num subúrbio qualquer dos Estados Unidos.
Juntam-se a eles um velho amigo cantor de rock, o único que, em tese, "vingou na vida". Em tese.
Entre as reminiscências e projeções (uma garota quer estudar artes cênicas em Nova York, outro rapaz quer produzir seu primeiro vídeo), eles compartilham afetos e desafetos. Ora entre si, ora com os donos da loja, dois irmãos imigrantes paquistaneses (um rapaz e uma garota), vítimas e algozes do preconceito racial.
"O mais curioso é que tudo se passa no país mais rico do mundo, que dá mais liberdade às pessoas, para onde todo imigrante quer ir", afirma o escritor Marcelo Rubens Paiva, 41.
Apesar da perspectiva americana do texto, Rosana Seligmann, 31, afirma que o conteúdo da peça é universal, para além do tripé sexo, drogas e rock'n'roll. "Quando li, achei que tinha a ver comigo, com a minha geração. Todo mundo quer fazer arte, mas não sabe o que quer dizer com sua arte."
Rosana também participa hoje da leitura da peça, ao lado de Karina Barum, Beto Magnani, Marcos Damigo, Luciano Gatti, Rita Martins, Barbara Paz, André Custódio e Júlio Pompeu. O diretor Medeiros vai ler as rubricas.
O evento acontece às 19h30, no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, SP). A entrada é franca. Os interessados devem fazer reservas, das 14h às 17h, pelo tel. 0/xx/11/ 3224-3473.
A montagem de "SubUrbia" estréia no Sesc Anchieta, em São Paulo, no dia 18.



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